Quem visita Amarante, acaba, invariavelmente, por construir uma leitura própria: tão rica quanto a vontade e tão diversa quanto a sorte. Por quantos roteiros definem o concelho, tantas podem ser as imagens e os sabores que os visitantes levam no regresso: arquitectura, religião, arte, natureza, gastronomia. Descobrir Amarante é uma aventura que apetece viver.
Se a natureza é quem chama, então o destino é o Tâmega ou as Serras do Marão e da Aboboreira, que oferecem paisagens de sonho, aldeias de gente acolhedora e ricas tradições, edificadas em xisto e granito.
o.Amarante é encruzilhada, para onde confluem a história, as tradições e a natureza, proporcionando, para lá das suas fronteiras, a descoberta das Terras de Basto, do Minho, de Trás-os-Montes, do Douro e do Porto. Estes são os melhores locais para visitar em Amarante.
1. Ponte de São Gonçalo
O tempo e a história encarregaram-se de tornar a Ponte de São Gonçalo num dos símbolos da identidade local. À sua construção, no século XVIII, antecedeu a antiga ponte fortificada, de época medieval e a cuja edificação se associa o nome e milagres de São Gonçalo: remover enormes pedras com as suas mãos, fazer brotar água das pedras para saciar a sede e convocar os peixes para alimentar os trabalhadores contam-se entre os milagres. Da primeira ponte, desmoronada na sequência de uma cheia, em 1763, permanece a imagem gótica da Nossa Senhora da Piedade, conhecida por Senhora da Ponte (séc. XIV/XV), colocada num recanto da igreja e voltada para a ponte, que, originalmente, se encontrava num cruzeiro biface a delimitar os concelhos de Gouveia de Riba Tâmega e o da Villa d’ Amarante.

O tempo marca novo encontro com a história e a Ponte de São Gonçalo torna-se palco, em 1809, de lutas sangrentas, numa heróica resistência, durante 14 dias, dos soldados portugueses, comandados pelo General Silveira, contra a passagem das tropas napoleónicas. Uma lápide, colocada numa das pirâmides, recorda e assinala esse acontecimento histórico que valeu ao General Silveira o título de Conde de Amarante e à Vila de Amarante o colar da Ordem Militar da Torre e Espada. A ponte, com cerca de 50 metros de comprimento, suporta um tabuleiro com quatro varandins semicirculares e, em cada extremidade, dois obeliscos barrocos que ostentam inscrições epigráficas relativas à construção da ponte e ao episódio heróico da resistência à invasão francesa.
2. Convento e Igreja de São Gonçalo
Monumento maior da belíssima cidade de Amarante, no verdejante norte de Portugal, o Convento de São Gonçalo foi fundado pelo rei D. João III em 1540. O Convento, construído no local onde se erguia uma pequena ermida medieval dedicada a São Gonçalo, integra a bela Igreja de São Gonçalo, sob projecto e estilo Dominicano, de pendor maneirista, de cruz latina e fachada grandiosa com três andares, um deles barroco e os outros dois renascentistas.

O interior é de três naves, onde sobressai um magnífico retábulo barroco em talha dourada e, claro, a importante Capela de São Gonçalo onde repousa o santo, sobre uma estátua tumular de calcário finamente trabalhada. De relevo no conjunto monástico é a galeria dos Reis, a capela de santa Rita de Cássia, o Órgão do século XVIII, a Varanda dos Reis, a barroca Torre Sineira, os dois belos claustros e o monumental chafariz. O Convento e Igreja de São Gonçalo estão classificados como Monumento Nacional desde 1910.
3. Museu Amadeo de Souza-Cardoso
O Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, instalado no Convento Dominicano de São Gonçalo, foi fundado em 1947, por Albano Sardoeira, visando reunir materiais respeitantes à história local e lembrar artistas e escritores nascidos em Amarante: António Carneiro, Amadeo de Souza-Cardoso, Acácio Lino, Manuel Monterroso, Paulino António Cabral, Teixeira de Pascoaes, Augusto Casimiro, Alfredo Brochado, Ilídio Sardoeira, Agustina Bessa Luís, Alexandre Pinheiro Torres e um observatório de curiosidades à moda oitocentista.

Pretendendo manter a lembrança do seu núcleo inicial e das suas colecções, com maior ênfase para a Arqueologia, a sua principal vocação é, porém, a Arte Portuguesa Moderna e Contemporânea, nomeadamente a pintura e a escultura. Para além da exposição permanente e visando até suprir algumas das lacunas, o Museu organiza exposições temporárias, temáticas, ou monográficas, que se servem do seu acervo e das colecções oficiais ou mostram obras de artistas em actividade. O Museu organiza o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, de carácter bienal, abrangendo as várias expressões artísticas e com duas distinções em separado: uma incluída no concurso e outra de consagração (carreira).
4. Solar dos Magalhães
Da estrutura original, que se julga da segunda metade do século XVI, permanecem, apenas, as paredes exteriores. Esta casa senhorial, pertença dos Magalhães, tornou-se um símbolo, no século XIX, da resistência à entrada, na vila, das tropas francesas.

