O português domina o território nacional, mas há outra língua que também tem estatuto oficial — embora apenas numa pequena região.
O mirandês, falado no concelho de Miranda do Douro, é a segunda língua oficial do país, resultado de um esforço de valorização cultural que vai além do simbolismo.
E há ainda os muitos dialetos que mostram a diversidade escondida por detrás da aparente uniformidade linguística portuguesa.
O português: identidade comum com múltiplas vozes
Portugal é, à escala europeia, um país linguisticamente homogéneo. Ao contrário do que acontece noutros Estados, onde várias línguas oficiais coexistem, o português é, desde a fundação do Reino de Portugal, a única língua com esse estatuto a nível nacional.
Foi no século XII que o latim vulgar falado no noroeste peninsular começou a diferenciar-se de outras línguas da Península Ibérica.
A consolidação do português acompanhou a formação do país e, mais tarde, expandiu-se para outros continentes, tornando-se língua oficial em países como o Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau ou Timor-Leste.
Mas a unidade não significa ausência de diversidade.
O mirandês: a exceção que confirma a regra
Desde 1999, o mirandês é reconhecido como língua cooficial em Portugal — embora apenas no território de Miranda do Douro. Esta língua, pertencente ao grupo asturo-leonês, conta com cerca de 15 mil falantes e é ensinada nas escolas, utilizada em sinalética local e em algumas publicações regionais.
O reconhecimento oficial foi mais do que uma formalidade. Representou o esforço do Estado português em valorizar uma herança cultural e linguística que corria o risco de desaparecer.
A legislação aprovada no final dos anos 90 permitiu que esta língua, de raízes medievais, tivesse visibilidade institucional e pudesse continuar a ser falada pelas novas gerações.
Dialetos: variações que contam histórias
Para além do mirandês, há ainda os falares regionais — formas de expressão que variam de norte a sul, passando pelos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Estas variantes não constituem línguas autónomas, mas revelam diferenças de pronúncia, vocabulário e construções gramaticais.
Apesar de serem muitas vezes vistos apenas como curiosidades linguísticas, os dialetos são vestígios vivos da evolução histórica e cultural de cada região.
Em várias universidades portuguesas, há estudos dedicados à documentação e análise destas variantes, contribuindo para a preservação de um património que, embora imaterial, é parte fundamental da identidade nacional.
Uma herança a preservar
O caso do mirandês e o interesse crescente pelos dialetos portugueses revelam uma consciência clara: a língua é muito mais do que um instrumento de comunicação. É também um espelho da história, da geografia e da cultura de um povo.
Num país onde o português é omnipresente, estas outras formas de falar recordam que há múltiplas vozes na construção da identidade nacional — e que vale a pena ouvi-las.










