A língua portuguesa é fértil em surpresas. Quando menos se espera, uma simples palavra levanta dúvidas que nem sempre têm uma única resposta. É o caso de “aldeão”. Qual será, afinal, o seu plural? “Aldeões”? “Aldeães”? “Aldeãos”? A resposta pode ser: todos.
Falada por mais de 260 milhões de pessoas e com estatuto de língua oficial em nove países, o português está entre os idiomas mais usados na internet.
Mas, por mais difundido que seja, continua a oferecer desafios, mesmo a quem o fala desde sempre.
Um desses desafios é a formação do plural das palavras terminadas em -ão, onde convivem diferentes possibilidades, dependendo da origem da palavra ou do uso consagrado.
Três plurais, uma só palavra
A forma como os nomes terminados em -ão passam para o plural varia consoante a sua etimologia. Em traços gerais, há três formas principais:
- -ões (como em leão → leões)
- -ães (como em pão → pães)
- -ãos (como em irmão → irmãos)
Estas diferenças explicam-se por raízes latinas distintas: leone, pane ou germanu, por exemplo.
Mas a verdade é que, na prática, nem sempre é fácil perceber qual a origem de uma determinada palavra — e é aí que surgem as variações possíveis.
O caso particular de “aldeão”
Curiosamente, “aldeão” admite três formas de plural: aldeões, aldeães e aldeãos. Todas estão corretas, têm o mesmo significado — habitante de uma aldeia — e podem ser usadas em contextos equivalentes. Eis alguns exemplos:
- Os aldeões reuniram-se na praça para celebrar a colheita.
- Os aldeães mantinham vivas as tradições locais.
- Os aldeãos trabalhavam em pequenas hortas junto às suas casas.
Este tipo de flexibilidade não é exclusivo. Palavras como “charlatão”, “escrivão” ou “vilão” também admitem mais de uma forma de plural.
Por vezes, há ligeiras preferências regionais ou estilísticas, mas todas as variantes são gramaticalmente válidas.
Tendências e exceções
Apesar da diversidade, há tendências que ajudam a orientar:
- Palavras mais recentes e aumentativos costumam terminar em -ões (avião → aviões, casarão → casarões).
- Cargos e títulos muitas vezes fazem o plural em -ães (capitão → capitães, tabelião → tabeliães).
- Termos com origem latina em -anu tendem para o plural em -ãos (irmão → irmãos).
Mas estas são apenas linhas orientadoras. Como se vê no caso de “aldeão”, há palavras que fogem a qualquer regra fixa.
A riqueza da língua portuguesa reside também nestas possibilidades. Ter mais do que uma forma correta para dizer a mesma coisa não é sinal de confusão — é sinal de história, diversidade e evolução.










