Quando os portugueses chegaram ao Japão, em meados do século XVI, abriram uma rota de trocas que foi muito além das especiarias e da prata. Chegaram mercadorias, técnicas, crenças e também palavras.
O português tornou-se língua de contacto entre missionários, mercadores e cortes locais, deixando marcas que ainda hoje se ouvem no japonês.
Nem tudo o que costuma circular em listas é correto – há termos que vieram do holandês ou do inglês -, mas o núcleo de empréstimos portugueses (ou via português) é sólido e fascinante.
Eis um conjunto de palavras com etimologia amplamente reconhecida:
- pan (パン) — de pão. Generalizou o termo para o pão de trigo.
- bōro (ボーロ) — de bolo. Sobrevive em biscoitos como os tamago bōro.
- botan (ボタン) — de botão.
- bīdoro (ビードロ) — de vidro. Designou vidro e certos brinquedos de sopro.
- birōdo (ビロード) — de veludo.
- furasuko (フラスコ) — de frasco.
- karuta (カルタ) — de carta. Jogos de cartas que se enraizaram localmente.
- konpeitō (金平糖) — de confeito. Os pequenos cristais de açúcar tornaram-se iguaria de oferta.
- kasutera (カステラ) — de (pão de) Castela. Bolo esponjoso emblemático de Nagasaki.
- tabako (たばこ) — de tabaco (via português/ espanhol).
- shabon (シャボン) — de sabão (via português/ espanhol), hoje mais comum em shabon-dama (“bolas de sabão”).
- kapitan (カピタン) — de capitão. Título aplicado a chefes europeus em portos como Nagasaki.
- oranda (オランダ) — de Holanda. Nome que os japoneses fixaram para os neerlandeses.
- kirishitan (キリシタン) — de cristão. Termo histórico para os cristãos no Japão.
- kappa (合羽) — de capa. Capa impermeável; o empréstimo manteve-se no vestuário.
Há outros casos de influência luso-ibérica na alimentação e no léxico religioso (como bateren, de padre), e até discussões interessantes como tempura: não é seguro ligar o nome apenas a tempero, mas a prática de fritura em dias de abstinência católica e o contato com missionários ibéricos são parte da história.
Importa, porém, separar mito de realidade. Costumam surgir em listas como “portuguesas”, mas não o são no japonês moderno: arukōru (álcool, via holandês/alemão), ranpu (lâmpada, via holandês), miruku (leite, inglês), kurisumasu (Natal, inglês), pandōro (italiano), koppu (copo, via holandês) e bīdama (berlinde? na verdade “bola de vidro”, de bīdoro + tama).
O legado português no Japão não é uma lista interminável; é um retrato nítido de um momento histórico: o encontro entre Nagasaki e o mundo, quando novas coisas precisaram de novos nomes. E alguns desses nomes nasceram em português.