Conta-se que por cada dia que a resistência à ocupação francesa atrasava a passagem pela Ponte de São Gonçalo, a caminho de Vila Real, o General Loison retaliava incendiando uma casa nobre. Contrariamente à maioria das casas que foram incendiadas, o Solar dos Magalhães nunca foi reconstruído, permanecendo as suas ruínas testemunho dos violentos ataques.
5. Igreja da Misericórdia
Com o aparecimento das Misericórdias em Portugal durante o séc. XVI apareceu também em Amarante com a respectiva igreja. De fundação incerta, durante o séc. XVI, veio a sofrer profundas reformas no séc. XIX, aquando das Invasões Francesas e da passagem do exército Napoleónico, em que a igreja foi profundamente destruída. Contudo, da traça original, permanece no coro uma balaustrada que se julga ser da antiga talha, no estilo rococó.

De planta longitudinal, é constituída de uma só nave com cunhais em cantaria encimados por pináculos, com a torre sineira um pouco recuada face à frontaria. Na fachada central apresenta-se o portal, em arco de volta perfeita ladeado em dupla pilastra por arquitrave e sobrepujado por frontão curvo, interrompido por um nicho com a imagem. Esta está ladeada por dois janelões de lintel recto.
6. Mosteiro de São Martinho de Mancelos
O Mosteiro de Mancelos ergue-se nas proximidades de Amarante e nos limites da diocese do Porto, num lugar onde ainda hoje prevalece a agricultura como principal atividade. Desde sempre, e particularmente na Idade Média, que os mosteiros se mostraram muito atraídos pelos férteis terrenos agrícolas, daí advindo a sua principal subsistência. E estes, tanto melhores se mostravam se permitissem a prática da pastorícia e se, nas suas proximidades, possuíssem bosques para o fornecimento da tão fundamental madeira. Embora tenha sofrido diversas transformações ao longo dos séculos, a Igreja conserva significativas parcelas da época românica. A existência de uma inscrição gravada num silhar avulso, que ainda hoje se conserva no espaço onde outrora se erguia o claustro, junto da sacristia, remete-nos para o ano de 1166.

No interior, apenas o arco triunfal permanece como elemento remanescente da época românica, apesar de os seus capitéis se mostrarem hoje picados, pois a época moderna sobrepôs-lhes elementos entalhados que as intervenções de restauro do século XX removeram. As arquivoltas não têm qualquer decoração e a imposta é idêntica à do portal principal. Na nave, dois altares colaterais e um lateral albergam devoções contemporâneas representadas por modernas imagens: Virgem do Rosário de Fátima, Sagrado Coração de Jesus e Virgem das Dores.
7. Museu de Arte Sacra
Um caminho de pedra conduz-nos à Igreja do Senhor dos Aflitos, vulgarmente designada de São Domingos, que se levanta sobranceira à Igreja do Convento de São Gonçalo. Construída pela Ordem Terceira de São Domingos e concluída em 1725, exibe uma fachada, de estilo barroco, rematada, no tímpano, com as armas dominicanas. O interior ilumina-se com a decoração em talha dourada (século XVIII). No altar-mor o conjunto do Calvário (século XVIII) estabelece o enquadramento, com a imagem, ao centro, de Cristo Crucificado – Nosso Senhor dos Aflitos – em pasta de papel policromada, ladeada por Nossa Senhora, São João Evangelista e Santa Maria Madalena, em madeira estofada a ouro e policromada.

A imagem de Nosso Senhor dos Aflitos, outrora na capela do Pópulo, na igreja de São Gonçalo, por pertencer à ordem Terceira, foi trasladada em grande solenidade para a nova igreja que a irmandade construiu para o efeito. A ladear o arco que delimita a capela-mor podem ver-se dois serafins-tocheiro, datadas do século XVIII. Num espaço contíguo à igreja, a riqueza do legado patrimonial religioso ganha visibilidade no Museu de Arte Sacra, dividido em dois pisos: no primeiro, com os espaços das artes decorativas, pintura, paramentaria e alfaias litúrgicas e, no segundo, com as salas de imaginária dos séculos XVI-XVIII e de imaginária do século XIX.
8. Mosteiro do Salvador de Freixo de Baixo
A origem do Mosteiro de Freixo de Baixo é anterior a 1120 e enreda-se nos habituais patrocínios familiares, como assinala o autor da Corografia Portuguesa em 1706: “fundado pelos annos de 1110 por Dona Gotinha Godins, mulher de Dom Egas Hermigis o Bravo, sogros de Dom Egas Gozendes, que viveo em tempo delrey Dom Afonso o Sexto”. Implantado num vale onde se demarcavam os concelhos de Santa Cruz de Ribatâmega e de Basto e por onde, ainda no século XVIII, circulava uma grande parte do trânsito entre o Minho e Trás-os-Montes, Freixo de Baixo foi, em 1540, anexado (juntamente com o seu curato de São Miguel de Freixo) ao convento dominicano de Amarante.

