A Galiza, a norte de Portugal, é uma espécie de irmão mais velho do nosso país ou, para sermos mais honestos, o irmão separado à nascença. A história comum entre a Galiza e Portugal fez com que os seus povos adquirissem uma cultura muito semelhante que pode ser comprovada nas suas tradições, na língua galega, na gastronomia e até nas suas aldeias, vilas e cidades.
Visitar a Galiza é, portanto, visitar uma parte de nós próprios. A simpatia e a amabilidade do povo galego irão fazê-lo sentir-se em casa. Seja nas grandes cidades como Vigo, Lugo, Ourense, Santiago de Compostela, Corunha, Pontevedra ou Ferrol, ou seja em pequenas aldeias, encontrará sempre uma cara amiga e pronta para o receber.
A Galiza está repleta de belas praias, embora com água um pouco fria. Pode ainda encontrar cidades com centros históricos bem conservados, monumentos romanos como a Torre de Hércules, parques naturais (como o prolongamento galego do nosso Parque Nacional da Peneda Gerês) e pequenas aldeias típicas onde poderá sentir ainda o peso das tradições de antigamente.
As semelhanças com o norte de Portugal são tantas que na Galiza até pode encontrar estruturas iguais aos nossos espigueiros, aos quais eles chamam Horreos. Descubra os melhores locais para visitar na Galiza!
1. Vigo
Conta Júlio Verne que o segredo melhor guardado do Capitão Nemo está em Vigo. Sabia que era aqui que o navio Nautilus vinha para se abastecer de ouro? Na ria de Vigo há dúzias de galeões afundados carregados de ouro das Américas. Tesouros que ainda não viram a luz. Mas também há tesouros ao alcance de todos. Como passear pelo Centro Histórico e provar umas ostras n’A Pedra. Ou um dia de praia em Samil. Ou o Parque de Castrelos, com o seu paço e jardins. Ou uma excursão de barco ao paraíso das ilhas Cíes. Ou passear por ruas repletas de elegantes camélias. Ou subir ao Castro para ver um impressionante pôr-do-sol. E para os que se sentem jovens, a lendária noite viguesa… Aberta até ao amanhecer. Isto é Vigo, a maior cidade da Galiza. Uma cidade moderna e empreendedora, aberta ao mundo.

O visitante de Vigo tem uma oportunidade única de encontro com a natureza virgem: a de conhecer as Ilhas Cíes. São três ilhas situadas na entrada da Ria de Vigo e fazem parte do Parque Nacional Marítimo Terrestre das Ilhas Atlânticas da Galiza. Têm um parque de campismo e transporte regular na época alta que transporta os turistas até ao arquipélago, com várias viagens ao longo do dia, embora devamos ter presente que há uma limitação de visitantes por dia, para reservar com tempo a travessia. Sítio ideal para gozar de um ambiente natural em praias paradisíacas. Grande riqueza paisagística, de fauna (em especial aves marinas) e flora.
2. Santiago de Compostela
Património da Humanidade desde 1985, há séculos que Santiago de Compostela atrai visitantes e peregrinos do mundo inteiro. É a cidade mais cosmopolita da Galiza, mas toma isto com naturalidade, por isso, logo a partir do primeiro momento sente-se que se faz parte da mesma. Aqui há de tudo. No centro histórico, a Catedral e o Pórtico da Glória. Praças emblemáticas como a do Obradoiro, a Quintana e a d’O Toural. Dezenas de igrejas, conventos e palácios. Românico, gótico e barroco. E também lojas, bares, restaurantes e um bonito Mercado Hortícola a transbordar de produtos frescos. Além disso, em pleno centro, a Alameda com as suas árvores de camélias e o Passeio da Herradura, com uma estupenda vista da catedral. E nas margens do Sar, a Colexiata de Santa Maria e as suas impossíveis colunas inclinadas. Santiago é grande. E assim nos faz sentir.

