Antes do 25 de Abril de 1974, a realidade em Portugal era bem diferente da que hoje conhecemos. Entre o golpe militar de 1926 e a Revolução dos Cravos, o país viveu quase cinco décadas sob um regime autoritário que marcou profundamente a vida dos portugueses.
Sob a liderança de António de Oliveira Salazar e, mais tarde, de Marcello Caetano, o Estado Novo impôs um modelo político baseado na repressão, no controlo da informação e na conservação de valores tradicionalistas.
Conhecer este passado ajuda a compreender o verdadeiro alcance da democracia conquistada.
A sombra da censura
Durante o Estado Novo, a censura era uma presença constante. Os jornais, os livros, o teatro, a rádio e o cinema estavam sujeitos a aprovação prévia e à eliminação de qualquer conteúdo que pudesse ser considerado ofensivo ou contrário à ideologia do regime.
Este controlo rigoroso silenciava críticas e mantinha a população afastada de uma visão mais ampla do mundo.
Escola ao serviço do regime
O sistema educativo foi um dos pilares do Estado Novo. Desde os primeiros anos de escolaridade, inculcavam-se valores nacionalistas, patrióticos e conservadores.
A história de Portugal era contada com ênfase nos feitos heroicos dos Descobrimentos, e o ensino promovia uma imagem idealizada da pátria.
A Mocidade Portuguesa, organização juvenil de cariz paramilitar, fazia parte deste esforço de doutrinação, promovendo a disciplina, a obediência e a lealdade ao Estado.
Economia fechada e sociedade desigual
A política económica seguia o princípio da autossuficiência, o que dificultava a modernização e agravava a escassez de produtos. A agricultura, ainda pouco mecanizada, continuava a ser a base de sustento de muitas famílias.
A falta de oportunidades levou centenas de milhares de portugueses a emigrar, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, em busca de melhores condições de vida na Europa e nas Américas.
O medo como ferramenta de controlo
A repressão política era exercida sobretudo pela PIDE (mais tarde DGS), que vigiava, interrogava e prendia qualquer cidadão suspeito de desafiar o regime.
A denúncia era incentivada, o medo instalava-se, e muitos optavam pelo silêncio. Os que ousavam resistir enfrentavam detenções, tortura e o exílio.
Vozes que não se calaram
Apesar do clima de repressão, existiram focos de resistência: movimentos estudantis, greves, intelectuais, jornalistas e militantes políticos clandestinos, como os do Partido Comunista Português, arriscavam tudo para manter viva a esperança de mudança.
A guerra que desgastou o regime
Entre 1961 e 1974, Portugal enfrentou uma guerra prolongada em África, tentando manter o controlo sobre as colónias. A Guerra Colonial teve um custo humano e económico elevado e contribuiu para o crescente mal-estar na sociedade portuguesa – um dos fatores que precipitou o fim do regime.
Um país que quis mudar
A vida durante a ditadura foi marcada por limitações severas à liberdade, ao pensamento crítico e à participação cívica.
Mas nunca faltaram aqueles que ousaram sonhar com um futuro diferente. A Revolução de Abril foi o culminar desse desejo coletivo e o ponto de viragem para uma nova fase na história do país.
Recordar este passado é essencial para valorizar as liberdades que hoje parecem garantidas, mas que foram, em tempos, um privilégio negado à maioria.










Excelente matéria, sobre um Portugal que não queremos mais!
Sou portuguesa, viemos para o Brasil em 1956 fugindo de uma Ditadura implacável.
Saudades de um país que ficou na lembrança.
uma ditadura implacavel? Coitadinha…havia de ter ido passar umas ferias a URSS para ver o que era bom para a tosse ou mesmo para a vzinha Espanha….
Ó João… passe cá no Brasil e veja a quantidade de portugueses que emigraram na época da ditadura. Ditaduras de Portugal, Espanha, URSS e outras são iguais.. matam
Se foi um Portugal que mais não quer, se foi para o Brasil em fuga de tão “implacável que era”, como pode sentir saudades…?
Sou filho, orgulhoso, de um patrício que deixou esta terra e cá no Brasil, buscou viver (apesar de ter saído de uma ditadura para ser apanhado em outra, vindo para cá em 1967, tempos de triste memória para os nossos).
E deixou aqui minha memória, tributo e carinho à todos que, de seu modo, lutaram por liberdade e paz à esta “nação valente, imortal” que também tenho como minha.
Viva a liberdade!
A maior parte deste artigo e um exagero disparatado. Eu sempre disse o que pensava, mesmo na tropa em Portugal e na Africa e nunca ninguem me chateou. E nunca fui de direita.
Ou foi um sortudo – talvez o achassem o bobo da corte e por isso nunca nada lhe aconteceu, ou não foi no Portugal reflectido no artigo ou nem sequer foi em Portugal ou o Sr. está a inventar, vá lá saber-se porquê… Porque pelo que eu me lembro (e há 45 anos tinha apenas 12, a caminho de 13 anos) e por muitas coisas que a minha mãe me contou (teria 103 anos se ainda fosse viva) o artigo não exagera em nada.
Claro que o artigo e um exagero! Fui sempre pobre, mas de uma maneira geral fui muito feliz! Era feliz quando a partir dos anos sesenta e quatro lutava contra o que se disia uma ditadura, correndo a frente e tambem atraz da policia, era feliz quando provocava a policia, era feliz quando chegava a casa e comia couves com azeite e alguma batata, eramos nove irmaos e todos nos suportavamos e apoiavamos. Sempre fasiamos reunioes ainda na primaria e tambem na secundaria sem que viesse a pide… fui feliz quando fui defender o nosso Portugal em Angola 1973, fui feliz ate que tive de emigrar em 1978! Nao comunguei nunca com os principios que comecaram a aparecer logo apos o 25 abril! Sempre me orgulhei dos principios que existiam naquele tempo antes da “liberdade”, que todos eramos pontuais, todos eramos cumpridores dos acordos que fasiamos, jogavamos em liberdade e sem o medo de ter que ir para os sicologos, exitiam os sicologos antes do 25 abril? Nas nossas excursoes da escola ou ainda dos finalistas nunca destruiamos a paisagem nem tinhamos problemas com os hoteis …por certo, na EICA escola industrial e comercial de Aveiro pertenci a turmas mistas tanto no primeiro como no segundo ano! Exagerado e fora de contexto e esse artigo na minha opiniao. Se a sua opiniao e distinta a minha, respeite-a tambem! Obrigados. Ah nasci em 1951 em Aveiro.
Concordo. Eu nasci em 1954 no distrito de Coimbra. Nunca usei farda. Na primária eram turmas mistas. No liceu eram turmas separadas inicialmente, mas muitas escolas já tinham turmas mistas antes de 1974. Nunca vi problemas com pessoas juntarem-se para discutir fosse o que fosse. Não se discutia muito porque as pessoas estavam mal informadas. Nunca conheci ninguém preso pela PIDE. Isso não quer dizer que não fossem, claro, mas não era tão prevalente como muitas vezes se representa. O pior dessa época, a meu entender, era a falta de educação/ensino e de abertura para o resto do mundo. E a pobreza.
Antes de 1974 já haviam escolas (liceus) com turmas mistas. Andei no Liceu Garcia de Orta, no Porto, a partir de 1969 e já no 1º ano do ciclo preparatório haviam meninos e meninas na mesma turma. Acho que foi a 1ª escola mista do Porto.