Muito antes de haver fronteiras entre Portugal e Espanha, a cidade de Badajoz foi o centro de um reino muçulmano que dominava vastas regiões da Península. Entre os seus domínios encontravam-se o atual Alentejo, Lisboa e até Coimbra.
A história da Taifa de Badajoz revela uma época de instabilidade, mas também de grande importância estratégica para o que viria a ser o território português.
Um reino entre o Douro e o Guadiana
A Taifa de Badajoz foi um dos muitos pequenos reinos muçulmanos que surgiram na Península Ibérica após o colapso do Califado de Córdova. Existiu em duas fases distintas: entre 1009 e 1094 e depois entre 1144 e 1151.
Em ambos os casos, o reino terminou sob a pressão de dinastias mais poderosas: primeiro os Almorávidas e depois os Almóadas. Ainda assim, durante o seu apogeu, os seus limites chegavam a Lisboa, Santarém e quase ao rio Douro.
Antes destas taifas, no entanto, a origem do poder de Badajoz remonta a uma figura marcante: ibn Marwan. Este líder militar rebelou-se contra o emir de Córdova e fundou um território autónomo, com centro na região de Badajoz, abrangendo também o sul do atual território português.
A sua ascensão começou por volta de 875, quando lhe foi concedida permissão para estabelecer-se na zona de Batalyos, onde mais tarde nasceria a cidade de Badajoz.
O alentejano Marvão e a visão de ibn Marwan
A influência de ibn Marwan não se limitou a Badajoz. No que é hoje Portugal, fundou também Marvão, uma fortaleza estrategicamente posicionada no alto de uma escarpa.
A vila, que terá tomado o seu nome, tornou-se um ponto-chave na administração do território. Dali controlava boa parte do Alentejo, aproveitando a sua localização praticamente inexpugnável para manter a estabilidade do seu domínio.
Apesar de o Reino de Badajoz ter tido uma existência intermitente, a sua importância foi notável. Chegou a governar cidades como Lisboa, Coimbra e Santarém — algo que mostra bem a sua dimensão e relevância na geopolítica peninsular da época.
Curiosamente, o território dominado pela Taifa de Badajoz coincide, em larga medida, com as regiões onde os Lusitanos viveram séculos antes. Embora não exista qualquer relação direta entre estes dois períodos históricos, a sobreposição geográfica é um detalhe curioso que desperta interesse entre historiadores.
Taifas, rivalidades e a oportunidade portuguesa
A fragmentação dos reinos muçulmanos, conhecida como o período das taifas, foi uma das razões que facilitaram a progressiva conquista cristã da Península. No território que viria a ser português, várias dessas taifas — Lisboa, Silves, Mértola, Santarém ou Santa Maria do Algarve — eram mais pequenas e vulneráveis.
Ao contrário, no sul da atual Espanha, a Taifa de Sevilha e, mais tarde, o Emirado de Granada, resistiram durante mais tempo à Reconquista.
Este contexto contribuiu para que o avanço cristão em direcção ao sul de Portugal fosse mais célere, com os reinos cristãos a aproveitarem as rivalidades entre muçulmanos para alargar os seus domínios.
Ibn Marwan: o fundador que negociava com cristãos e muçulmanos
As fontes árabes da época descrevem ibn Marwan como um estratega notável e uma figura ambígua, que tanto combatia muçulmanos como fazia alianças com cristãos.
O cronista Ibn Hayyan relata que ele “preferia a amizade dos cristãos à dos que dirigem a oração para Meca”. Outros autores falam dele como “chefe dos renegados no Ocidente” e destacam a sua astúcia e capacidade militar.
Após várias batalhas e um armistício com o emir de Córdova, ibn Marwan pediu autorização para fundar uma nova cidade num monte junto ao Guadiana. Assim nasceu Badajoz. Apesar de ter recebido apoio do emir, a cidade foi pensada para ser um reduto seguro e independente.
Hoje, a arqueologia revela vestígios de ocupações anteriores à presença muçulmana, levantando a hipótese de Badajoz ter sido construída sobre um antigo assentamento visigótico.
Com o tempo, o reino que começou com ibn Marwan daria origem à Taifa de Badajoz — uma das maiores da Península — que, embora desaparecida, deixou um legado importante na história do sul do que viria a ser Portugal.










