Dominar a escrita de uma língua é, em certa medida, um ato de memória. Mesmo os falantes nativos tropeçam, por vezes, na ortografia — sobretudo numa língua como o português, rica em excepções, sons semelhantes e uma história cheia de influências.
Se o Acordo Ortográfico de 1990 tentou unificar regras, muitas dúvidas persistem, tanto entre portugueses como entre estrangeiros a aprender a língua.
Este guia reúne os oito erros ortográficos mais frequentes. Não se trata apenas de decorar regras, mas de perceber o que está por detrás das confusões mais comuns — e, quem sabe, começar a escrever com mais confiança.
1. x ou ch?
Ambos podem representar o mesmo som: aquele sibilante suave, como em chá. A dificuldade está em saber quando usar cada um.
Exemplos:
- Com x: caixa, enxada, mexer
- Com ch: chave, chuva, cachorro
Dica: não existe uma regra infalível, mas o x tende a surgir depois dos ditongos ou nas palavras de origem indígena e africana; o ch aparece frequentemente em palavras de origem latina.
2. g ou j?
Ambos representam o som /ʒ/, como em jogo ou gelo. A escolha depende da origem da palavra e da vogal seguinte.
Exemplos:
- Com g: girafa, giz, gelado
- Com j: jeito, juiz, laranja
Dica: memorize palavras mais comuns e desconfie de palavras novas — há muitas excepções.
3. s ou z?
O som /z/ pode ser escrito com s ou z, e a escolha escapa muitas vezes à lógica.
Exemplos:
- Com s: casa, tesoura, despesa
- Com z: luz, rapaz, cozinha
Dica: o z surge normalmente no início das palavras e em sufixos como -ez e -eza (altivez, beleza).
4. s, ss, c ou ç?
O som /s/ é um dos mais traiçoeiros da língua. Pode escrever-se de várias formas, dependendo da posição na palavra e da sua origem.
Exemplos:
- s: asa, liso, puser
- ss: massa, pressa, sucesso
- ç: laço, açaí, caçar
- c: peça, cinto, troca
Dica: tenha em atenção as palavras da mesma família e os contextos. A consistência entre palavras derivadas ajuda a evitar erros.
5. i ou e?
Algumas palavras soam de forma tão próxima que é fácil confundir o i com o e.
Exemplos:
- Com i: dividir, aqui, tijolo
- Com e: derreter, aquele, meteoro
Dica: nas terminações -ir, o uso do i é mais comum. Nas palavras terminadas em -dade, predomina o e.
6. o ou u?
A questão aqui é semelhante à anterior: som semelhante, mas grafia distinta.
Exemplos:
- Com o: fogo, bondoso, moto
- Com u: susto, juntar, azul
Dica: estas vogais nasais ou fechadas devem ser memorizadas palavra a palavra. A leitura frequente ajuda a fixar.
7. m ou n?
Ambas representam sons nasais, mas a escolha depende do contexto fonético.
Exemplos:
- Com m: campo, homem, limpo
- Com n: andar, canto, fino
Dica: utiliza-se m antes de p e b. Nas restantes consoantes e vogais, opta-se normalmente pelo n.
8. com h ou sem h?
O h não tem som, mas continua a dar dores de cabeça. Muitas vezes está lá apenas por tradição.
Exemplos:
- Com h: hora, habitar, hidrogénio
- Sem h: igreja, umbigo, obra
Dica: o h surge, normalmente, em palavras com origem latina ou grega. Mas a melhor estratégia é decorar.
A ortografia portuguesa pode ser exigente, mas é também uma forma de preservar a riqueza da nossa língua. E, como em quase tudo, o hábito ajuda: quanto mais se lê e escreve, mais naturais se tornam estas escolhas.
Afinal, escrever bem não é apenas uma questão de regra — é também uma forma de pensar com clareza.