Ter carta de condução não é sinónimo de permissão vitalícia para conduzir. Em Portugal, existem critérios médicos bem definidos que todos os condutores têm de cumprir para manter esse direito.
Certas doenças, quando não vigiadas, podem levar à suspensão ou até ao cancelamento da carta — e os médicos têm a obrigação legal de comunicar essas situações às autoridades de saúde.
A legislação em vigor, através do Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir (RHLC), estabelece as condições mínimas exigidas para estar ao volante.
O objetivo é simples: proteger a segurança de quem conduz e de todos os que partilham a estrada.
Que doenças podem afetar a carta de condução?
Entre as condições clínicas que podem comprometer a capacidade de conduzir estão:
- Epilepsia: exige um ano sem crises e avaliação neurológica regular.
- Demências e doenças neurodegenerativas: requerem acompanhamento contínuo.
- Psicoses ativas: dependem de parecer especializado.
- Arritmias com perda de consciência: representam risco imediato ao volante.
- Diabetes com episódios de hipoglicemia grave: podem provocar perda súbita de consciência.
- Défices visuais relevantes: visão reduzida pode ditar inaptidão.
- Dependências de álcool ou drogas: incompatíveis com uma condução segura.
Além destas, doenças respiratórias como a apneia do sono também são tidas em conta, devido ao risco elevado de sonolência ao volante — uma das principais causas de acidentes rodoviários.
O papel do médico e da autoridade de saúde
Sempre que um médico deteta uma condição que possa comprometer a segurança na condução, tem o dever de comunicar essa informação, de forma confidencial, à autoridade de saúde local.
Se o condutor não comparecer à convocatória para avaliação, o IMT pode suspender a carta preventivamente.
Quando e como se renova a carta
A carta de condução tem prazos de validade que variam consoante a idade do condutor e a categoria do veículo:
- Grupo 1 (ligeiros e motociclos): revalida-se aos 15, 30, 45, 60, 65 e 70 anos, depois a cada dois anos.
- Grupo 2 (pesados): renovação obrigatória de 5 em 5 anos até aos 67 anos. Após essa idade, deixa de ser válida para uso profissional.
Além disso, a partir dos 60 anos (Grupo 1) ou 50 anos (Grupo 2), é necessário apresentar atestados médicos, e para os profissionais, também uma avaliação psicológica.
Se a carta não for renovada no prazo:
- Após 2 anos: é necessário repetir o exame prático.
- Após 5 anos: obrigatório novo curso e exame teórico e prático.
Um sistema europeu e digital
Portugal segue a diretiva europeia 2006/126/CE, que uniformiza as regras. A revalidação pode ser feita com 6 meses de antecedência, no portal A Minha Carta de Condução.
Caso a renovação seja recusada por questões de saúde, o condutor tem 30 dias para apresentar recurso.
Conduzir é um ato de responsabilidade
Mais do que uma formalidade, a avaliação médica é uma medida de segurança.
Ignorar sintomas, desvalorizar condições clínicas ou adiar exames pode colocar em risco a vida do próprio condutor e de todos os que circulam na via pública.
Se surgirem dúvidas quanto à aptidão para conduzir, o primeiro passo é simples: falar com um médico.
Pode ser a decisão que evita um acidente – ou salva uma vida.







