No coração rural de Torre de Moncorvo, entre oliveiras e campos tranquilos, ergue-se uma ermida que surpreende quem a visita — não tanto pela imponência exterior, mas pelo que guarda no seu interior.
A Ermida da Senhora da Teixeira é um pequeno templo do século XVI, cuja decoração a fresco tem inspirado comparações com a Capela Sistina.
Situada na localidade de Sequeiros, esta igreja de uma só nave, com altar-mor quadrado e fachada modesta, é tudo menos comum. As paredes e o teto estão revestidos com cerca de 40 painéis pintados com cenas do Novo Testamento, que vão da Natividade ao Juízo Final, passando pela Última Ceia e pelo Pentecostes.
Um conjunto que impressiona pela expressividade das figuras e pela força narrativa das imagens, sobretudo se tivermos em conta a origem remota deste lugar.
Conta-se que foi um eremita, cujo nome se perdeu no tempo, o responsável por construir a ermida e decorar o seu interior. Diz-se que teria viajado até Itália e conhecido a Capela Sistina, de onde trouxe inspiração — e, segundo algumas lendas, até pedras.
Terá regressado determinado a reproduzir, com meios humildes, aquilo que viu no coração de Roma. A técnica usada — pintura a fresco sobre argamassa ainda húmida — confere intensidade às cores e resistência ao tempo, razão pela qual os painéis chegaram até hoje com notável vivacidade.
Há quem diga que o eremita se chamava Jordão do Espírito Santo, um homem rico que teria abandonado tudo para se entregar à fé e à arte. Viveu junto à ermida até à morte e foi sepultado no seu interior, junto ao altar. A sua sepultura permanece visível, num gesto de memória perpétua.
À lenda junta-se a simbologia: sobre o portal da fachada lê-se “Hic locus est sanctus” (“Este lugar é santo”), e acima destaca-se uma cruz latina sobre uma esfera armilar — símbolo do império português e da expansão marítima.
Um detalhe curioso para um espaço isolado, que parece unir a espiritualidade contemplativa com o mundo que se abria além-mar.
A imagem de Nossa Senhora da Teixeira, padroeira da ermida, repousa no altar-mor de talha dourada, ladeada por outras figuras religiosas.
Mas é impossível não fixar o olhar nos frescos: restaurados recentemente, voltaram a mostrar as cores originais e o detalhe com que foram executados.
Hoje, visitar a ermida é muito mais do que entrar num templo religioso. É aceder a um espaço onde fé, arte e memória popular se entrelaçam num gesto de criação singular.
Um testemunho discreto, mas poderoso, do que pode nascer da devoção de um só homem — e resistir durante séculos no silêncio de Trás-os-Montes.










