No Verão de 1594, a costa açoriana assistiu a um episódio trágico e grandioso: o naufrágio da carraca Cinco Chagas, uma das mais imponentes embarcações da Carreira da Índia.
A bordo seguiam centenas de pessoas, toneladas de especiarias, metais preciosos e tecidos de luxo. Nunca mais foi vista.
A Cinco Chagas partira de Goa em 1593, carregada com a riqueza acumulada do Oriente. Comandada por Francisco de Mello, fazia parte de uma frota maior, mas foi a única a conseguir prosseguir viagem após os outros navios terem encalhado em Moçambique.
Parte das suas cargas, valiosas, foi transferida para a Cinco Chagas, que já seguia sobrecarregada.
O destino da carraca cruzou-se com a cobiça de corsários ingleses, numa época em que o império português enfrentava tempos conturbados. Desde 1580, Portugal estava sob domínio dos Filipes de Espanha, na chamada União Ibérica.
Este novo contexto político tornara as rotas portuguesas ainda mais vulneráveis. Os mares dos Açores, passagem obrigatória da rota da Índia, tornaram-se território fértil para ataques britânicos.
Em 1594, o conde de Cumberland, entusiasmado com capturas anteriores — como a da nau Madre de Deus, três anos antes — lançou uma nova expedição. O seu alvo? Os navios que regressavam da Índia. Foi ao largo do Faial que avistaram a Cinco Chagas.
Seguiram-se dois dias de combate intenso. A carraca portuguesa resistiu como pôde aos ataques ingleses, mas o confronto provocou um incêndio a bordo.
Sem capacidade de controlar as chamas, a tripulação viu-se forçada a abandonar o navio. Poucos sobreviveram.
Reza o relato que os ingleses impediram os resgates e executaram os náufragos que encontravam no mar. Das mais de 400 pessoas a bordo, apenas treze escaparam com vida.
O que se seguiu foi uma explosão brutal — provavelmente provocada pelo fogo a atingir o paiol da pólvora — e o colapso da estrutura do navio, que se afundou com tudo o que transportava.
O episódio, conhecido como a Acção do Faial, é recordado como um dos momentos mais dramáticos da história naval portuguesa. O valor da carga afundada permanece matéria de especulação.
Estima-se que rondasse os 20 mil milhões de euros em valores atuais. Um número que continua a atrair o interesse de exploradores e caçadores de tesouros.
Apesar de inúmeras tentativas, os restos da Cinco Chagas nunca foram localizados. Acredita-se que estejam a cerca de 18 milhas náuticas a sul do canal entre o Pico e o Faial, numa zona de grande profundidade.
O mar guarda, assim, o segredo de um dos maiores tesouros perdidos da História — e a memória silenciosa de uma carraca que simbolizou o esplendor e a vulnerabilidade de um império.











Pelo menos, os “amigos” ingleses não ficaram com a riqueza! Tantas vidas ceifadas para nada…