O visitante de Santiago não deve perder a oportunidade de subir às coberturas da Catedral. A visita aos telhados do templo era já recomendada no Códex Calixtinus para se poder apreciar a sua esplêndida beleza. O que nós podemos acrescentar é que das mesmas se pode ver grande parte do conjunto histórico e da parte nova da cidade, bem como dos arredores de Santiago, do Monte Pedroso ao do Gozo, tornando-se num miradouro excepcional. Vista de cima, Santiago pode-se compreender melhor, tornando-se ao mesmo tempo mais verdadeira e mais mítica. Das coberturas, podemos ver a Cruz dos Farrapos, aos pés da qual os peregrinos medievais queimavam as roupas velhas do caminho, numa espécie de ritual purificador. É também um sítio óptimo para apreciar as fases de construção do templo e os diversos estilos arquitectónicos empregues até se conseguir o faustoso resultado final.
3. Ourense
Ourense é a cidade da água. Oito pontes atravessam o rio Minho, que no tempo dos romanos era uma mina de ouro. Agora já não há ouro mas sim umas águas muito valiosas: as águas termais. Há-as por toda a cidade e muitas são gratuitas. Como as termas de A Chavasqueira à beira-rio, onde poderá ter o prazer de tomar um banho Zen. As águas brotam também a 65º em pleno centro, na fonte d’Burgas, que com o Santo Cristo e a Ponte Romano, são os símbolos da cidade. Mas, além disso, Ourense tem uma original Praça Mayor… inclinada, e uma zona histórico rica em igrejas e capelas. O Pórtico do Paraíso da Catedral conserva ainda a sua policromia original do século XIII.

E na Capela de San Cosme e San Damián, uma curiosidade desconhecida pelos visitantes: aqui e exposto durante todo o ano o presépio mais surpreendente que jamais viu. E se quiser animação, não se preocupe. Se há alguma coisa de que os ourensáns gostam é de sair à rua. O visitante de Ourense deve impregnar-se com a essência da cidade, ou seja, com o elemento que originou o assentamento, as águas termais. A área termal d’A Chavasqueira-Outariz oferece uma oportunidade insuperável de aproveitar as virtudes das águas mineromedicinais quentes que brotam das diversas burgas existentes no espaço da cidade. Para tal, pode percorrer-se o Passeio Termal, que percorre a margem direita do rio Minho, começando no Campo da Feira e acabando em Outariz. O espaço no qual o passeio se desenrola é invejável, com as margens do rio Minho recuperadas, acondicionadas e de grande valor natural. Este conjunto, com piscinas públicas ao ar livre e ambientes privados, está aberto em qualquer época do ano.
4. Corunha
De dia e de noite, aqui há sempre ambiente. Esta é uma cidade para passear e usufruir, com praias em pleno centro e, presidido pela Torre de Hércules, um longo Passeio Marítimo que a rodeia quase por completo. Os corunheses têm fama de viver bem, portanto, siga os costumes deles. Sente-se numa esplanada na Praça de María Pita e descubra a sua apaixonante história. Ou passeie pelos Cantones e admire as suas famosas galerias de vidro, de estilo modernista. E se quiser ir às compras, este é o local perfeito, sobretudo se quiser vestir-se à moda. Além disso, a Corunha tem excelentes museus como o de Belas Artes, a Casa das Ciências, o Domus ou o Arqueológico, no Castelo de San Antón.

E ao entardecer, nada como o acolhedor e romântico Jardim de San Carlos ou, se preferir animação, os Jardins de Méndez Núñez, em pleno centro. Aqui está o Kiosko Alfonso, hoje em dia sala de exposições e antes um cinema com as salas divididas pelo ecrã, de maneira que se pagava uma entrada mais barata… vendo o filme por trás… Uma das experiências mais inesquecíveis que o visitante pode viver na Corunha e na Galiza é a contemplação de um entardecer visto da Torre de Hércules. O sol vai desaparecendo no Finisterrae atlântico, com uma paisagem de sonho, diante do único farol romano do mundo ainda em funcionamento, que é acompanhado por um parque escultórico com figuras que representam as origens lendárias da torre e da cidade: Ártabros, de Arturo Andrade; Breogán, de Xosé Cid; Caronte, de Ramón Conde; Hércules e Gerión, de Tim Behrens e José Espora; e o bosque de menhires de Manolo Paz. A Torre é obra do início do séc. II do arquiteto de Coimbra Cayo Sevio Lupo. Apresenta o aspeto exterior que em 1791 lhe outorgou a reforma dos engenheiros E. Giannini (autor dos planos) e J. Elejalde.
5. Ribeira Sacra e Desfiladeiro do Sil
Percorra de catamarã os impressionantes Desfiladeiros do Sil e do Minho, adentrando-se noutro mundo. Paragens imponentes com belos mosteiros que durante séculos, afastados do ruído mundano e ao abrigo do clima benigno destas terras, dedicaram o seu tempo e sabedoria a honrar Deus e homens estudando os segredos da videira. Esta é a Ribeira Sacra, o berço do lendário “Amandi”, um vinho tão apreciado pelos romanos que o consideravam o verdadeiro “ouro do Sil”. Um vinho que, séculos mais tarde, os frades beneditinos elaborariam exclusivamente para as adegas dos mais refinados papas. Embora se trate de um dos melhores espaços naturais definidos pelos dois grandes rios, ninguém sabe onde exactamente começa e acaba a Ribeira Sacra. É possível que os seus verdadeiros limites sejam dados pela presença das videiras nas encostas soalheiras. Daqui, saíam os vinhos de Amandi, que alcançaram fama de requintados já em tempos do Império romano, e hoje em dia são abrangidos pela Denominação de Origem que os protege.

