D. Pedro IV prometeu nunca esquecer a cidade que o acolheu em tempos difíceis — e cumpriu a promessa no sentido mais literal.
É na Igreja da Lapa, no coração do Porto, que repousa… o coração de um rei. D. Pedro IV, figura marcante da História de Portugal e do Brasil, encontrou nesta cidade algo que não encontrou em mais nenhuma: um povo que lhe foi leal mesmo nos momentos mais sombrios. Como agradecimento, deixou-lhes uma herança invulgar.
Uma relação forjada no meio do fogo
Em 1832, as ruas do Porto tornaram-se palco de resistência. A cidade resistia ao cerco das tropas absolutistas de D. Miguel, numa guerra fratricida que dividiu o país entre liberais e miguelistas.
Foi nesse cenário que D. Pedro IV, já conhecido como o “Rei Soldado”, desembarcou no norte, decidido a restaurar o trono da filha, D. Maria II, e a causa liberal.
Durante mais de um ano, os portuenses suportaram bombardeamentos, fome e miséria. Mas não cederam. E D. Pedro viu nesta resistência não apenas um feito militar — mas um gesto de coragem civil que merecia ser eternizado.
O coração que ficou
Após a vitória liberal e o fim do cerco, o rei visitou o Porto, entre julho e agosto de 1833. Participou em cerimónias solenes, entregou as chaves da cidade à filha rainha, e assistiu a um Te Deum na Igreja da Lapa. Foi aí que selou, definitivamente, o seu compromisso com a cidade.
No testamento, D. Pedro deixou expresso o desejo de que, após a sua morte, o seu coração fosse entregue à cidade do Porto.
E assim foi. Dois anos depois da sua morte, em 1834, o órgão chegou à cidade e foi depositado num mausoléu na Igreja da Lapa — onde permanece até hoje.
A cidade invicta
Em 1837, o decreto que eternizou este gesto foi redigido por Almeida Garrett: o brasão do Porto passaria a incluir um coração dourado — o de D. Pedro — rodeado de símbolos de coragem e de fidelidade.
A cidade ganhava, assim, o título de “Invicta”, símbolo da resistência e do espírito combativo dos seus habitantes.
Hoje, quem visita a Igreja da Lapa não encontra apenas um espaço de culto. Encontra também uma cápsula do tempo — um elo físico entre o passado e o presente, entre um rei e uma cidade.
O coração de D. Pedro IV continua lá, como promessa cumprida de uma aliança rara entre povo e monarca.










