Na terceira ilha dos Açores a ser descoberta pelos navegadores do séc. XV, Angra do Heroísmo foi a primeira cidade do arquipélago, estrategicamente situado no Oceano Atlântico. O local escolhido pelos primeiros povoadores foi uma crista de colinas, que se abria, em anfiteatro, sobre duas baías, separadas pelo vulcão extinto do Monte Brasil. Uma delas, a denominada “angra”, tinha profundidade para a ancoragem de embarcações de maior tonelagem, as naus.
Tinha como vantagem a protecção de todos os ventos, excepto os de Sudeste. As primeiras habitações foram erguidas na encosta sobre essa angra, em ruas íngremes de traçado tortuoso, dominadas por um outeiro. Neste pelo lado de terra, distante do mar, foi iniciado um castelo com a função de defesa, à semelhança do urbanismo medieval europeu: o chamado Castelo dos Moinhos.
A sua longa história e o património construído ao longo de séculos levaram a que o centro histórico fosse classificado Património Mundial. A cidade, assim como muitas outras localidades dos Açores, tem uma beleza especial que resulta do contraste entre a natureza exuberante e a pedra escura utilizada na construção, reveladora da origem vulcânica das ilhas. De facto, Angra do Heroísmo foi tão importante para a História de Portugal que, embora muitos o desconheçam, chegou a ser capital do país em duas vezes distintas. Estes são os melhores locais para visitar em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, nos Açores.
1. Centro Histórico de Angra do Heroísmo
Protegida dos ventos dominantes e com localização atlântica privilegiada, Angra foi escolhida pelos navegadores portugueses para ser porto de abrigo nas grandes viagens dos Descobrimentos. As naus de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, por exemplo, fizeram escala nas suas baías naturais. Ouro, prata, especiarias, todas as riquezas das Índias Orientais e Ocidentais eram cobiça de piratas. Duas grandes fortalezas, São Sebastião e São Filipe, foram construídas para defender a cidade que, desde a Idade Média, vinha crescendo à volta do Castelo. Durante três séculos, Angra está no centro das rotas comerciais e faz a ligação entre quatro continentes: Europa, Ásia, África e América. Ali foi estabelecida a Provedoria das Armadas e Naus da Índia.

No século XV, Angra prospera, a malha urbana cresce, adaptando-se às colinas e às condições climatéricas. No século XVI, em 1534, é elevada a cidade por D. João III e, no mesmo ano, fica sede do Arcebispado dos Açores. São desta fase algumas das suas mais importantes construções: a Catedral do Santíssimo Salvador, num gótico tardio com traços do maneirismo; o Convento e a Igreja de S. Francisco, com as suas fachadas sóbrias e os interiores enriquecidos em azulejaria, talha dourada e pintura; as Igrejas da Misericórdia e do Santo Espírito, o Palácio dos Capitães-Generais… a lista é grande e monumental. O terramoto de 1980 destruiu oitenta por cento deste património, mas o trabalho de reconstrução foi exemplar e, apenas três anos depois, o comité da UNESCO reconheceu a importância do centro de Angra do Heroísmo para a história da Humanidade. Propomos uma viagem guiada por António Filipe Pimentel, Historiador de Arte, a esta cidade pequenina, de ruas e praças harmoniosas, preservada pelas gentes que lhe conhecem e reconhecem o valor.
2. Igreja da Misericórdia
A bonita Igreja da Misericórdia situa-se na bonita Rua do Santo Espírito, em pleno centro histórico da maravilhosa cidade de Angra do Heroísmo, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. A Igreja terá sido construída no início do século XVIII, no local onde, em 1492, tinha sido fundado o primeiro Hospital dos Açores. Num estilo Barroco sóbrio, a Igreja caracteriza-se pela nave central ladeada por duas torres sineiras com zimbório, decorada de branco e azul, destacando-se dos demais edifícios que a circundam.

No interior destacam-se as suas seis capelas laterais com obras escultóricas de grande beleza e valor, bem como pinturas atribuídas ao período Barroco. Um dos fundadores foi João Vaz – Corte Real Capitão do Donatário de Angra e descobridor da Terra Nova. A Misericórdia, que veio depois, associando-se à confraria já existente, mandou construir o actual templo (séc. XVIII) onde se notam, frente a frente os dois altares (do Espírito Santo, à esquerda e do Santo Cristo das Misericórdias, à direita).
3. Sé de Angra do Heroísmo
A Sé Catedral de Angra do Heroísmo é o maior templo e um dos principais monumentos desta bonita cidade Património da Humanidade, em plena Ilha Terceira, no maravilhoso Arquipélago dos Açores. O actual templo terá sido construído sobre a anterior Igreja de São Salvador, datada provavelmente de 1496, ostentando um estilo Gótico contemporâneo da data da sua construção. A Igreja, contudo, revelou-se pequena para a crescente população de Angra do Heroísmo, que se afirmava como uma vila em franca expansão e riqueza. Da primitiva Igreja resta o altar mor, situado debaixo da Capela.

