A poucos passos da Praia da Adraga, numa das zonas mais recortadas e selvagens da costa de Sintra, ergue-se a Pedra de Alvidrar.
Este rochedo abrupto, que mergulha diretamente no mar, tem sido ao longo dos séculos ponto de fascínio, palco de lendas e testemunho de práticas que misturam superstição, desafio e espetáculo.
Hoje, é sobretudo um lugar de silêncio e vertigem, frequentado por pescadores audazes e por quem procura paisagens marcantes. Mas a sua história tem raízes antigas.
No tempo dos romanos, conta-se que ali se realizavam julgamentos singulares: os acusados eram lançados da rocha — sobreviver era sinónimo de inocência. Mais tarde, já em tempos modernos, homens e rapazes desciam a rocha para entreter turistas, num ritual perigoso que impressionava quem assistia.
O escritor Francisco de Almeida Jordão, em 1748, descrevia assim a Pedra de Alvidrar: «É toda escabrosa em declive até ao mar, de uma altura imensa, que foge o lume dos olhos quando se olha para baixo».
Uma descrição que mantém atualidade, sobretudo para quem se aproxima da falésia nos dias de mar revolto.
Nas imediações, destaca-se o Fojo – um poço natural com cerca de 90 metros de profundidade que comunica com o mar. A sua formação resulta da ação combinada da água da chuva e da força das ondas, criando um sistema de fendas e cavernas que alimentou o imaginário popular.
Diz-se que os romanos acreditavam ouvir, no interior do Fojo, o som de um tritão a tocar búzio. Tamanha era a convicção, que chegou a ser enviada uma embaixada ao imperador Tibério para relatar o fenómeno.
Também a lenda da origem da Pedra de Alvidrar e do Fojo é marcada por tragédia. Conta-se que o deus Vulcano, furioso por ver recusado o casamento com a princesa Al-vidrar – prometida ao seu sobrinho Foje – lançou uma violenta investida contra o casal.
Da batalha resultaram apenas dois corpos carbonizados, que, segundo o mito, deram origem à formação rochosa e ao poço profundo que ali se encontram.
A visita à Pedra de Alvidrar exige cuidado, especialmente fora da época seca, e não é recomendada a quem sofre de vertigens. No entanto, a envolvência natural é soberba.
A poucos minutos, encontram-se a Praia da Adraga e a selvagem Praia da Ursa. E a curta distância, o Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa continental, oferece uma das vistas mais amplas sobre a costa portuguesa.
Sintra, com os seus palácios, jardins e misticismo, está logo ali. Mas há algo de diferente nesta zona costeira: um silêncio mais denso, uma luz mais crua e histórias que resistem ao tempo. A Pedra de Alvidrar é, ainda hoje, uma delas.










