A questão “onde se fala melhor português?” tem alimentado debates acesos e respostas sempre provisórias. A diversidade linguística do mundo lusófono impede uma resposta simples, mas permite uma viagem rica pelas suas variações e contrastes.
Há quem aponte Lisboa ou Coimbra como os centros do “português mais correto”. Esta última, em particular, surge com frequência como referência.
Especialistas sugerem que a faixa geográfica entre a Figueira da Foz, Coimbra e a Guarda é, do ponto de vista fonético e morfossintáctico, uma das regiões onde o português padrão se aproxima mais do ideal académico.
Curiosamente, esse corredor coincide com o lado espanhol onde se considera que se fala o melhor castelhano, nomeadamente entre Salamanca e Toledo.
Contudo, nem mesmo esta região está imune a desvios. O uso frequente do “você” em contextos onde tradicionalmente se usaria o “tu” — ou até o “vós” — é visto por alguns como um afastamento da norma culta. O uso de “vocês são” em vez de “vós sois” é um desses exemplos.
Mais a norte, no Minho e em Trás-os-Montes, o uso do “vós” ainda resiste, o que poderia fazer destas regiões candidatas ao título de bastiões do português correcto. Porém, os traços fonéticos como a troca dos “v” pelos “b” — “baca” em vez de “vaca” — tornam esta hipótese menos consensual.
Já em Lisboa, o português falado denuncia outras particularidades. Frases como “a gente vamos” ou “a gente somos” ilustram construções sintácticas afastadas da norma. A pronúncia, por sua vez, introduz variações como “treuze” ou “quaise”, que não passam despercebidas aos mais atentos.
E o que dizer do Alentejo, Algarve, Açores e Madeira? Estas regiões apresentam sotaques marcados e expressões próprias. A especificidade do falar local é tamanha que, em certos contextos, a comunicação fora da região pode exigir adaptação.
No entanto, convém sublinhar: um sotaque forte não é sinónimo de erro. A língua escrita nestas regiões mantém-se, como no restante país, alinhada com a norma padrão.
Posto isto, talvez a pergunta não deva ser “onde se fala melhor português?”, mas sim “o que significa falar corretamente?”. Porque a língua é viva, moldada pela história, geografia e sociedade.
E do outro lado do Atlântico?
No Brasil, o estado do Maranhão é frequentemente destacado como o território onde o português é falado com maior correção. Este reconhecimento tem raízes históricas.
Durante o apogeu económico do cultivo do algodão, São Luís, a capital, destacou-se como centro literário e cultural, ganhando a alcunha de “Atenas Brasileira”.
Dali saíram escritores marcantes dos grandes movimentos literários brasileiros, o que ajudou a fixar a imagem do Maranhão como guardião de um português mais próximo do clássico.
Em suma, talvez não haja um único lugar onde se fale o português perfeito. Mas há, certamente, muitos lugares onde se fala um português rico, vivo e cheio de identidade.










