A queda de D. Afonso em Santarém acabou com o sonho de unir Portugal e Espanha sob uma só coroa. E alimentou rumores até hoje.
Estamos em 1491. Em Santarém, junto ao Tejo, o jovem príncipe D. Afonso cai do cavalo e perde a vida com apenas 16 anos. O acidente, inesperado e nunca inteiramente explicado, mudou para sempre o rumo da Península Ibérica.
Se tivesse sobrevivido, Portugal e os reinos de Castela e Aragão poderiam ter seguido um destino comum — um único país, uma só monarquia.
Um casamento pensado para unir tronos
Filho único de D. João II e de D. Leonor, D. Afonso era o herdeiro da coroa portuguesa. Desde cedo foi prometido a Isabel de Aragão, primogénita dos Reis Católicos.
O casamento, celebrado por procuração em Sevilha e selado em solo português com pompa e financiamento aprovado em cortes, representava mais do que uma simples união nobre: era uma jogada geopolítica.
Com o desaparecimento do infante Juan, único filho varão de Isabel e Fernando, a princesa Isabel tornou-se a principal herdeira da união dos reinos de Castela, Aragão e Navarra. A aliança com D. Afonso fazia sonhar com uma Península sob domínio português. Mas o destino trocou as voltas.
Um acidente estranho e suspeitas que nunca desapareceram
A morte do príncipe aconteceu em julho de 1491, durante um passeio a cavalo em Alfange, nos arredores de Santarém. O relato do acidente nunca foi claro.
E o desaparecimento imediato do aio castelhano que o acompanhava apenas adensou os rumores. Terá sido apenas um trágico acaso ou um golpe silencioso de diplomacia disfarçada?
A dor tomou conta do reino. D. João II perdeu o filho e o futuro que nele depositava. Tentou legitimar o filho bastardo, Jorge, mas sem sucesso.
O sucessor acabou por ser o primo, D. Manuel I, que assumiria o trono após a morte do rei em 1495, vítima de uma doença que o debilitou lentamente.
Um desfecho que nunca deixou de intrigar
Com a morte de D. João II, a rainha Isabel de Castela terá exclamado: “Morreu o Homem”. O rei português, apelidado de Príncipe Perfeito, tinha consolidado o poder régio e sonhado com um Portugal maior, mais influente e, talvez, ibérico.
Mas o desaparecimento precoce de D. Afonso acabou com qualquer hipótese de união entre os dois países.
O que poderia ter sido uma monarquia ibérica com capital em Lisboa ficou, para sempre, no campo das suposições. E a Torre de Alfange, junto ao rio, continua a lembrar discretamente o dia em que a História de Portugal mudou de rumo.










