De Lisboa a Tóquio, de Moscovo ao Cairo, há uma palavra que soa surpreendentemente familiar em quase todas as línguas: mãe. “Mãe”, “mama”, “mom”, “madre”, “maman”, “mamă”… já reparou como todas estas variações partilham algo em comum?
A semelhança é tanta que quase parece haver uma linguagem universal para designar a figura materna.
Mas afinal, de onde vem esta palavra tão especial? E por que motivo é tão parecida em idiomas tão diferentes? A resposta está na origem da própria linguagem… e num simples som que atravessa culturas e gerações.
Uma herança do latim – e não só
No caso do português, a origem é clara: a palavra mãe deriva do latim mater. Nos primeiros séculos da nossa língua, usava-se o termo madre, que com o tempo evoluiu até à forma actual.
Desta raiz nasceram também outras palavras que mantêm a ligação ao universo maternal: comadre (“com a mãe”), madrasta (“segunda mãe”) ou madrinha (um diminutivo antigo de madre que ganhou novo significado).
Mas se mater é a origem directa, a verdade é que a história começa ainda mais atrás, numa língua ancestral chamada indo-europeu — a raiz comum da maioria das línguas faladas na Europa e em partes da Ásia.
O som MA: um elo mais profundo
O que torna esta palavra verdadeiramente fascinante é que, mesmo em idiomas fora da família indo-europeia, encontramos formas muito semelhantes. Em quíchua, por exemplo, diz-se mama; em navajo, amá; em suaíli, mama; em coreano, eomma. Coincidência? Nem por isso.
Os linguistas explicam esta semelhança com um fenómeno muito simples: os primeiros sons que um bebé consegue articular.
As consoantes m, p e b são fáceis de produzir — basta abrir e fechar os lábios, sem necessidade de dentes ou grande coordenação da língua.
E durante a amamentação, os bebés emitem naturalmente um som nasal suave: algo muito próximo de “ma”.
Ou seja, antes de ser uma palavra com significado, mamã era um som instintivo, ligado à alimentação. Só mais tarde é que as línguas lhe atribuíram o significado afetivo e relacional que conhecemos hoje.
Um termo universal com raízes no berço
Em suma, a palavra “mãe” parece tão universal porque nasceu da própria experiência humana, comum a todas as culturas: o som que um bebé faz enquanto mama.
A partir daí, foi sendo adoptada e moldada pelas várias línguas — do indo-europeu ao latim, até chegar ao português moderno.
Pode não haver uma língua universal, mas talvez haja um som que todos reconhecemos desde o primeiro dia.










