Algures em Lisboa fica o Beco do Chão Salgado e encerra uma história macabra associada a um dos períodos mais negros da História de Portugal: a execução dos Távoras. Em Setembro de 1758, D. José I foi vítima de um atentado, quando regressava secretamente à real barraca da Ajuda, vindo de uma real escapadela nocturna. Era o tempo do Marquês de Pombal que aproveitou a oportunidade para reforçar o seu poder e o do rei. Dois homens foram presos e acusados do acto.

Sob tortura terão indicado a família Távora como responsável de conspirar para pôr o Duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas, no trono de Portugal. Presos os supostos conspiradores, alguns deles seriam executados, em Belém, no dia 13 de Janeiro de 1759, de uma forma extremamente violenta e brutal.
Entre os executados encontrava-se o Duque de Aveiro. Os títulos de Marquês de Távora e de Duque de Aveiro foram extintos e o palácio deste demolido.

O terreno onde se erguia a construção foi salgado para que ali nada nascesse ou crescesse. No local foi construída uma coluna cilíndrica, com cinco anéis que representam os cinco membros da família dos Duques de Aveiro implicados na conspiração. Na sua base encontra-se a seguinte inscrição:
AQUI FORAM ARRASADAS E SALGADAS AS CASAS DE JOSÉ MASCARENHAS, EXAUTORADO DAS HONRAS DE DUQUE DE AVEIRO E OUTRAS CONDEMNADO POR SENTENÇA PROFERIDA NA SUPREMA JUNCTA DE INCONFIDÊNCIA EM 12 DE JANEIRO DE 1759 . JUSTIÇADO COMO UM DOS CHEFES DO BÁRBARO E EXECRANDO DESACATO QUE NA NOITE DE 3 DE SETEMBRO DE 1758 SE HAVIA COMETIDO CONTRA A REAL E SAGRADA PESSOA DE D. JOSÉ I. NESTE TERRENO INFÂME SE NÃO PODERÁ EDIFICAR EM TEMPO ALGUM.

As cinzas dos executados foram deitadas ao Tejo, no local onde começa o Mar Salgado, mas a proibição de construir que se encontrava expressa na base da coluna caiu no esquecimento… Hoje, o “monumento” encontra-se rodeado de casas e escondido num beco de Belém: O Beco do Chão Salgado!
Massacre dos Távoras: uma história de sexo e poder que horrorizou Portugal e o Mundo
Quando, a 13 de Janeiro de 1759, o carrasco acabou de trucidar, no patíbulo de Belém, em Lisboa, o último membro da família dos Távoras, o poder da alta nobreza quedava-se vergado ao despotismo esclarecido de Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro de D. José I. O futuro marquês de Pombal desencadeara o processo na sequência de um atentado contra o rei – e aproveitou para ajustar contas com a velha aristocracia.
A oportunidade surgira a 3 de Setembro de 1758. Por volta das onze da noite, quando o rei voltava ao paço da Ajuda, vindo de um encontro amoroso clandestino, surgiram, no lugar onde está hoje a Igreja da Memória, três cavaleiros. Soaram tiros. D. José foi atingido no braço e na anca direita mas salvou-se – e encarregou o ministro Sebastião José de descobrir e castigar de forma exemplar quem tentara matá-lo.

Todos na corte sabiam que o rei, de 44 anos, era amante de Teresa de Távora e Lorena, 35 anos, mulher do 4.° marquês de Távora, Luís Bernardo, da mesma idade – de quem também era tia. Os casamentos entre familiares próximos eram comuns na nobreza, bastando para isso obter uma dispensa do papa.
Teresa era conhecida como a “marquesa nova” para se distinguir da sogra, D. Leonor, 58 anos, a “marquesa velha”. O patriarca dos Távoras era o 3º marquês, D. Francisco de Assis, 55 anos, ex-vice-rei da Índia.
A Marquesa Leonor de Távora e o seu marido Francisco de Assis, conde de Alvor (e antigo vice-rei da Índia), eram as cabeças de uma das famílias mais poderosas do reino, ligadas às casas de Aveiro, Cadaval, São Vicente e de Alorna. Eram também inimigos cerrados de Sebastião de Melo.
Leonor de Távora era uma mulher política, preocupada com os negócios do Reino, entregue a seu ver a um novo-rico sem educação. Ela era também uma devota católica, com forte afiliação aos jesuítas, tendo como confessor um deles, Gabriel Malagrida.

