Foi coroado em Tomar, viveu em Lisboa e tentou governar com equilíbrio. Filho de mãe portuguesa, Filipe II de Espanha é, ainda hoje, uma figura polémica na história de Portugal.
Mas os documentos e a historiografia mais recente mostram um retrato mais complexo do rei que uniu, por algumas décadas, a Península Ibérica sob uma mesma coroa.
Raízes portuguesas e respeito pelo reino conquistado
Filho da imperatriz Isabel de Portugal e neto de D. Manuel I, Filipe II foi coroado rei de Portugal em 1581, nas Cortes de Tomar, após derrotar o Prior do Crato na Batalha de Alcântara.
Não foi uma conquista simples. Para obter o apoio da nobreza portuguesa, Filipe II teve de prometer respeito pelas leis, costumes e autonomia administrativa do reino. E, durante três anos, viveu em Lisboa, onde se adaptou à cultura portuguesa, desde a alimentação ao vestuário.
A ligação afetiva de Filipe II a Portugal era visível. A mãe falava-lhe em português, rodeava-se de damas lusas — como Leonor de Mascarenhas — e transmitiu-lhe o apreço pela terra onde nasceu.
Esse vínculo refletiu-se no incentivo ao ensino da língua portuguesa aos filhos e numa postura cautelosa ao tratar os assuntos do novo reino.
Casamentos, amantes e heranças dinásticas
Antes mesmo da união ibérica, Filipe II já tinha laços familiares com a monarquia portuguesa. Casou-se com a infanta D. Maria Manuela, com quem teve um filho, D. Carlos.
Após a morte da esposa, quase chegou a casar com D. Maria, duquesa de Viseu. Teve ainda uma relação amorosa com a portuguesa Isabel de Osório, a quem ofereceu o Palácio de Saldañuela e com quem teve dois filhos.
Após a morte de D. Sebastião e o breve reinado do cardeal D. Henrique, Filipe II tornou-se um dos principais pretendentes ao trono português. A sua vitória em Alcântara e a subsequente aclamação nas Cortes marcaram o início da União Ibérica (1580–1640).
Um governo entre sombras e equilíbrios
Apesar de ter assegurado que a coroa de Portugal não seria absorvida pela de Castela, muitos portugueses viram a união como uma imposição. O trauma de Alcácer-Quibir e a presença de tropas espanholas alimentaram o ressentimento nacional.
Ainda assim, Filipe II procurou governar com prudência. Proibiu inicialmente a publicação em português de relatos sobre a conquista, mandou que toda a documentação oficial fosse redigida em português e concedeu privilégios comerciais com as colónias espanholas — algo negado, por exemplo, aos súbditos de Aragão.
Com experiência de governo desde 1556, Filipe II manteve boas relações com a aristocracia portuguesa, reduziu custos de deslocação dos procuradores às Cortes e promoveu obras de restauro em monumentos nacionais.
Mandou ainda trazer os restos mortais de D. Sebastião do norte de África e organizou uma cerimónia solene com D. Henrique, reforçando a imagem de continuidade dinástica.
Reformas administrativas e legado duradouro
Durante o seu reinado, Filipe II deixou marcas relevantes na organização do Estado português. Criou o Supremo Tribunal no Porto, instituiu o Conselho da Fazenda e modernizou a administração financeira. Promoveu a revisão das Ordenações Manuelinas e estabeleceu as Ordenações Filipinas, que vigoraram até ao século XIX.
Também a defesa do império ultramarino não foi esquecida: mandou erguer fortalezas em Setúbal, nos Açores e em Cabo Verde, numa tentativa de reforçar a presença portuguesa além-mar.
Um episódio simbólico resume bem o seu afeto por Portugal: recolheu madeira da nau portuguesa Cinco Chagas, afundada em combate, para construir um crucifixo e o seu próprio caixão.
Reabilitação de uma figura mal-amada
Durante séculos, Filipe II foi uma figura malvista pelos portugueses. Mas a partir de 1940, aquando das comemorações da Restauração, começou a surgir uma nova leitura do seu reinado, mais baseada em fontes e menos influenciada pela memória política.
Historiadores como Carlos Margaça Veiga destacam o seu esforço em respeitar Portugal como reino autónomo, dentro da lógica da monarquia dual.
Filipe II não foi um rei perfeito, mas foi, sem dúvida, um governante atento, pragmático e, ao contrário do que muitas vezes se afirma, com verdadeiro apreço pela terra que também era sua por sangue.











Só que Filipe II não era ”espanhol” era filho duma portuguesa e dum flamengo. Falava português em casa quando esteve casado com uma portuguesa e quando morou em Lisboa, nas relaçôes diplomáticas usava o latim que dominava bem, Foi Rei em Portugal, Castela, Aragão, inglaterra, Napoles, soberano em Milão, Borgonha, Flandres e Países Baixos. Além de soberano nas Índias Ocidentais e Orientais .