Em pleno coração das Caraíbas, entre praias de areia branca e mansões com vista para o mar turquesa, há algo que talvez não se espere encontrar: o som do fado, o cheiro do bacalhau no grelhador e o português a fazer-se ouvir entre palmeiras.
Em São Bartolomeu, uma das ilhas mais luxuosas do mundo, vive uma comunidade lusa discreta mas fundamental para o quotidiano local.
A história desta ligação improvável começa em 1984, com a chegada de quatro trabalhadores portugueses contratados para construir uma central elétrica.
A escassez de mão-de-obra local levou-os a chamar familiares e amigos, dando início a um movimento migratório que, décadas depois, viria a transformar o tecido social da ilha.
Hoje, estima-se que vivam em São Bartolomeu cerca de 3.000 portugueses, a maioria oriunda do Minho – sobretudo de cidades como Braga, Guimarães e Valença.
Inicialmente concentrados no sector da construção, os emigrantes ganharam reconhecimento pela competência e rigor profissional, abrindo caminho para novos negócios e oportunidades.
Depois do devastador furacão Luís, em 1995, que exigiu uma rápida reconstrução da ilha, o número de portugueses duplicou num curto espaço de tempo.
Com o tempo, o perfil dos recém-chegados também se diversificou. Já não são apenas operários e empregadas domésticas: há engenheiros, enfermeiros, empresários e até ex-atletas profissionais que escolheram esta ilha como destino de vida – ainda que, para muitos, de forma temporária.
A presença portuguesa vai-se notando em vários detalhes da vida quotidiana. Há uma associação cultural ativa, um mercado onde se encontram produtos nacionais e um restaurante onde o bacalhau, o vinho verde e o arroz de cabidela marcam presença.
Em 2023, foi nomeado um cônsul honorário, sinal da relevância da comunidade para o equilíbrio social e económico da ilha.
Apesar de estarem longe, muitos destes emigrantes não perdem o elo com as suas raízes. Celebram festas típicas, cozinham pratos tradicionais e mantêm o português como língua do dia-a-dia.
Ao fim-de-semana, é frequente encontrá-los reunidos em convívio, entre petiscos e cantigas, com a saudade sempre presente.
Curiosamente, São Bartolomeu, hoje símbolo de luxo e exclusividade, foi durante séculos uma terra ignorada. Descoberta por Colombo em 1493, foi sucessivamente dominada por franceses, suecos e pela Ordem de Malta, acabando por regressar à posse francesa em 1877.
O seu destino mudou radicalmente em 1957, quando David Rockefeller construiu ali uma casa de férias. A partir daí, atraiu milionários, estrelas de cinema e empresários de topo.
No meio desse mundo sofisticado, a comunidade portuguesa encontrou espaço para crescer – e para deixar a sua marca.
Assim, entre iates e festas privadas, há também espaço para o fado e para a “pica no chão”. Uma prova de que, mesmo do outro lado do Atlântico, Portugal continua a fazer-se ouvir.