Procedeu-se, em 1570, à construção da Sé Catedral, num estilo imponente, procedendo-se posteriormente no século XX a diversos trabalhos de restauro, uma vez que diversas calamidades naturais, nomeadamente o terramoto de 1980 e um grande incêndio em 1984, causaram séria destruição. A Sé Catedral de Angra do Heroísmo é caracterizada pela sua sóbria fachada de duas torres sineiras, e apresenta um bonito interior com tecto esculpido em cedro, azulejaria do século XVII, uma galeria de pinturas retratando os bispos de Angra, esculturas do século VII, mobiliário em jacarandá e o famoso órgão de grandes dimensões.
4. Museu de Angra do Heroísmo
Fundado em 1949, o Museu de Angra do Heroísmo é um serviço público da Região Autónoma dos Açores, que se encontra instalado no antigo Convento de S. Francisco, no centro da cidade de Angra. Esta construção do século XVII, agora restaurada e adaptada a Museu, e reaberta ao público desde 22 de Novembro de 1997, tem anexa a Igreja de Nossa Senhora da Guia, igreja de estilo maneirista da segunda metade daquele século.

Entre outros elementos, são de reter o altar-mor em talha dourada do século XVIII, o órgão português dos finais do século XVIII (Machado Cerveira) e o conjunto de painéis de azulejos representando cenas da vida de S. Francisco de Assis, do seu coro-alto. Numa anterior construção do século XV foi sepultado, em 1499, Paulo da Gama (irmão de Vasco da Gama), na viagem de regresso da Índia, e João Vaz Corte-Real, descobridor da Terra Nova.
5. Convento de São Francisco
Fundado ainda no século XV, nas casas e capela doadas por Afonso de Antona Baldaya, foi o primeiro convento masculino de Angra. No edifício inicial, de feição gótico-final, foram sepultados Paulo da Gama e o Capitão Vaz Corte Real, entre outras personalidades de relevo.

A majestosa remodelação seiscentista, por impulso de Frei da Conceição Naranjo e de que a igreja é bom exemplo, deu-lhe o actual aspecto. Serviu de sede à Província Franciscana dos Açores (S. João Evangelista) e foi escola conventual respeitada, célebre e protegida. Após a extinção das ordens religiosas foi seminário e liceu. A partir de 1969 está nele instalado o Museu de Angra do Heroísmo.
6. Palacete Silveira e Paulo
João Jorge da Silveira e Paulo, cuja família viveu em São Tomé durante vários anos, mandou construir este palacete, terminado por volta de 1902. O seu interior apresenta, ao gosto da época, uma bela colecção de revestimentos a estuque. Adquirido para serviço público, aqui funcionaram a Escola Industrial e Comercial, o Ciclo Preparatório e o Conservatório Regional de Angra do Heroísmo. Após obras de restauro e adaptação é, desde 2003, sede da Direcção Regional da Cultura e do Centro do Conhecimento dos Açores.

Os materiais exteriores de revestimento utilizados são de grande qualidade. Nas fachadas voltadas para as ruas vizinhas, as bordaduras das janelas e portas e o próprio soco são revestidos por pedra importada: lioz, mármore do Alentejo e pedra azul de Cascais, o que contribui para afirmar o valor do imóvel. A fachada principal está voltada para a Rua da Conceição tendo ao centro um alto pórtico com dois portões em madeira trabalhada e uma varanda central, correspondente ao salão nobre da casa. A partir da entrada desenvolve-se uma escadaria, em dois planos, cimo da qual está um vitral que representa duas figuras mitológicas: a agricultura e o comércio, correspondentes às fontes de riqueza do construtor.
7. Convento de São Gonçalo
O Convento de São Gonçalo foi o primeiro a ser construído em Angra do Heroísmo, sendo o maior conjunto conventual da cidade. Foi fundado em 1545, mas sofreu remodelações posteriores. Com dois claustros, cerca e granéis, a Igreja e os coros, alto e baixo, são no estilo 5.º Joanino, dos mais expressivos do arquipélago.

De exterior muito singelo, no interior da Igreja podem ver-se algumas obras notáveis como os retábulos em talha dourada, imagens e pinturas do séc. XVIII e painéis de azulejo datados dos sécs. XVII e XVIII. De notar ainda um crucifixo de grandes dimensões do séc. XVII, o Cristo Divino Imperador, atribuído à Escola Espanhola e uma magnífica grade, cuja forma oval a torna um exemplo único na arquitectura portuguesa.
8. Igreja do Colégio
A Igreja de Santo Inácio de Loyola, popularmente conhecida como Igreja do Colégio ou Igreja dos Jesuítas, localiza-se no Largo Prior do Crato, junto ao Jardim Duque da Terceira, no Centro Histórico de Angra do Heroísmo. A igreja, erguida pelos religiosos da Companhia de Jesus sob a invocação de Santo Inácio de Loyola, integra o conjunto do Palácio dos Capitães-Generais, sendo visitável no período do Verão, dentro do percurso museológico do palácio. Actualmente está encerrada para obras de reabilitação e restauro. Quando da sua fundação, tinha por destino servir o Colégio da Companhia de Jesus em Angra.

