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Fijus di Terra: 500 anos depois ainda se fala português no Senegal

Os fijus di Terra são uma pequena comunidade descendente de portugueses que, 500 anos depois, ainda fala um crioulo português no Senegal.

VxMag by VxMag
Jan 1, 2025
in História
1
Fijus di Terra

Fijus di Terra

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A presença histórica dos fijus di terra na região da Casamansa, no sul do Senegal, remonta ao século XV, quando os navegadores portugueses chegaram à costa ocidental de África e fundaram entrepostos comerciais em zonas como Cacheu, Bissau e Ziguinchor.

Destas relações económicas e culturais com os povos locais resultou uma população mestiça que adoptou o catolicismo e o português como elementos fundamentais da sua identidade. Hoje em dia, os fijus di terra mantêm uma ligação profunda com a herança lusófona, apesar dos desafios políticos e sociais que enfrentam.

Desde o início da colonização, os portugueses instalaram-se em vários pontos estratégicos ao longo da costa. Nestes entrepostos, contraiam matrimónio com mulheres africanas, dando origem a descendências mestiças que conservaram alcunhas, hábitos religiosos e traços da cultura europeia.

A língua crioula emergiu naturalmente deste encontro de civilizações, evoluindo para o crioulo de Casamansa. Ao mesmo tempo, os fijus di terra marcaram a diferença em relação a outros grupos étnicos pela prática do catolicismo, pelas roupas mais próximas do estilo ocidental e pelo uso de termos herdados da língua de Camões.

A lealdade dos fijus di terra a Portugal manteve-se firme nos períodos em que potências como a França, a Inglaterra ou a Holanda disputavam territórios na região. Esta fidelidade não impediu, no entanto, que, em 1886, Portugal cedesse a Casamansa à França, alterando drasticamente o panorama político. Ainda assim, a comunidade continuou a valorizar o crioulo de base portuguesa e a tradição católica.

Séculos mais tarde, o governo senegalês reconheceu-os como um grupo específico, conferindo-lhes direitos como a possibilidade de ensinar e aprender português nas escolas públicas, bem como de participar na vida política e religiosa ligada à lusofonia.

A língua crioula dos fijus di terra, também conhecida como crioulo de Casamansa, é falada sobretudo em Ziguinchor, capital regional, mas encontra-se igualmente noutros locais, como Oussouye, Carabane e Djembering.

Trata-se de um crioulo de estrutura gramatical simples, porém com um léxico rico, que integra não só termos portugueses, mas também empréstimos do francês, do uolofe e de outras línguas regionais.

Por ter poucos falantes e sofrer a concorrência do francês (língua oficial do Senegal) e do uolofe (falado pela maioria da população), o crioulo de Casamansa encontra-se em risco de desaparecer, segundo a classificação da UNESCO.

Apesar destas dificuldades, existem projectos que procuram preservar este património linguístico e cultural. Um exemplo é o projeto Fidjus di Terra (Filhos da Terra), que fomenta o ensino e a divulgação do crioulo, incentiva a produção artística local e promove a cultura lusófona através de atividades educativas e culturais.

Existem também iniciativas individuais de investigação académica, dedicadas à documentação da língua, à elaboração de dicionários e à recolha de expressões orais.

Os fijus di terra enfrentam, no entanto, vários obstáculos no Senegal contemporâneo. O primeiro relaciona-se com o conflito armado que atinge a Casamansa desde 1982, marcado pela insatisfação dos movimentos separatistas que reclamam maior autonomia ou mesmo a independência da região.

A violência associada a este confronto provocou deslocações populacionais, dificultou o acesso a recursos e gerou pobreza, fatores que afetam todas as comunidades locais, incluindo os fijus di terra.

Outro desafio diz respeito à integração social e económica. Sendo o Senegal um país de maioria muçulmana e de língua oficial francesa, muitos fijus di terra sentem-se marginalizados ou discriminados, sobretudo porque as oportunidades de emprego, educação e participação política podem ser limitadas para grupos minoritários.

Em resposta, vários optam pela emigração, procurando melhores condições de vida em nações como a Guiné-Bissau, a França ou o Brasil. Este êxodo tende a enfraquecer os laços culturais com a Casamansa, pois o contacto diário com o crioulo e com as tradições católicas torna-se mais difícil no estrangeiro.

A preservação da identidade dos fijus di terra é, assim, um desafio constante. Entre a tensão política, as assimetrias sociais e o peso da globalização, a comunidade tenta manter viva a língua crioula, as celebrações religiosas e o legado cultural que remonta a várias gerações.

Trata-se de uma história de resistência e de apego às raízes lusófonas, que continua a moldar a vida de quem permanece na Casamansa e de todos os que, mesmo partindo, procuram manter acesa a chama do seu património singular.

VxMag

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Comments 1

  1. Almeida da Câmara says:
    11 meses ago

    O governo (através do Instituto Camões, por exemplo) devia interessar-se por este e outros vestígios vivos da nossa grande História e nossa cultura que intrepidamente sobrevivem em várias partes do mundo. Porque não comemorar o 10 de Junho nestes locais? Seia uma forma de mostrar aos governos desses países onde existem vestígios de antigas comunidades lusófonas que Portugal não as esquece.

    Responder

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