Entre a vegetação que cresce livremente nos arredores de Vila Franca de Xira, o silêncio esconde uma memória esquecida. O Convento de Santo António da Castanheira, hoje em ruínas, foi em tempos um espaço de devoção, retiro e influência.
Fundado no final do século XIV, por Pedro de Alemancos – um nobre que trocou o mundo secular pela vida franciscana – este convento foi o primeiro da Ordem dos Capuchos a erguer-se nos arredores da capital. E, durante séculos, teve um papel relevante na vida religiosa e social da região.
Hoje, o que resta é uma estrutura abandonada, mas ainda carregada de significado. A igreja, de planta em cruz latina, revela camadas de estilos arquitetónicos acumulados ao longo dos tempos – do manuelino ao barroco, passando pelo maneirismo e neoclassicismo.
À volta, as dependências conventuais estendem-se em fragmentos: o claustro, celas, jardins de buxo, casas de fresco, poço, tanque e até os antigos lagares.
Nas paredes gastas, os vestígios de um passado que também se escreveu com nomes sonantes. Aqui estão sepultados membros das famílias Ataíde e Quintela, figuras centrais da aristocracia portuguesa e benfeitores do convento.
Conta-se ainda que, em 1493, Cristóvão Colombo terá visitado este lugar, e confidenciado aos frades a sua alegada origem portuguesa – uma das muitas histórias que envolvem o convento em mistério.
Mas a história nem sempre é feita de glória. Com a extinção das ordens religiosas no século XIX, o convento entrou em declínio. Foi saqueado durante as Invasões Francesas, voltou a sofrer durante o período das guerras liberais e, desde então, nunca mais recuperou.
Apesar de ter sido classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, continua sem intervenção significativa e exposto ao abandono.
O edifício, que poderia ser ponto de interesse histórico e cultural, permanece fechado ao público. As visitas são possíveis apenas mediante marcação prévia com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira ou com a Direção-Geral do Património Cultural – e devem ser feitas com cautela, dada a fragilidade da estrutura.
Para quem quiser conhecer melhor a história do convento em segurança, o Museu Municipal de Vila Franca de Xira guarda algumas peças e documentos associados ao espaço: pinturas, esculturas, livros antigos e azulejos.
É uma forma de espreitar o que foi este convento, mesmo sem pisar o chão das suas celas ou ouvir o eco dos passos nos corredores.
O Convento de Santo António da Castanheira é, infelizmente, um espelho de outros tantos casos de património esquecido em Portugal.
Um lugar que poderia contar a história de séculos e aproximar-nos do passado, mas que hoje permanece à espera de um olhar atento – e de uma segunda vida.










