Pequena, de bronze e envolta em mistério. A moeda de 1 centavo de 1922 é um dos maiores enigmas da numismática portuguesa.
O seu valor atual pode atingir os 85 mil euros, e o mais fascinante é que algum exemplar pode estar esquecido numa velha gaveta ou guardado num cofre de família sem que o dono saiba o tesouro que possui.
Mais do que uma peça de colecionador, esta moeda é um fragmento da história do país — uma prova tangível de como o tempo transforma o comum em extraordinário.
Da fundação do Reino à República: um legado monetário
Muito antes do euro, Portugal já tinha uma longa e rica tradição monetária. O marco inicial remonta a D. Afonso Henriques, que após a Batalha de Ourique, em 1139, instituiu o dinheiro como moeda oficial do recém-criado Reino de Portugal.
Com o passar dos séculos, o sistema foi evoluindo. No século XV, D. João I introduziu o real branco, e D. Duarte I criou o real preto, em cobre — um sinal de inovação e de adaptação às necessidades económicas da época.
Esta evolução revela não só a história económica do país, mas também a sua capacidade de reinventar-se. É neste contexto que, já em plena Primeira República, surge a enigmática moeda de 1 centavo de 1922.
Um enigma de bronze
Atualmente, apenas seis exemplares desta moeda são conhecidos: dois estão em museus e quatro pertencem a coleções privadas.
O mistério começa no facto de se desconhecer quantas unidades foram realmente cunhadas. Produzida em bronze, o seu valor metálico acabou por ultrapassar o valor facial, o que terá levado à sua fundição em 1924 para fabricar moedas de 5 centavos.
A dúvida permanece: como sobreviveram apenas seis? E quantas mais poderão estar escondidas, silenciosamente, em coleções esquecidas?
O dia em que o público descobriu o centavo de 1922
O mistério só ganhou dimensão pública em dezembro de 1960, quando o Diário de Lisboa noticiou a descoberta de três moedas de 1922. No dia seguinte, surgiram mais três exemplares.
Desde então, o centavo de 1922 transformou-se numa lenda entre os colecionadores — o “Santo Graal” da numismática portuguesa.
Dos cofres aos leilões milionários
Durante décadas, o valor desta moeda permaneceu discreto, até que em outubro de 2002 um exemplar foi leiloado por 60 mil euros, após partir de uma base de licitação de 37.500.
Mas foi em dezembro de 2006 que atingiu o seu auge: outro exemplar foi vendido por 85 mil euros, estabelecendo um recorde absoluto que permanece até hoje.
O preço não reflete apenas o metal ou o design, mas sobretudo o mistério e a raridade de uma moeda quase perdida no tempo.
Um símbolo de memória e sobrevivência
Mais do que um objeto de coleção, o centavo de 1922 é um pedaço da identidade portuguesa. Representa o valor da persistência e a magia das histórias que sobrevivem à passagem do tempo.
E quem sabe? Talvez uma dessas raríssimas moedas continue escondida em alguma caixa antiga, à espera de ser redescoberta — um pequeno pedaço de bronze com um enorme valor histórico e simbólico.









