Escondido entre os relevos da Serra de Monfurado, no concelho de Montemor-o-Novo, ergue-se — ou melhor, resiste — o que resta do antigo Convento de Nossa Senhora do Castelo das Covas de Monfurado.
Apesar do avançado estado de degradação, este lugar guarda séculos de história, marcada por fé, isolamento e alguma ousadia.
A origem do convento remonta a finais do século XVII, quando um pequeno grupo de eremitas procurava, nas encostas da serra, um refúgio espiritual longe das tentações do mundo.
Viviam em cavernas e antigas minas romanas, deixadas ao abandono depois de séculos de exploração de ouro e prata. Entre eles destacava-se Baltasar da Encarnação, natural de Évora, que se tornou monge aos 15 anos e dizia ter visões de Nossa Senhora. Uma dessas visões levou-o a acreditar que deveria erguer ali um convento.
Sem recursos nem licença, Baltasar procurou apoio junto de João de Vilalobos e Vasconcelos, nobre da região, que, sensibilizado pela fé do monge, cedeu terrenos na serra.
Com o esforço dos habitantes locais, que ofereceram materiais e trabalho, a construção avançou. O convento ficou concluído em 1738, ano em que se celebrou a primeira missa.
O edifício seguia a simplicidade franciscana: igreja de nave única com capelas laterais, claustro de dois pisos, cripta, quartos modestos e espaços dedicados à oração, ao trabalho e ao acolhimento dos pobres.
Mas, apesar da sobriedade, foi também um centro cultural notável. Chegou a ter biblioteca com mais de mil livros, uma tipografia e uma oficina de arte sacra. Durante algum tempo, tornou-se ponto de peregrinação na região.
Com o passar dos anos, e sobretudo após a extinção das ordens religiosas no século XIX, o convento entrou em declínio. Atualmente, encontra-se em ruínas. O teto da igreja ruiu, o claustro foi vandalizado, a cripta está cheia de detritos, e os antigos quartos perderam qualquer vestígio de vida monástica.
Apesar de ter sido classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, essa proteção não travou o seu estado de abandono. Localizado em propriedade privada e de difícil acesso, o convento continua fora dos roteiros turísticos convencionais.
Ainda assim, não deixa de atrair quem procura lugares marcados pelo tempo: fotógrafos, praticantes de geocaching e curiosos que se deixam cativar pelas histórias que as pedras parecem sussurrar.
Visitar o Convento de Monfurado é, hoje, uma experiência que conjuga risco, introspeção e memória. Entre o mato e os escombros, sobrevive o testemunho de uma comunidade que escolheu a solidão como caminho de fé — e que deixou, na paisagem alentejana, um eco que resiste ao esquecimento.