Digna de destaque é a pintura a fresco que, embora hoje esteja colocada sobre suporte móvel, se pode apreciar na parede norte da nave. Trata-se de uma cena da Epifania do Senhor (Mateus, 2: 1-12), atribuída à oficina liderada pelo Mestre de 1510 responsável, também, por pinturas em São Mamede de Vila Verde (Felgueiras) e em São Nicolau de Canaveses (Marco de Canaveses). Ainda que, ao longo do século XVIII, tenha havido uma série de intervenções efectuadas na Igreja com vista à sua conservação e actualização estética, delas apenas resta hoje parte do retábulo-mor, em talha do estilo barroco nacional, com que se casaram um trono, predela e frontal de altar mais recentes.
9. Mosteiro do Salvador de Travanca
O Mosteiro do Salvador de Travanca, cuja igreja começou a ser edificada em finais do século XII, representa um conjunto monumental que se destaca na nossa arquitectura românica. O interior da igreja forma um dos mais ritmados espaços da arquitectura românica portuguesa.

A torre, que deverá ser datada de finais do século XIII ou inícios do século XIV, merece uma atenção especial por ser não só uma das mais altas torres medievais, mas porque se encontra isenta. Tal facto indicia uma afirmação senhorial do mosteiro beneditino. Há também que destacar neste conjunto a linguagem escultórica tipicamente românica.
10. Igreja de São Pedro
Com fachada e torre de estilo barroco, a Igreja de São Pedro foi construída no local da antiga capela de São Martinho e concluída em 1727. Da frontaria irrompe, ao centro, uma torre, acompanhada de dois patamares balaustrados, encimados com as imagens de São Pedro e de São Paulo. No topo da torre sobressai a mitra papal com a cruz de três braços transversais, de tamanhos decrescentes.

No interior de nave única – coberta por abóbada de berço em estuque e revestida, na base, com azulejos – destaca-se o altar-mor, em talha dourada, onde figuram as imagens (século XVIII) dos quatro evangelistas São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João e nas capelas laterais, São Martinho e Nossa Senhora da Conceição. No entanto, do ponto de vista artístico, ganha protagonismo o tecto da sacristia, revestido em talha de madeira, em cor natural, constituindo, no género, um dos melhores do país.
11. Igreja de Santa Maria de Jazente
A memória pouco nos deixou sobre a história desta Igreja. Chegaram até nós escassos testemunhos para além do que nos possam contar as pedras do próprio edifício. Por conseguinte, informações sobre esta igreja antes do século XVIII são escassas. Consta-se que seria uma igreja de uma instituição religiosa, com capelas filiais, mas sem sacrário ou sepultura epigrafada. Fazia, então, parte do concelho de Gestaçô. Um outro dado é a sua ligação ao intitulado Abade de Jazente, de seu nome verdadeiro Paulino Cabral, conhecido pela vida mundana na cidade do Porto, onde participava em tertúlias e festas.

Em 1864, e em resposta ao inquérito realizado pelo Director das Obras Públicas do Porto, que procurava saber do estado de conservação das igrejas da diocese do Porto, o pároco de Jazente informou que a igreja se encontrava em bom estado de conservação. Já nos anos 30 do século XX, foram realizadas diversas obras de conservação certamente à custa da paróquia: incluíram-se nestas obras a remoção do reboco dos paramentos exteriores e interiores, a limpeza dos paramentos na frente da Igreja, na capela-mor por dentro e por fora e em parte do corpo da mesma. Na década de 60 e após várias insistências por parte dos párocos da freguesia, a DGEMN abriu processo para a classificação da Igreja, vindo este a dar-se por encerrado a 29 de Setembro de 1977 com a classificação da Igreja como Imóvel de Interesse Público.
12. Igreja de Santa Maria de Gondar
Edificada no século XIII, a Igreja de Santa Maria de Gondar, outrora cabeça de um pequeno complexo monástico feminino, encontra-se implantada a meia encosta, no vale do rio Ovelha. À sua fundação associa-se a linhagem dos de Gondar, a qual teve em seu poder um significativo perímetro geográfico e social na região envolvente. Esta família fez desta abadia mariana local de acolhimento das suas filhas e de panteão familiar.

O seu primeiro pároco, Pedro Afonso, desejando talvez dotar a Igreja de uma nova expressão devocional, oferece em 1470 a escultura da Virgem sentada que amamenta o seu filho, imagem que se tornou um elemento de devoção muito importante para a comunidade de Gondar e que hoje se encontra na nova igreja paroquial da freguesia. Nos finais do século XIX, com a reorganização dos limites das dioceses de Braga e Porto, Gondar transitou do território da primeira para o da segunda, integrando hoje a vigararia de Amarante.