No meio do Atlântico Sul, a mais de dois mil quilómetros da costa mais próxima, ergue-se um arquipélago que é considerado o território habitado mais isolado do planeta: Tristão da Cunha. Para lá chegar, a única opção é viajar de barco, numa travessia que demora cerca de seis dias.
E, apesar da distância, este pedaço remoto do mundo guarda uma ligação direta a Portugal. Foi descoberto em 1506 pelo navegador Tristão da Cunha, que lhe deu o nome.
Uma descoberta portuguesa
A frota de Tristão da Cunha seguia em direção à Índia quando, em 1506, avistou uma massa de terra vulcânica no meio do oceano.
O navegador batizou a ilha principal com o seu nome, mas nunca chegou a desembarcar, devido ao mar agitado. Os portugueses não chegaram a colonizar o território, mas usaram-no como ponto de referência nas rotas para o Oriente.
Mais tarde, holandeses, franceses e ingleses também passaram por ali. Foram estes últimos que acabariam por se fixar de forma definitiva, em 1816, ocupando a ilha para impedir que pudesse servir de base a uma eventual operação de resgate de Napoleão Bonaparte, então exilado em Santa Helena.
Colonização e primeiros habitantes
A colonização permanente teve início com um grupo pequeno de aventureiros, entre eles o americano Jonathan Lambert, que chegou a autoproclamar-se imperador da ilha.
Poucos anos depois, o escocês William Glass assumiu a liderança da comunidade, organizando a vida agrícola e religiosa e incentivando a chegada de novos colonos. Entre eles estavam desertores, náufragos e até antigos escravos libertados.
Ao longo do século XIX, a população cresceu lentamente. Em 1836, Charles Darwin visitou a ilha e descreveu a sua paisagem, fauna e flora, deixando também nota da hospitalidade dos habitantes. Em 1867, Tristão da Cunha foi oficialmente anexada ao Império Britânico.
Erupção e regresso
Um dos momentos mais dramáticos da história da ilha aconteceu em 1961, quando o vulcão entrou em erupção e obrigou à evacuação total da população para Inglaterra. Muitos não se adaptaram à vida no Reino Unido e, em 1963, regressaram à ilha, onde reconstruíram as suas casas e a comunidade.
A vida hoje
Atualmente, cerca de 250 habitantes vivem na vila de Edimburgo dos Sete Mares, a única do arquipélago. Descendem na maioria dos primeiros colonos e partilham apenas sete apelidos principais: Glass, Green, Hagan, Lavarello, Repetto, Rogers e Swain.
A vida é simples e comunitária. A agricultura de subsistência e a pesca continuam a ser as principais atividades, com destaque para a captura da lagosta, exportada para a África do Sul e o Reino Unido. A ilha tem escola até ao nono ano, um pequeno hospital com médico residente e um governo local que assegura a administração.
Uma herança portuguesa no Atlântico Sul
Mais de cinco séculos depois da descoberta, Tristão da Cunha continua a ser um lugar único no mundo: isolado, mas habitado; remoto, mas com história.
E tudo começou em 1506, quando um navegador português, em rota para a Índia, avistou este pedaço de terra e deixou-lhe um nome que resiste até hoje.










