Coimbra é conhecida pelo seu ambiente académico, pelas serenatas nas escadas da Sé Velha e pela eterna história de Pedro e Inês. Mas por trás da cidade dos estudantes, há uma teia de lendas que molda a identidade coimbrã.
Entre serpentes lendárias, sinos que acordam universitários e amores reais protegidos por milagres, há histórias que continuam a ser contadas de geração em geração.
1. As Escadas Monumentais e as “bolas” de D. Dinis
Subir os 125 degraus das Escadas Monumentais é um ritual para quem estuda em Coimbra. Mas poucos o fazem sem pensar numa das superstições mais antigas da cidade: diz-se que o número de vezes que se tropeça na escadaria corresponde às cadeiras a que se reprova nesse ano.
No topo, duas esferas conhecidas como as “bolas de D. Dinis” alimentam outra lenda: cairão no dia em que uma estudante termine o curso ainda virgem. É uma das muitas formas bem-humoradas com que a tradição académica se entrelaça com a vida quotidiana.
2. A Velha Cabra
Na torre da Universidade de Coimbra, há um sino com nome peculiar: a “Cabra”. Durante anos, foi o despertador oficial dos estudantes, tocando às sete da manhã. Mas há quem diga que, vista de perfil, a torre assemelha-se a um mocho – símbolo de sabedoria e guardião silencioso dos segredos da cidade.
3. A lenda de Coluber
Reza a lenda que Coimbra nasceu da coragem de um cavaleiro apaixonado. Conta-se que uma princesa vivia na cidade aterrorizada por uma enorme serpente vinda dos céus, a quem o povo chamava Coluber.
Para provar o seu valor, o cavaleiro apaixonado enfrentou o monstro, sufocando-o com fumo antes de o derrotar em combate corpo a corpo.
A princesa cumpriu a promessa: casou com o herói. E, segundo a lenda, no lugar onde a serpente foi vencida, ergueu-se uma povoação chamada Columber Briga – “batalha da cobra” – nome que alguns acreditam estar na origem da própria Coimbra.
4. A lenda de Cindazunda
Entre os séculos IV e V, Ataces, rei dos Alanos, fundou uma nova cidade nas margens do Mondego. Após sangrenta batalha contra os Suevos, aceitou casar com Cindazunda, filha do rei vencido.
Para assinalar a união, mandou criar um brasão que ainda hoje representa Coimbra: uma taça no centro (símbolo do matrimónio), ladeada por um leão (emblema de Ataces) e um dragão (símbolo suevo).
Mais do que uma lenda romântica, esta história recorda o cruzamento de culturas que marcou o nascimento da cidade.
5. O pagem e o forno de Santa Clara
Nos tempos da Rainha Santa Isabel, um complô pôs a vida do seu pagem em risco. O plano era simples: atrair o jovem a um forno de cal, onde seria queimado vivo. Mas, ao parar para orar no Mosteiro de Santa Clara, atrasou-se.
No entretanto, o pagem do rei D. Dinis, envolvido na armadilha, passou pelo local, pronunciou as palavras-chave… e acabou por ser confundido e morto no seu lugar.
O erro foi visto como milagre atribuído à proteção da Rainha Santa – e ainda hoje faz parte das histórias que dão alma a Coimbra.
Coimbra é muito mais do que pedras antigas e capas negras. É feita de histórias – algumas verdadeiras, outras bordadas pela imaginação – que continuam a ecoar nos claustros, nas salas e nas noites da cidade.