Os mosteiros foram secularizados e as águas aquietadas em sucessivas barragens, mas a força da paisagem continua a palpitar em cada colheita dos seus frutos. Admire a difícil vindima nos fortes declives só cultiváveis em socalcos, na melhor amostra de paisagem humanizada sem pressa. Os mosteiros mais próximos do fluir do Sil são os de Santo Estevo de Ribas de Sil e o de Santa Cristina. Ao primeiro, transformado em estabelecimento hoteleiro, chegamos vindos da localidade de Luíntra (Nogueira de Ramuín) ou, se quisermos prolongar o caminho, pelo mosteiro de San Pedro de Rocas (desvio na OU-536 em Tarreirigo, Esgos). O centro de interpretação do cenóbio de Rocas, considerado o primeiro da Galiza, valoriza a visita. Ao de Santa Cristina, chega-se por Parada de Sil por uma estrada de ida e volta. A descida até este mosteiro é feita por entre a densidade de árvores centenárias. Também a partir de Parada de Sil, uma breve pista de terra conduz-nos até ao denominado Balcóns de Madrid. Trata-se de um miradouro sobre o abismo que dá vertigens. E na outra margem do rio, veremos o santuário de Cadeiras (Sober) e a planície de Monforte no horizonte. No caminho, não faltarão outros miradouros, como a andaimada entre Vilouxe e Caxide, onde o desfiladeiro alcança a sua altitude máxima.
6. Pontevedra
“Pontevedra dá de beber a quen pasa” é um dito galego que expressa muito bem a essência desta cidade: a hospitalidade. Esta tradição de acolhimento reflecte-se na Virgem Peregrina, emblema do caminho português para Compostela, honrada pelos pontevedrinos com uma curiosa igreja, monumento nacional, com a planta em forma de vieira! Em Pontevedra, tudo está a um passo. E há tanto para ver… Tesouros de verdade, como a colecção de ourivesaria em ouro do Museu de Pontevedra, única na Europa, com jóias esplêndidas de mais de 4000 anos de antiguidade. E outras jóias mais, a Basílica de Santa Maria, as Ruínas de Santo Domingo e a Igreja de San Bartolomeu.

Mas ainda há mais. Parques, alamedas, passeios pelo rio em plena cidade e um centro histórico que, depois do de Santiago, é o mais importante da Galiza. Arquitectura em pedra com casas brasonadas e habitadas, fontes, praças a transbordar vida e esplanadas com ambiente até de madrugada. Isto é vida. Em Pontevedra já não se dorme. O visitante de Pontevedra não deve abandonar a cidade sem passear pela margem do Lérez, recuperada muito acertadamente para o lazer da cidade, dado que oferece ao caminhante um encanto muito evocador, com recantos muito agradáveis e que chegam a parecer como que retirados de um conto. Na margem Norte aparecem os melhores lugares para passar um bocado agradável e, entre eles, recomendamos encarecidamente a Ilha das Esculturas, na qual se pode saborear um passeio que combina natureza e cultura. Nesta ilha fluvial de 7 hectares pode-se admirar uma variada lista de obras escultóricas de grande tamanho de reputados artistas galegos e não só ao mesmo tempo que se passeia por um espaço natural de grande valor ecológico.
7. Lugo
As festas de Lugo, as Festas de San Froilán, são as mais concorridas da Galiza… e duram quase toda a quinzena de Outubro. Durante este tempo, Lugo converte-se a uma só religião: a do teatro, música, verbenas, cortejos e petiscos! Para muitos, as melhores da Galiza, sobretudo devido às suas riquíssimas especialidades gastronómicas: o polvo, a “carne ao caldeiro” e as apetitosas sobremesas tradicionais lucenses. Lugo é também e, sobretudo, uma cidade com um esplêndido passado romano, como se pode ver na Muralha que a rodeia e que é Património da Humanidade, nas Termas e na Ponte Romana. Não devemos perder a visita à Catedral e à Virgem dos Olhos Grandes, uma bela talha medieval de pedra policromada. E para recuperar forças, um petisco e um vinho de mencía nas concorridas tabernas do centro histórico.