Quando soube da relação adúltera do soberano com a sua irmã e nora, ficou magoado. O suficiente para tramar um regicídio? Aos motivos dos Távoras juntavam-se os do duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas, 50 anos, também ligado à família pelo casamento com outra irmã de Francisco de Assis.
O duque odiava o rei e Sebastião José por o terem prejudicado numa questão de heranças e por impedirem o casamento de um filho seu com a filha do duque de Cadaval.
A investigação do atentado manteve-se secreta até que, numa madrugada de Dezembro, houve dezenas de prisões. O interrogatório dos réus, submetidos a tortura – como era costume na época -, esteve na base da sentença, dada a 12 de Janeiro de 1759. Os acusados foram condenados por “crime de lesa-majestade, alta traição, rebelião e parricídio”: o rei é o pai da nação.
No dia seguinte, foram executados onde hoje está um Pelourinho, a dois passos da casa dos pastéis de Belém. O massacre, encenado ao pormenor por Pombal, prolongou-se por todo o dia. A sentença foi impressa em folhetos, ilustrados com os tormentos, para que todos vissem – e ficassem gelados de horror.

Subiu primeiro ao cadafalso a marquesa D. Leonor. Mostraram-lhe os instrumentos do suplicio e descreveram-lhe pormenorizadamente o martírio que em breve iriam sofrer o marido, os filhos e o genro. Depois foi decapitada. Um por um seguiram-se o Távora mais jovem, José Maria, de 22 anos; o marquês novo, Luís Bernardo; o conde de Atouguia, Jerónimo de Ataíde, cunhado dos anteriores; e os plebeus Manuel Álvares, João Miguel e Brás Romeiro. Os três carrascos partiram-lhes os braços e as pernas, torturaram-nos na roda e estrangularam-nos.
O marquês velho mal conseguiu arrastar-se até ao patíbulo, tal o efeito das torturas a que fora sujeito. Também ele teve os braços e as pernas partidos à mocada antes de ser passado pela roda e estrangulado. O mesmo destino foi reservado ao duque de Aveiro. O último supliciado foi o criado António Álvares Ferreira, queimado vivo por ter sido ele a disparar os tiros que atingiram o rei.
O único condenado que conseguiu fugir, José Policarpo de Azevedo, foi queimado em estátua. Os corpos de todos foram queimados e as cinzas lançadas ao Tejo. No local das execuções foi espalhado sal, para que nada ali voltasse a crescer. O nome Távora foi banido.

Outros membros da família foram presos no forte da Junqueira e as mulheres fechadas em conventos, incluindo a amante do rei, Teresa, encerrada nas trinitárias do Rato. Mais tarde, quando reinava a primeira rainha titular portuguesa, D. Maria I, foi constituído um Tribunal, formado por 18 membros, para reapreciar todo o processo que ditou a condenação dos Távora, o qual, uma vez concluído, acabou por negar a sentença condenatória, na parte que dizia respeito, precisamente, aos marqueses de Távora, por não se provar que fossem cúmplices no atentado, sendo, por isso, declarados «sem nota de infâmia alguma».

O mesmo colectivo decidia que fossem restituídas as famílias às suas honras, reconhecendo-lhes o direito ao uso dos seus títulos. Mas os que já tinham sido humilhados e assassinados, não podiam ser recompensados! – Ora aí está, um forte argumento, qual lição do passado, em desaprovação da pena de morte. Uma vez executada, ainda que sobre inocentes, como no presente caso parece ter acontecido, nada há a fazer em desagravamento da injustiça cometida.
Li o livro “O ultimo Távora”uma historia real sobre este genocidio,muito triste!