Pode soar apenas a cantiga popular, mas “olarilolé” tem raízes muito mais profundas — e leva-nos diretamente ao mundo árabe e à história da Península Ibérica.
Muitas vezes associada a momentos de festa, folclore ou até a exclamações alegres, a palavra “olarilolé” faz parte do imaginário sonoro de quem fala português. Aparece em cantigas, em danças tradicionais, em refrões que atravessam gerações.
No entanto, poucos saberão que esta expressão tem uma origem surpreendentemente antiga e religiosa, que remonta ao período da presença islâmica na Península Ibérica.
A origem de “olarilolé” remonta à frase árabe la ilaha illa Allah, que significa “não há divindade senão Deus” — a profissão de fé islâmica (Shahada), um dos cinco pilares do Islão.
Durante o domínio muçulmano na Península (entre 711 e 1249, no caso do território que viria a ser Portugal), houve uma intensa troca cultural e linguística.
Foram milhares os termos árabes que se fixaram no português, da agricultura à ciência, da arquitetura à linguagem do dia a dia.
“Olarilolé” será um desses casos, fruto de uma adaptação fonética e cultural que transformou uma expressão profundamente religiosa numa exclamação secular.
A transformação de la ilaha illa Allah em “olarilolé” é um exemplo notável de como a linguagem se adapta, simplifica e ressignifica.
A sonoridade original foi alterada ao longo do tempo até se encaixar num novo contexto cultural – já sem o seu significado religioso explícito, mas mantendo uma carga expressiva marcante.
Hoje, “olarilolé” é usado em ambientes festivos, populares e informais. Pode ser uma interjeição de entusiasmo, uma forma de animar uma canção, ou um grito espontâneo de alegria.
Nas danças e cantares tradicionais, surge frequentemente como forma de ritmo ou refrão – quase como um eco da musicalidade da língua árabe.
Mais do que uma curiosidade etimológica, “olarilolé” é um exemplo vivo da forma como as línguas são moldadas por encontros e fusões culturais.
A sua origem muçulmana, disfarçada na sonoridade leve de uma palavra festiva, lembra-nos que a história de Portugal é feita de camadas – de trocas, convivências e adaptações que ainda hoje se escutam na forma como falamos.
Palavras como esta são janelas para o passado. Ao conhecermos a sua origem, olhamos de forma mais consciente para a riqueza da nossa própria língua – e para a diversidade de influências que ajudaram a construí-la.