O visitante de Lugo não deverá abandonar a cidade sem fazer alguma parte da rota que começa no Centro de Interpretação da reserva da Biosfera “Terras do Minho” nas margens do rio Fervedoira, e percorrer uns 18 quilómetros pela margem esquerda do Minho até à desembocadura do rio Neira. Nele, pode admirar-se a beleza das margens e a riqueza natural do rio mais importante da Galiza e dos afluentes que nele vão desembocando. Na mesma cidade de Lugo, e fazendo parte deste conjunto, é muito agradável o passeio pelo Parque do Minho, que abrange a franja longitudinal entre a estrada de Madrid (N-VI) e a margem esquerda do rio, desde o bairro d’A Ponte até ao d’A Tolda, na confluência com o rio Fervedoira, nas margens do qual continua o parque periurbano d’O Rato. Um circuito completo assombrado por espécies arbustivas autóctones. A zona de maior acessibilidade parte da estância termal onde, além disso, podemos visitar as termas romanas. O proverbial retiro do Minho acompanha-nos neste trecho do parque que foi concebido em três zonas: uma pedonal, seguindo a linha dos amieiros e da vegetação própria das margens dos rios, outra para bicicletas, de trajecto cómodo, e uma terceira de carros, que comunica três áreas de estacionamento. Tem também bancos e zonas de lazer para os mais pequenos.
8. Praia das Catedrais
Na Galiza, quando a potência do mar e a paciência do tempo se juntam, o resultado é uma obra de arte… a praia das Catedrais, um monumento natural com uma dimensão sobrenatural. Só tem de se esperar pela maré baixa, descalçar-se e começar a andar… e sentir-se na glória. Nada melhor do que passear entre arcobotantes de 30 m de altura, adentrar-se em grutas com cúpulas rematadas por picos, descobrir insólitas perspectivas de arcos dentro de outros arcos. Ou simplesmente, deixar-se levar pelos corredores de areia entre muros de ardósia, como numa imponente e caprichosa nave central. E sempre com os pés na areia e a cabeça no céu. Estamos na catedral do mar. O degrau que a denominada cornija cantábrica forma alcança aqui categoria de monumento geológico. O mar esculpiu nas falésias um verdadeiro repertório arquitectónico de arcos, colunas e abóbadas que levaram a baptizar turisticamente o espaço entre os areais de Augasantas e Carricelas como Praia das Catedrais.

O acesso é fácil. Além disso, tem um passeio arranjado na beira superior e painéis informativos. No entanto, deixar a nossa pegada na areia só é possível durante a maré baixa. Andar pela superfície livre da maré baixa e internar-nos nas grutas marinhas com a autorização momentânea do mar aumenta a sensação da aventura. As Catedrais conseguiram nos últimos anos milhares de fotografias, todas elas com a emoção de um momento irrepetível. Cada imagem é única. Cada visita é diferente. O mar apaga sempre as pegadas anteriores, mas a sucessão de arcos monumentais permanece. Além disso, o espaço protegido dentro da Rede Natura 2000 alcança um lanço costeiro de uns quinze quilómetros de comprimento nos quais podemos encontrar outros belos areais como o d’Os Castros e o pitoresco porto de Rinlo.
9. Torre de Hércules
Localizada na própria cidade de A Corunha, no seu passeio marítimo. Desde a construção pelos romanos, o farol, hoje conhecido como Torre de Hércules, foi um monumento digno de menção. Assim aparece referido nas crónicas romanas e nas fontes posteriores até à actualidade. A singularidade fez com que a Torre se transformasse no símbolo da cidade de A Corunha, sendo assumido por todos os vizinhos e instituições. Agora, o farol mais antigo em funcionamento do mundo, que iluminou com a sua presença e luz milhares de pessoas durante a sua existência, é Património da Humanidade. Farol da época romana (séc. II d.C.), ainda que possa ter existido uma construção fenícia anterior. Foi profundamente restaurado e reabilitado nos séculos XVII e XVIII. Exterior com planta quadrada e janelas. Acede-se ao interior pelas escavações realizadas em torno do farol e à parte superior por uma escada que se converte em escada de caracol no último troço. É visitável e tem um museu no interior.

