Muito antes dos castelos, dos mosteiros ou das cidades medievais, já existiam em Portugal estruturas que moldavam o território e a forma como os seus habitantes se relacionavam com o mundo.
São os cromeleques — monumentos megalíticos que continuam a intrigar arqueólogos e a despertar curiosidade entre quem os visita.
Distribuídos sobretudo pelo Alentejo, estes alinhamentos circulares ou elípticos de pedras erguidas remontam ao Neolítico, entre o final do sexto e o início do terceiro milénio antes da nossa era. São, por isso, algumas das mais antigas construções humanas conhecidas no país.
A função exata continua a ser debatida, mas a teoria mais consensual aponta para um uso ritual, astronómico e comunitário.
As pedras — os chamados menires — estão dispostas de forma pensada, muitas vezes com alinhamentos que coincidem com fenómenos astronómicos, como o nascer do sol nos solstícios ou o ciclo da lua. Algumas apresentam gravações simbólicas e outras evidenciam marcas de ferramentas rudimentares usadas para as talhar.
O exemplo mais conhecido é o Cromeleque dos Almendres, nos arredores de Évora, considerado o maior da Península Ibérica. Com mais de 90 menires, distribuídos em formas circulares e ovais, é frequentemente comparado a Stonehenge, no Reino Unido — mas com mais de mil anos de antecedência.
Não é o único. Em redor de Évora e Reguengos de Monsaraz encontram-se outros exemplos notáveis, como o Cromeleque do Xerez, Portela de Mogos ou Vale Maria do Meio.
Cada um apresenta características distintas, seja na forma das pedras, no número de elementos ou no contexto paisagístico.
A escolha dos locais onde estes monumentos foram erguidos parece ter sido tudo menos aleatória. A maioria encontra-se em zonas amplas, com boa visibilidade sobre os campos em redor — um traço que reforça a sua possível ligação aos ciclos agrícolas e ao calendário solar.
Além disso, muitos dos materiais usados — granito ou xisto — provêm de zonas próximas, extraídos e transportados com esforço coletivo, numa época em que não existiam animais de carga nem ferramentas de metal desenvolvidas.
A própria palavra “cromeleque” tem origem no galês antigo, significando literalmente “pedra curva”. Apesar de o termo ser mais comum na arqueologia britânica, foi adotado em Portugal para designar estas formações de menires organizados em círculo.
Hoje, os cromeleques são não apenas vestígios arqueológicos de elevado valor, mas também pontos de contacto entre passado e presente. Locais que mantêm a sua carga simbólica e que continuam a atrair investigadores, curiosos e viajantes.
São monumentos silenciosos, erguidos por mãos anónimas, que ajudam a compreender como viviam — e pensavam — as primeiras comunidades humanas do território português.
Preservar e estudar estas estruturas é essencial para aprofundar o conhecimento sobre as origens da ocupação humana em Portugal.
Mais do que um testemunho arqueológico, os cromeleques são parte do nosso património comum — um elo antigo entre o céu, a terra e quem os habitou.










