“Pai” é uma daquelas palavras que parecem ter sempre existido. É curta, fácil de dizer e das primeiras que aprendemos na infância.
Mas a sua história é longa — e atravessa milhares de anos de evolução linguística. Afinal, de onde vem esta palavra tão central na vida de cada um?
Uma viagem que começa no proto-indo-europeu
Para encontrar a origem da palavra “pai”, é preciso recuar até ao proto-indo-europeu, uma língua ancestral que esteve na base de grande parte das línguas europeias e de muitas asiáticas.
Nessa língua, a palavra para designar o pai era algo próximo de ph₂tḗr — um termo que os linguistas acreditam ter sido usado há cerca de 5.000 anos.
Este termo evoluiu para pater em latim, e é precisamente essa forma que esteve na origem de muitas palavras modernas relacionadas com a figura paterna.
Do latim para o português
Com o tempo, e à medida que o latim vulgar se transformava em português, pater passou por diversas alterações.
Uma delas foi a apócope, fenómeno linguístico que consiste na eliminação da sílaba final. Assim, pater tornou-se patre e, mais tarde, simplesmente “pai”.
Enquanto isso, outras línguas latinas seguiram caminhos distintos: o castelhano manteve-se mais próximo da forma original com padre e o francês optou por père.
E nas línguas germânicas?
No inglês, alemão e outras línguas germânicas, a origem é a mesma — o proto-indo-europeu — mas a evolução foi diferente. Em vez de pater, surgiram formas como father (em inglês) e Vater (em alemão).
A razão está na chamada Lei de Grimm, um conjunto de transformações fonéticas que alterou certos sons, como o “p” que se tornou “f” nas línguas germânicas.
Uma escolha natural para os primeiros sons
Curiosamente, há outra explicação para a semelhança entre as palavras que designam o pai em diferentes línguas: a própria biologia da fala.
Os bebés começam a articular sons simples como “pa”, “ba” e “ma”, porque exigem apenas o movimento dos lábios. São sons fáceis, que surgem cedo no desenvolvimento da linguagem.
Assim, ao longo dos séculos, foi natural que esses sons básicos se fixassem nas línguas como palavras associadas às figuras parentais.
Mais do que uma palavra
“Pai” não é apenas uma palavra curta e fácil de dizer. É o resultado de uma longa evolução linguística, de um som universal que percorre continentes e culturas, e de um vínculo que se aprende — muitas vezes — antes mesmo de se compreender.