Ainda há muitas incógnitas sobre a origem e o aspecto primitivo da Torre de Hércules, mas os dados até agora fornecidos e contrastados pela investigação científica (escavações arqueológicas, estudo dos paramentos arquitectónicos e dos métodos construtivos, documentação conservada) permitem garantir que foram os romanos os construtores do primitivo farol. Depois da conquista por Roma do Ocidente europeu (Hispânia, Gália e Britania), a baía corunhesa adquire uma grande importância nas rotas marítimas romanas que ligam o Mediterrâneo e as zonas costeiras norte-atlânticas. Situada numa costa perigosa, converteu-se numa magnífica doca para os barcos que empreendiam a rota para Britania ou acabavam de atravessar os perigos do cabo Finisterre. Os romanos criaram um importante enclave portuário, ao qual lhe deram o nome de Brigantium, e para servir de apoio à navegação das naves comerciais e militares construíram um grande farol que hoje chamamos Torre de Hércules.
10. Courel
O Courel é a grande paisagem de uma Galiza que olha para o seu interior. Branco no inverno e de mil verdes no verão. Uma paisagem de montanha salpicada por aldeias escondidas que, devido ao difícil acesso, conservou toda a beleza do que é autêntico. É o território do lobo, do javali, do bufo-real… O Courel é também o grande pulmão da Galiza, a reserva verde. Com os soutos, plantações de castanheiros à volta das aldeias. Ou com as devesas, típicas d’O Courel e únicas na Galiza, que são florestas autóctones situadas nas nascentes dos rios e onde abundam carvalhos, teixos, azevinhos, faias e bétulas. A mais famosa é A Devesa da Rogueira, uma das florestas mais antigas da Galiza, com mais de 800 espécies botânicas e sulcada por numerosas fontes de água.

N’O Courel, a natureza mostra-se esplêndida e imponente. Como dizia o poeta Uxío Novoneyra, que nasceu nestas terras, “Aqui sente-se bem o pouco que um homem é.” O seu interesse geológico é manifesto: uma enorme quantidade de grutas vivas e de passadiços ou a espectacular dobra de Campodola (Quiroga), classificada como um dos monumentos geológicos da Europa. O Courel é a grande reserva verde da Galiza. Todas as espécies, menos as litorais, têm representação neste cruzamento geográfico de montanha, com o melhor das características atlânticas e mediterrânicas. Castanheiros à volta das aldeias e um reduto das oliveiras em Quiroga. As formações florestais típicas d’O Courel são as devesas, nome empregue para referir florestas de muitas outras espécies vegetais, geralmente nas nascentes dos rios.
11. Ancares
Os Ancares é, juntamente com O Courel, o maior espaço natural da Galiza. É também Reserva da Biosfera e o último reduto da presença do urso pardo em terras galegas. Território selvagem e fascinante, habitado desde tempos pré-históricos mas isolado e inacessível até há pouco tempo, Os Ancares lucenses estão formados por vales com as suas povoações e aldeias encaixadas entre picos de 2000 m de altura. Durante séculos, a vida decorria aqui nas palhoças, cabanas circulares com tecto de palha onde conviviam pessoas e animais domésticos. Hoje em dia, as palhoças são uma visita obrigatória, com algumas delas convertidas num interessante museu etnográfico. Florestas de carvalhos, castanheiros, faias, azevinhos, avelãzeiras e bétulas. Prados de urze e giesta. Javalis, cervos, camurças, raposas, cabritos-monteses… e lobos.

