Durante séculos, a história de Dipo esteve envolta em silêncio. Mas escavações recentes em Évora Monte parecem dar novos contornos a esta antiga cidade celta, que poderá ter sido capital dos Sefes — um povo que habitou o território muito antes da chegada dos romanos.
A história de Portugal é frequentemente associada aos Lusitanos, celebrados desde os tempos de Camões como os verdadeiros antepassados dos portugueses. No entanto, foram apenas uma entre muitas tribos que ocuparam o território ocidental da Península Ibérica antes da chegada de Roma.
Entre essas tribos estavam os Sefes, também conhecidos por Ofis — o “povo das Serpentes” —, que terão deixado marcas profundas no actual Alentejo.
Muito antes de Roma, já cá estavam os Sefes
Os Sefes, considerados por alguns historiadores como uma das tribos celtas mais avançadas culturalmente, chegaram à Península Ibérica por volta do século IX a.C. — ou talvez ainda antes, segundo outras teorias.
Estabeleceram-se em vastas áreas do sul, incluindo o actual território português, e fundaram várias cidades importantes, como Olisipo (Lisboa), Beuipo (Alcácer do Sal) e Colipo (Leiria). No entanto, foi a cidade de Dipo, cuja localização se suspeita coincidir com a atual Évora Monte, que terá sido a sua capital.
A escolha do local não terá sido ao acaso. A posição elevada de Évora Monte oferecia uma vista ampla das planícies alentejanas e garantia boas condições defensivas — algo crucial numa época de conflitos e invasões.
Uma cidade resistente à conquista romana
Várias fontes apontam Dipo como uma das cidades mais relevantes do sul da Península Ibérica. Os romanos terão tentado conquistá-la diversas vezes, enfrentando uma resistência feroz por parte dos Sefes.
Só mais tarde, com a queda do poderio celta e o fortalecimento de Évora enquanto centro urbano romano, Dipo perdeu a sua importância — e, com o tempo, o seu nome e memória esfumaram-se.
Mas a história pode estar agora a ser reescrita. Nos últimos anos, escavações arqueológicas em Évora Monte têm revelado estruturas que remontam ao século III a.C., bem como peças de cerâmica e raros artefactos em bronze, sugerindo a presença de uma povoação sofisticada e com expressão cultural própria.
Uma história antiga com novas pistas
A presença dos Sefes na região está já documentada, mas a localização precisa de Dipo permanece uma peça em falta no puzzle histórico. A sua chegada terá provocado a fuga de povos que habitavam zonas mais expostas, como as margens do Guadiana ou as planícies da atual região do Alentejo.
Muitos desses habitantes terão procurado refúgio nas serras, como a da Ossa, onde surgiram povoados fortificados que parecem confirmar um período de forte instabilidade.
Apesar de o seu apogeu ter sido anterior à chegada de Roma, os Sefes deixaram um legado que ainda hoje se tenta compreender. E Évora Monte pode ser a chave para desvendar essa história esquecida de uma cidade com mais de 2.300 anos, escondida no coração do Alentejo.










