A 20 de setembro de 1276, Pedro Julião (ou Pedro Hispano, como também era conhecido) foi coroado com o nome de Papa João XXI, uma semana depois da sua eleição para o papado, em Viterbo. Esta votação esteve envolvida nalguma agitação, já que o seu predecessor, Adriano V, tinha falecido prematuramente, pouco mais de um mês após a sua eleição.
Numa altura em que na Europa prevaleciam os conflitos e guerras entre vários pequenos reinos e com a ameaça dos muçulmanos à porta, ser Papa significava ser a pessoa mais poderosa do mundo naquela época. Reis, nobres e povo… todos deviam obediência ao sumo pontífice. Era ele quem ditava as leis, estabelecia as regras e mediava conflitos.
Ironicamente, o pontificado de João XXI foi também curto e teve um fim abrupto e trágico, em meados do ano seguinte. Erudito e estudiosos, o Papa português tinha reservado para si um anexo no palácio papal de Viterbo, onde podia trabalhar mais sossegadamente. A 14 de maio de 1277, o edifício acabou por ruir quando o Papa estava sozinho no seu interior, tendo este falecido alguns dias mais tarde devido aos ferimentos sofridos. Encontra-se sepultado na catedral de Viterbo e foi o único Papa português na história da Igreja Católica.
Esta morte acidental foi interpretada, naquela época, como castigo divino. O facto de Pedro Hispano ter falecido por esmagamento causado pela queda de uma estrutura mandada construir por ele próprio foi visto como uma resposta de Deus à sua suposta arrogância e falta de humildade.
Mas quem era Pedro Hispano? Nascido em Lisboa, entre 1210 e 1220, recebeu o nome de Pedro Julião Rebolo. Estudou na escola episcopal de Lisboa e, mais tarde, na Universidade de Paris, contactado com alguns dos maiores intelectuais da época, como S. Tomás de Aquino. Acabou por ser professor na Universidade de Siena, em Itália.
Em certo sentido, a eleição de Pedro Hispano como Papa não deixa de ser surpreendente, pois ele não pertencia a nenhuma família da nobreza romana, itálica, ou gaulesa, cujos membros eram tradicionalmente nomeados para ocupar a mais alta posição da Igreja Católica Romana.
Era um homem estudioso e com uma rica cultura científica, tendo escrito tratados de medicina, lógica e filosofia. Uma das suas obras, um comentário à lógica de Aristóteles, foi amplamente difundida, traduzida para diversas línguas e utilizada durante séculos em universidades europeias.
Há quem defenda que estes tratados foram escritos por um frade dominicano espanhol com o mesmo nome. Seja como for, o prestígio de Pedro Julião permitiu que este subisse rapidamente na hierarquia da Igreja Católica em Portugal, desempenhando diversos cargos na Sé de Lisboa, no Porto e em Guimarães, até ser nomeado arcebispo de Braga, em 1273. Por esta altura, participou no Concílio de Lyon, graças à sua proximidade com Gregório X, de quem foi médico pessoal.
Já enquanto papa, as primeiras decisões de Pedro Hispano foram referentes às regras do conclave, ou seja, à reunião dos cardeais para eleger um novo Papa. João XXI dedicou a sua atenção aos principais problemas da Europa da altura, como a reconciliação com a Igreja Ortodoxa, o relacionamento com o Império Mongol e com a preparação de uma nova cruzada à Terra Santa. Procurou reforçar o poder da Santa Sé, agindo como mediador em diversos conflitos, na Sicília, Inglaterra, Castela, França, e no Sacro Império Romano-Germânico.
Apesar de tudo, era claro que ele se dedicava mais aos estudos e medicinas que aos afazeres do seu cargo, delegando muitas das suas funções no cardeal Orsini, que lhe veio a suceder como Nicolau III. Dante, na sua Divina Comédia, coloca Pedro Hispano no Paraíso, ao lado das almas das grandes figuras da cristandade medieval.