Ancares é o nome original do rio que emprestou a sua sonoridade às montanhas mágicas entre a Galiza e Leão. Exercem o seu magnetismo de longe, presas de horizontes a uns escassos dois mil metros. Entra-se nelas com um especial estado de admiração e respeito, por caminhos que procuram os cumes encostados a estreitos e profundos vales. Nas povoações mais altas descobriremos as “palhoças”, ancestrais construções de planta circular e tecto de palha malhada. Parece que as suas formas curvas mas régias se inspiram nos cumes das montanhas, suaves e agrestes. Os rios que descem pela vertente galega procuram todos eles o Navia, que cinge completamente o espaço protegido pelo oeste e conduz as águas para o Cantábrico. Um bom exemplo é o belo vale lavrado pelo rio Ser ou as gargantas do rio Rao, no município de Navia de Suarna. A vertente leonesa, pelo contrário, desagua no sul, na bacia do Sil.
12. Cabo Finisterra
Os romanos pensavam que este era o ponto mais ocidental da terra e, portanto, era aqui que o mundo acabava. Era o “finis terrae”. Porque razão alguém viria ao fim do mundo? Talvez porque o Cabo Finisterra esconde o verdadeiro segredo da Costa da Morte: paisagens agrestes e praias impressionantes, umas (ao abrigo do cabo) de águas tranquilas e outras de forte ondulação, como a Mar de Fora, uma das praias mais selvagens da Galiza. E a grande atracão de todos os tempos: o por-do-sol sobre a imensidão do oceano, o mar do fim do mundo. Seja por curiosidade ou para viver uma aventura, o Cabo Finisterra foi um imã desde a mais remota antiguidade, atraindo viajantes de países longínquos e também, com menor fortuna, os inúmeros barcos que naufragaram nas suas águas.

Hoje, com o seu potente farol, o Cabo Finisterra continua a exercer uma atracção especial sobre os peregrinos do Caminho de Santiago, que não dão por terminada a sua viagem até chegar aqui. Por algo será. Desde o princípio dos tempos, Finisterra evoca um mistério indecifrável na alma dos homens. As raízes da aura lendária destas paragens, abertas à imensidão do Oceano Atlântico, descansam na mitologia dos primeiros povoadores da Europa. Os antigos acreditavam que o mundo terrenal dava lugar, com a chegada da morte, a outra existência numa ilha situada a oeste, onde o sol se punha. Nas lendas celtas, e frequente encontrar imagens de heróis que fazem a sua última viagem até este paraíso numa barca de pedra. Esta união de pedra, mar e espiritualidade perdura em diversas formas ao longo da Costa da Morte.
13. Fragas do Eume
Fragas do Eume é uma das florestas atlânticas ribeirinhas melhor conservadas da Europa. Dentro dos seus 9000 hectares de extensão vivem menos de 500 pessoas, o que dá uma ideia do estado virgem destas exuberantes florestas que seguem o curso do rio Eume. O parque tem a forma de um triângulo cujos vértices e fronteiras seriam As Pontes, Pontedeume e Monfero. A melhor forma de conhecer o parque é a pé. Assim, quem os souber ver, talvez descubra os brincalhões duendes que nele habitam. Aqui, dão-se os carvalhos, os choupos, os freixos, os amieiros, mais de 20 espécies de fetos e 200 de líquenes. Por vezes, a vegetação é tão densa que mal deixa passar a luz. Mas esta floresta umbria e secreta é generosa, tal como as suas águas, fontes e cascatas. Aqui não há verde, aqui há paisagens de mil verdes. E escondido no coração da floresta, o mosteiro de Caaveiro, um antigo cenóbio com mais de 10 séculos de história e umas espectaculares vistas desta “fraga” mágica.