Os seus alicerces foram abertos em 1636-1637, e a sua abertura ao culto religioso data de 17 de Junho de 1651. A 27 de Julho de 1652 foi para aí transladado, em procissão solene, o Santíssimo Sacramento que os jesuítas conservavam na sua primeira casa, na Rua de Jesus. Após a expulsão da ordem do país, à época do Marquês de Pombal, ficou abandonada até que o 3.º Capitão General dos Açores, D. Lourenço José Boaventura de Almada, no âmbito da requalificação das instalações do antigo Colégio a paço, cedeu as dependências do templo para a Ordem Terceira do Carmo. Danificada pelo terramoto de 1980, encontra-se em processo de restauração desde então. A Ordem Terceira do Carmo promove, anualmente, a Festa em honra de Nossa Senhora do Carmo no dia 16 de Julho.
9. Impérios de Angra do Heroísmo
O município de Angra do Heroísmo conta com um total de 45 impérios construídos entre 1670 a 1998, a arquitectura é muito semelhante entre todos normalmente quadrangulares ou rectangulares e com apenas um piso. Alguns deles inclui um edifício anexo designado por despensa, aqui é guardado o pão, carne e vinho utilizados nas festividades locais. A história de cada império nem sempre é clara, de origem popular o conhecimento está nas história dos nossos avós.

Seguramente por influência dos franciscanos espiritualistas, que foram os primeiros religiosos a instalar-se nas ilhas, partilhando com os primeiros povoadores as agruras da colonização, o culto do Divino Espírito Santo, então em apagamento na Europa devido à crescente pressão da ortodoxia religiosa, foi trazido para as ilhas. Aqui, em comunidades isoladas e sujeitas às pressões e incertezas da vida na margem do mundo conhecido, as crenças e ritos do Divino Espírito Santo ganharam raízes e recuperaram o seu vigor, reganhando um claro cunho joaquimita que ainda hoje está bem patente. Os Açores, e as comunidades de origem açoriana, constituem assim os últimos redutos onde as doutrinas de Joaquim de Fiore sobrevivem, e, a julgar pelo recrudescer dos Impérios do Divino Espírito Santo, mantêm todo o seu vigor.
10. Fortaleza de São João Baptista
Iniciado por volta de 1592, por ordem de Filipe II de Espanha, I de Portugal, envolve todo o Monte Brasil, segundo desenho de Giovanni Casale, Tibúrcio Spanochi e AntonColla. Destinava-se primordialmente à protecção dos navios das índias ocidentais.

É uma das maiores fortalezas do planeta, enquanto recinto fechado. A revolta portuguesa de 1640 deu origem, aqui, a uma epopeia memorável de cerco, envolvendo perto de 7000 homens, de diversas ilhas, comandados pelos capitães como João Bettencourt de Vasconcelos, Francisco Ornelas da Câmara e João de Ávila. No seu torreão foi içada pela primeira vez,em terra, a bandeira liberal, azul e branca, de Dª. Maria II.
11. Forte de São Sebastião
Por sugestão de Isidoro de Almeida, o arquitecto Tomaz Benedito de Pesaro desenhou, ao gosto italiano, esta fortaleza, terminada no tempo de El-Rei D. Sebastião, donde retira a invocação. Demonstração de uma nova ideia de defesa costeira já sensível e consciente das novas funções de apoio portuário, podia cruzar fogo com São Benedito, na costa do monte Brasil.

Na quinta-feira santa de 1641, a 28 de Março, no contexto da revolta contra a presença dominante espanhola, foi conquistado pela companhia de ordenanças da Ribeirinha, comandada por Manuel Jaques de Oliveira. Actualmente está transformado em pousada e é possível alugar um quarto e pernoitar neste monumento histórico.
12. Palácio dos Capitães-Generais
Situado em pleno centro histórico da maravilhosa cidade de Angra do Heroísmo, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade, o Palácio dos Capitães Generais é um belo palácio, de dimensões consideráveis, que atesta o poderio económico da cidade ao longo dos séculos. O edifício foi mandado construir em 1570 pelo rei D. Sebastião, para oferta à então importante Companhia de Jesus, projectado como convento e colégio. Ao longo dos séculos, esta bela construção foi servindo a variados propósitos: como habitação de famílias nobres, sede de regência do Reino e Paço Real… Desde 1766 está destinado à residência dos Capitães Generais dos Açores. Um Capitão General era o governador e comandante militar de qualquer capitania-geral Portuguesa.

O Palácio alberga interessantes obras de arte e mobiliário, albergando uma interessante colecção de azulejaria, telas, esculturas, entre muitas outras riquezas, estando hoje em dia classificado como Imóvel de Interesse Público. De realçar, a Sala dos Reis, com retratos a óleo em tamanho natural dos Reis da Dinastia de Bragança. A bela Igreja do Colégio, anexa ao Palácio, data do século XVII, envergando a mesma equação arquitectónica do restante conjunto, é dona de um interessante património do qual se destaca a talha dourada, a azulejaria Holandesa do século XVII e XVIII, ricas peças de estatuária e painéis de pintura do século XVII.