A língua portuguesa está cheia de expressões que usamos no dia a dia sem pensar muito na sua origem. Em Lisboa, algumas dessas expressões nasceram de episódios concretos — históricos, lendários ou simplesmente curiosos — e ajudam a contar a história da cidade.
Conheça sete expressões tipicamente lisboetas e a origem de cada uma.
1. Caiu o Carmo e a Trindade
Usa-se para descrever situações dramáticas ou acontecimentos inesperados e intensos. A expressão remonta ao terramoto de 1755, que destruiu grande parte de Lisboa, incluindo dois importantes conventos: o do Carmo e o da Trindade.
A comoção provocada por este desastre foi tão grande que o povo passou a dizer que “caiu o Carmo e a Trindade” sempre que algo de enorme impacto acontecia.
2. Ficar a ver navios
Significa ficar desiludido, esperar por algo que nunca chega. Há duas teorias ligadas ao miradouro de Santa Catarina: uma sugere que era ali que as pessoas esperavam os navios vindos das Índias, outra diz que era o local onde os apoiantes de D. Sebastião aguardavam, em vão, o seu regresso. Em ambos os casos, o que ficou foi a espera frustrada.
3. Rés-vés Campo de Ourique
Usa-se para descrever algo que aconteceu “por um triz”, mesmo à justa. Uma explicação relaciona a expressão com o facto de Campo de Ourique ter escapado quase incólume ao maremoto que se seguiu ao terramoto de 1755.
Outra teoria liga-a ao traçado antigo da cidade, quando Campo de Ourique marcava o limite urbano. Fosse qual fosse a origem, a ideia de “por pouco” ficou associada ao bairro lisboeta.
4. Meter o Rossio na Rua da Betesga
Refere-se a algo impossível ou altamente desproporcionado. A Rua da Betesga é uma curta ligação entre o Rossio e a Praça da Figueira, com apenas 35 metros de comprimento. A imagem de tentar encaixar a vasta praça do Rossio naquela rua minúscula ajuda a perceber o exagero implícito na expressão.
5. Calhandreira
Hoje usada para descrever alguém dado à bisbilhotice, esta palavra terá nascido entre os séculos XVII e XVIII. O termo deriva de “calhandro”, nome popular para os penicos da época.
Eram despejados no Tejo por mulheres ao serviço das famílias ricas de Lisboa, que aproveitavam a ocasião para trocar mexericos. Daí surgiu o termo “calhandreira”.
6. À grande e à francesa
Usa-se para descrever comportamentos faustosos ou vidas levadas com grande ostentação. A origem está ligada ao Palácio Chiado, então residência de Joaquim Pedro de Quintela, o Conde de Farrobo, conhecido por organizar festas luxuosas.
Durante as invasões francesas, o general Junot também ali se instalou e deu continuidade às celebrações. Daí nasceu a ideia de viver “à grande e à francesa”.
7. Farrobodó
Deriva também das festas promovidas pelo Conde de Farrobo. As celebrações eram tão extravagantes que o nome do anfitrião acabou por dar origem ao termo “farrobodó”, hoje usado para descrever festas animadas, por vezes descontroladas.
Curiosamente, a forma popular “forrobodó” está incorreta — o termo original e correto é mesmo “farrobodó”.
Ficar a ver navios: Sempre ouvi dizer que tem a ver com a chegada de Junot a Lisboa. Quando este chegou a Lisboa com a intenção de capturar o Rei só terá conseguido ficar a ver os navios que transportavam D. João VI já no Tejo a caminho do Brasil