O rio Eume, com uns cem quilómetros de comprimento no total, lavrou na maior parte do seu curso médio e final um profundo desfiladeiro. As abruptas ladeiras, nalguns pontos com 300 metros de desnível, conservam o manto vegetal original das florestas atlânticas. Uma floresta como todos nós sonhamos: a espessura, as estações transformadas em cores, um rio que conhece a aventura do salmão e procura a proximidade do mar para se tornar ria… Porque “fraga” significa floresta com árvores de diferentes espécies. Os carvalhos e castanheiros constituem o manto caducifólio, juntamente com as bétulas e amieiros, freixos e teixos, avelãzeiras e árvores de frutos silvestres; nas árvores de folha perene, temos os loureiros, azevinhos e medronheiros. Todos juntos formam uma selva heterogénea em que cada espécie ocupa o seu lugar. Os sobreiros, por exemplo, têm nestas ladeiras orientadas a sul o seu limite setentrional na Galiza. Nas margens húmidas e sombrias, conserva-se uma ampla colecção de líquenes, musgo e fetos, que são uma das jóias das florestas climáticas como a do Eume, herança da Era Terciária.
14. Ferrol
Cidade curtida em mil batalhas, Ferrol é uma sábia mistura de cultura, elegância urbana e poderio militar. Para entrar no ambiente, continuamos o passeio pelo Bairro da Magdalena, traçado exactamente como uma tablete de chocolate, seguindo o racionalismo da Ilustração, e com maravilhosos edifícios modernistas como o Teatro Jofre. Se gosta da história naval, visite o Castelo de San Felipe, as Fortalezas e, em especial, o Arsenal. Construído no século XVIII sob os ares da Ilustração, o Arsenal é um complexo de obras hidráulicas e de edifícios únicos na Europa, entre os quais se inclui o Museu Naval, visita obrigatória e de grande entretenimento.

Mas, além disso, Ferrol guarda surpresas como a sua Semana Santa, a mais antiga e espectacular de toda a Galiza… E um gosto pela boa mesa que se reflecte nos seus mercados, pastelarias e cafés. Tal como disse Napoleão: “Um brinde pelos valentes ferrolanos!” Uma experiência que o viajante não deve deixar de viver é a visita ao Castelo de San Felipe, que nos evocará épocas passadas e a importância que o elemento militar teve na construção e no desenvolvimento da cidade. Fortaleza nos arredores da cidade, à beira-mar, na boca da ria. Oferece belas e estratégicas vistas da cidade e uma vista panorâmica muito ampla da ria. A sua origem encontra-se em 1589, quando a cidade foi visitada pelo monarca Felipe II e pelos seus engenheiros militares. Em 1732, sob a direcção de La Ferrière, realizam-se obras de ampliação, terminadas em 1775.
15. Serra do Xurés
O parque começa em Ourense e ao atravessar a linha que o separa de Portugal torna-se no Parque Peneda-Gerês… Aqui, as florestas não conhecem fronteiras. Limia é um rio único. Escavou um corredor natural ao lado do qual a história foi deixando a sua marca humana. Nele, reúne-se um tecido fluvial que se desdobra em cascatas e quedas de água, repousa em barragens sucessivas, atravessa a fronteira e cede no fim as suas águas ao Atlântico. Ligam-se assim o maior Parque Natural da nossa comunidade ao de maior importância em Portugal, o Parque Natural Peneda-Gerês. Juntos, alcançam um só espaço protegido de carácter transfronteiriço, único na Europa. Trata-se da “raia seca”, dado que o traçado fronteiriço não se situa nos rios mas no alto das serras: O Laboreiro, Queguas e Quinxo ao norte; Santa Eufemia, O Xurés e O Pisco, ao sul. Os pontos mais elevados alcançam os 1500 metros de altitude, combinam as formas suaves dos velhos montes galegos com as mais abruptas.

Picos e fragmentos graníticos redondos (bolos) que o tempo encavalgou em complicados equilíbrios, são um dos sinais de identidade da zona. Encontraremos monumentos megalíticos, lendas de ouro e testemunho da passagem dos legionários romanos pela calçada XVIII ou Vía Nova. Os miliários que deixaram na calçada que ligava as capitais romanas de Braga e Astorga ainda permanecem de pé. A calçada atravessava a única passagem natural entre estes montes, a mítica Portela do Home, ponto fronteiriço de acesso ao território português. Construções populares como os moinhos, colmeias amuralhadas (alvarizas), cabanas de pastores (chivanas), espigueiros, fornos, caminhos e cercas revelam a alma mais criativa dos seus povoadores. Um património herdado da tradição na dúzia de núcleos rurais que até à actualidade mantiveram a actividade agropecuária dentro do Parque. Bem como as aldeias d’O Couto Mixto, o território que manteve até ao ano de 1868 um estatuto de privilégios independente de Espanha e Portugal.
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