Muito antes das mensagens instantâneas e das redes sociais, havia outras formas — mais discretas, mas nem por isso menos intensas — de declarar amor.
No Minho, especialmente em Vila Verde, as jovens bordadeiras transmitiam os seus sentimentos através de pequenos panos de linho ou algodão, decorados com versos simples e desenhos coloridos. Chamavam-se Lenços dos Namorados e eram, ao mesmo tempo, peças de vestuário e declarações de amor silenciosas.
A origem deste costume não é totalmente clara, mas admite-se que possa ter começado entre as classes mais altas, nos séculos XVII ou XVIII, como passatempo das senhoras da nobreza.
Com o tempo, passou para as mãos do povo, adquirindo uma estética mais ingénua e popular. Inicialmente decorativos, os lenços acabaram por ganhar um significado mais íntimo: eram oferecidos pela rapariga ao rapaz de quem gostava — quase como uma proposta de namoro.
Se o jovem aceitasse, usava o lenço visivelmente — ao pescoço, no chapéu ou no bastão. Era um sinal público de compromisso. Caso rejeitasse, devolvia-o. Simples, mas claro.
Os lenços eram feitos a ponto de cruz, exigindo tempo e dedicação. Mais tarde, começaram a usar-se pontos mais rápidos, mais cores e novos motivos decorativos. Mesmo assim, dois elementos se mantêm até hoje: os erros ortográficos e a caligrafia infantil.
Nos tempos antigos, eram reflexo da iliteracia das bordadeiras. Hoje, são reproduzidos propositadamente, como marca da autenticidade e da ingenuidade que sempre caracterizaram esta tradição.
Para garantir a preservação da identidade do lenço dos namorados, foi criado um caderno de especificações. Só os lenços que respeitam estas normas podem ser certificados. Há, atualmente, várias lojas onde é possível adquirir estas peças, como a Coisas de Viana ou a Loja do Folclore.
Mais do que objectos decorativos, os lenços dos namorados contam episódios sociais da história portuguesa, como a emigração para o Brasil no início do século XX, que marcou fortemente a região do Minho. Alguns exemplares antigos sobreviveram e estão hoje em exposição em museus.
Contudo, o lenço não ficou preso ao passado. Reinventado, aparece em roupa, bolsas, acessórios e artigos de decoração. Transformou-se num ícone nacional, presente em lojas de recordações por todo o país.
Um amor bordado: a lenda
Há quem conte que, certa vez, uma jovem camponesa se apaixonou por um estudante de Direito. Sem coragem para se declarar, bordou um lenço com os seus sentimentos e deixou-o num lugar onde o rapaz o pudesse encontrar. Ele leu, percebeu a mensagem e, encorajado, iniciou uma conversa. O namoro que nasceu desse gesto acabou por levar a um casamento feliz.
Lenda ou não, o certo é que, num tempo em que não era bem visto que as mulheres falassem de amor, os lenços permitiam dizer tudo sem dizer palavra alguma. Pequenos pedaços de tecido que guardavam, ponto por ponto, desejos, esperas e promessas.










