Atualmente, temos um problema bastante grave graças às chamadas “fake news”, ou “notícias falsas”. Este termo é muitas vezes usado para descrever notícias fabricadas, que transmitem uma informação falsa que não tem por base a realidade, apesar de serem tidas como estando factualmente corretas. Mas se esse problema é um drama, no passado, ainda era pior.
Este tipo de notícias e inverdades era encarado como um autêntico facto pela população, com os seus efeitos a serem mais devastadores ainda, porque o conhecimento do povo era mais limitado.
Em tempos antigos, a comunicação verbal fazia história e confiava-se muito na cultura do passa a palavra, existindo poucas fontes escritas credíveis. Ao longo do tempo, foram muitas as personalidades que contribuíram para a criação de ideias feitas, que se espalharam pelo país.
Muitas destas falsidades encaixaram na cultura popular e chegaram a ter destaque em manuais da especialidade, e algumas delas ainda hoje são propagadas em conversas. É precisamente esse o caso da ideia da presença portuguesa em África ao longo de 500 anos.
É um facto que estivemos presentes nas colónias africanas, exercendo o poder ao longo de décadas. Mas não foram, de todo, 5 séculos de domínio. Antes do 25 de abril de 1974, era comum ouvir-se falar da “presença portuguesa de 500 anos em África”. O regime defendia esta ideia, que vinha já do tempo da I República.
E, graças ao poder do regime, que ensinava este factoide nas escolas e o transmitia pelos mais variados meios, a opinião pública de então era de que países como Angola e Moçambique tinham sido sempre assim, controlados por portugueses.
Essa ideia, aliás, servia de combustível à ideia de que os “terroristas”, armados por países estrangeiros, pretendiam colocar um termo à nossa longa e antiga presença por terras de África, criando uma guerra “a partir do exterior”.
Como sabemos hoje, a nossa presença em África durou apenas algumas décadas, com os portugueses a terem uma presença mais acentuada no século XX, especialmente na primeira metade e meados desse século. Portanto, estivemos no continente africano sensivelmente pelo mesmo tempo que outros países europeus, como França, Itália e Inglaterra.
É verdade que os nossos primeiros contactos com o continente africano remontam ao século XV, mas é mentira que países como Angola foram nossos desde então. Até porque os portugueses não colonizavam países e povos, estabelecendo apenas feitorias costeiras orientadas para a comercialização de produtos.
Após a conferência de Berlim, na segunda metade do século XIX, ficou definido que era preciso haver uma ocupação efetiva de um território africano por parte de um país europeu para que este possa reivindicar os seus direitos sobre esse território.
Assim, o nosso país envolveu-se em grandes guerras na África, especialmente nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX (as chamadas “guerras de pacificação”). Uma das mais populares levou à destruição do Império Vátua, com as tropas do capitão Mouzinho de Albuquerque a colocar o soberano vátua, Gungunhana, na prisão, em 1895.
No entanto, até 1940 fizeram-se diversas campanhas em África, especialmente em Moçambique e em Angola. Assim, África tornou-se mais “portuguesa” no século XX, durante as décadas de 40 e 50. Foi nessa época que esses países adquiriram os contornos que hoje conheceram e foram habitados por centenas de milhares de portugueses.