Um idoso francês de 95 anos viu a sua casa ser ocupada durante meses e acabou confrontado com uma fatura de água superior a 17 mil euros.
O episódio, que ganhou destaque em França, reaviva um debate que atravessa vários países europeus: a dificuldade dos proprietários em recuperar imóveis ocupados ilegalmente e a morosidade das respostas legais.
Uma ocupação que desencadeou um processo longo
A situação começou quando a câmara municipal francesa notificou o proprietário de que o imóvel estava ocupado. O idoso avançou de imediato com um processo judicial para retomar a habitação.
No entanto, seis meses depois, o tribunal recusou o pedido, alegando falta de provas de entrada com violência ou intimidação, apesar de um dos ocupantes admitir ter arrombado a porta da garagem.
Esta decisão prolongou o litígio, deixando o proprietário sem acesso ao imóvel enquanto os ocupantes permaneciam no local.
Estragos avultados e uma dívida inesperada
A saída dos ocupantes só aconteceu após forte insistência do advogado. Quando finalmente recuperou a casa, o idoso encontrou-a em estado de ruína: canalizações danificadas, instalações sanitárias arrancadas e torneiras abertas durante semanas. Esse desperdício de água resultou numa fatura de 17.364 euros.
Ao contestar o valor, recebeu da autarquia a indicação de que a responsabilidade era sua, uma vez que o contador estava em seu nome — uma obrigação prevista na legislação francesa, mesmo em situações de ocupação ilegal.
Uma lei que deixa falhas expostas
Em França, o proprietário é sempre responsável pelos consumos associados ao imóvel, independentemente de quem habite o espaço. Embora noutros casos a empresa fornecedora tenha assumido despesas semelhantes, desta vez recusou fazê-lo, levando o idoso novamente aos tribunais.
A situação evidenciou um problema recorrente: enquanto os ocupantes usufruem de lacunas legais, os legítimos donos enfrentam processos demorados, despesas elevadas e danos difíceis de reparar.
Reformas recentes, mas ainda insuficientes
Perante o aumento de situações semelhantes, o Parlamento francês aprovou penas mais duras para ocupações ilegais, incluindo até três anos de prisão e multas que podem atingir 45 mil euros. Mesmo assim, casos como este mostram que a aplicação prática da lei continua longe de garantir proteção rápida aos proprietários.
Vários países europeus enfrentam desafios semelhantes. Espanha, por exemplo, tem estudado novas medidas para travar o fenómeno, que também tem surgido em Portugal.
Um alerta para toda a Europa
O caso do idoso francês é um exemplo extremo, mas revela um risco que afeta sobretudo proprietários idosos, emigrantes ou quem deixa casas desabitadas por longos períodos. A recuperação de um imóvel ocupado pode transformar-se num processo complexo, com custos materiais e emocionais significativos.
Enquanto reformas mais eficazes não chegam, especialistas recomendam a adoção de medidas preventivas que reduzam a probabilidade de ocupação.
Medidas de proteção recomendadas
- Reforçar a segurança física: portas resistentes, fechaduras multiponto e sistemas de alarme.
- Manter a casa ativa: evitar desligar totalmente serviços essenciais, para não revelar abandono.
- Visitar regularmente o imóvel: ou pedir a familiares e vizinhos que o façam.
- Instalar videovigilância: câmaras com acesso remoto funcionam como elemento dissuasor.
- Obter aconselhamento jurídico prévio: conhecer direitos e procedimentos legais acelera a resposta.
- Guardar documentação atualizada: provas de propriedade, registos fotográficos e contratos ajudam em processos judiciais.
O caso deste idoso é um sinal claro das fragilidades existentes. Mostra como, perante uma ocupação ilegal, o proprietário pode enfrentar não apenas a perda temporária da casa, mas também contas elevadas e danos difíceis de suportar.







