Em 1919, Portugal vivia em clima de guerra civil, entre monárquicos e republicanos. Os monárquicos, descontentes com a queda do regime alguns anos antes, em 1910, tentaram restabelecer a monarquia em Portugal, começando pelo norte do país. Entre combates aguerridos e a confusão geral, apenas uma localidade do Norte acabou por permanecer fiel aos ideais da república: Chaves, que já tinha sido essencial na consolidação da república em 1912, quando repeliu outros ataques de monárquicos. Foi assim que nasceu o mito da “República Livre de Chaves”.
Paiva Couceiro conseguiu estabelecer a monarquia no Porto, no dia 19 de janeiro de 1919, havendo repercussões em Monsanto quatro dias depois, tendo o país entrado em guerra civil, com os monárquicos a norte a resistir às forças republicanas.
Conseguiram aguentar 25 dias, até 13 de fevereiro de 1919. Os monárquicos de Monsanto seriam vencidos muito mais cedo, a 23 de janeiro. Aires de Ornelos comanda as tropas monárquicas, que se posicionam na serra de Monsanto, sendo influenciadas pelo movimento monárquico do Porto.
Já o governo republicano nomeou Vieira da Rocha para organizar o ataque a estas fações de Monsanto. Grande parte dos civis acompanham os republicanos, e, segundo a imprensa do tempo, esta contribuição popular terá sido de fundamental importância no desfecho da batalha, com a vitória republicana a acontecer no final da tarde de 24 de janeiro.
Enquanto se combatia em Monsanto, a 23 de janeiro, tropas republicanas ocuparam quartéis em Bragança, sendo que os monárquicos foram derrotados nesse mesmo dia em Viseu. Apesar disso, no dia 24, Vila Real e Estarreja juntaram-se à causa monárquica, sendo proclamado o velho regime nesses locais. A 26 de janeiro, o general Alberto da Costa Ilharco é nomeado comandante das tropas republicanas, num clima de autêntica guerra civil.
Nos últimos dias de janeiro desse ano, ocorreram vários combates entre republicanos e monárquicos no Norte de Portugal. Apesar do esforço dos republicanos, que queria “converter” o povo às causas da república, muitas pessoas preferiam ainda a monarquia, para o que contribuiu o peso da religião católica e os dissabores que a participação portuguesa na I Guerra Mundial trouxe ao povo.
A 28 de janeiro, sai de Lisboa uma divisão naval com o objetivo de operar contra as forças monárquicas do Norte. Os combates prosseguem nos dias seguintes, sendo que a 29 se dá o recontro de Angeja, e no dia 30 os monárquicos tentam ocupar Aveiro, sem sucesso, ficando esta cidade como uma das fronteiras que dividia o país da altura. No último dia de janeiro, as forças republicanas avançaram no terreno, passando Angeja e Albergaria-a-Velha.
Bem mais a Norte, um concelho continuava a resistir ao avanço monárquico, proclamando os ideias da República, Chaves, com a determinação do Tenente-coronel Ribeiro de Carvalho. Foi desta cidade que saíram diversas forças militares, que ajudariam a deter o avanço da ofensiva monárquica. Assim, a vila de Chaves foi uma exceção no Norte, mantendo-se fiel à república pela tenaz resistência e lealdade da população.
Isolada do resto do país pelas forças monárquicas e sem que o Governo os tivesse auxiliado, Chaves viveu assim este período como uma pequena república, a “República Livre de Chaves”, como era tratada pela imprensa da capital após o fim da rebelião da monarquia.
A 24 de março de 1919, Chaves recebeu o galardão da Ordem de Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito, acontecimento que deixou os flavienses orgulhosos, sendo o seu valor reconhecido por todos os portugueses.
O valor dos “Heróis de Chaves” ainda perdura, passado um século, através da memória popular, a atribuição de nomes de ruas e outras formas de distinção. Localidades como Lisboa, Porto, Penamacor, Salvaterra de Magos, Nazaré e muitas outras ainda hoje possuem ruas e avenidas com o nome “Heróis de Chaves”.
É mais foi a republica que colocou Portugal a agitação politica, crise economica e levou a Salazar e sua ditadura por mais de 30 anos.