Quando se fala na formação de Portugal, o mais comum é começar pelo Condado Portucalense ou pelo domínio romano.
No entanto, há uma etapa da nossa história que permanece pouco conhecida, mas que foi fundamental na construção da identidade do noroeste peninsular: a presença dos Suevos.
Este povo germânico instalou-se na antiga Galécia — actual Galiza e Norte de Portugal — por volta de 409, liderado pelo rei Hermerico.
Estabeleceram aí o primeiro reino estável da Europa pós-romana, com capital em Braga, tendo governado a região até à sua anexação pelos Visigodos, em 585.
Um reino pioneiro
Após firmarem um pacto com o Império Romano, os Suevos passaram a governar a Galécia com alguma autonomia. O seu domínio alastrou-se à Lusitânia, onde coabitaram com populações galaico-romanas.
Já no reinado de Requiário, filho de Réquila, foram dados passos marcantes: foi o primeiro monarca germânico a adoptar o catolicismo e a cunhar moeda própria, sinal claro de soberania.
Apesar de múltiplas divisões internas e guerras com os visigodos, o Reino Suevo conseguiu manter-se durante mais de 170 anos.
Durante este período, realizaram-se concílios importantes, como os de Braga (561 e 572), que reforçaram a estrutura administrativa e religiosa do reino.
Figuras como São Martinho de Dume desempenharam um papel essencial nesse processo de organização e cristianização.
Uma marca que ainda se sente
O domínio suevo terminou em 585, quando Leovigildo anexou o território ao Reino Visigodo. Contudo, o legado dos Suevos perdurou em várias frentes.
No plano material, encontraram-se moedas de ouro e prata cunhadas por reis suevos, bem como urnas funerárias e outros vestígios arqueológicos de influência germânica.
Mas é no quotidiano e na paisagem rural do Noroeste que as marcas se tornaram mais profundas. Algumas técnicas agrícolas, como o uso do arado quadrangular, a construção de espigueiros e certas ferramentas, têm origem sueva.
A toponímia e a antroponímia também revelam esta influência, com nomes de lugares e pessoas de raiz germânica a sobreviverem até hoje.
Mais do que um povo de passagem, os Suevos deixaram raízes profundas no que viria a ser o território português.
E mesmo que a sua memória tenha sido relegada para as margens da narrativa histórica, o seu contributo merece ser recordado — não só pelo que foram, mas pelo que ajudaram a construir.










