Em plena Lisboa setecentista, às portas do Tejo e vizinho dos Jerónimos, ergueu-se em tempos um dos mais sumptuosos palácios da nobreza portuguesa: o Palácio dos Duques de Aveiro.
Era símbolo de riqueza, poder e influência. Hoje, não resta dele senão um nome esquecido, um chão salgado e uma coluna erguida em memória do que foi — e do que se quis apagar.
O esplendor de Belém antes do escândalo
Localizado em Belém, então zona nobre da cidade, o palácio pertencia à influente família dos Duques de Aveiro, descendentes diretos de D. Jorge de Lencastre, filho bastardo de D. João II.
Rodeado por jardins e fontes, o edifício era frequentado por reis, nobres e diplomatas. A corte desfilava pelas suas salas ricamente decoradas, e ali se hospedaram figuras como Filipe II de Espanha e D. João V.
Mas o prestígio da casa de Aveiro desmoronou-se subitamente em 1759, no rescaldo de um dos episódios mais sombrios da história portuguesa: o Processo dos Távoras.
Um atentado, uma amante e uma conspiração
Na noite de 3 de setembro de 1758, o rei D. José I foi atacado a tiro quando regressava de um encontro com a sua amante oficial, a Marquesa de Távora. Sobreviveu, mas o episódio abalou o reino. Aproveitando o momento, o poderoso Sebastião José de Carvalho e Melo — futuro Marquês de Pombal — agiu com mão de ferro.
Acusou a família Távora e o 8.º Duque de Aveiro, José de Mascarenhas da Silva e Lencastre, de conspiração e tentativa de regicídio. As provas eram escassas, mas o julgamento foi sumário e a sentença, brutal.
A 13 de janeiro de 1759, os acusados foram executados em Lisboa, perante a corte e uma multidão em choque. Tortura, humilhação pública e penas exemplares marcaram o fim de uma linhagem poderosa — e o início de uma nova ordem política no reino.
Terra salgada, memória apagada
O palácio dos Duques de Aveiro foi então demolido por ordem de D. José I. O terreno foi simbolicamente salgado, para que nunca mais ali crescesse nada — um gesto de condenação eterna.
No local, hoje conhecido como Beco do Chão Salgado, ergue-se uma coluna de pedra com cinco anéis, representando os cinco membros da família executados.
Durante anos, a zona permaneceu abandonada. Só mais tarde, no reinado de D. Maria I, se autorizou a construção de novos edifícios no espaço outrora ocupado pela opulência.
Um passado que resiste no esquecimento
O Palácio dos Duques de Aveiro foi vítima de um processo político implacável, alimentado por intrigas, ambição e vingança.
Mais do que um edifício destruído, simboliza um momento de rutura entre o Antigo Regime e o poder centralizador de Pombal.
Um aviso, também, sobre como a História pode ser escrita… com sal.










