É uma das palavras mais peculiares do português – e também uma das mais simétricas. Mas sabia que a sua origem está no catalão?
Quem nunca se divertiu com um número ou uma palavra que se lê da mesma forma de trás para a frente? 121, 2002, “ana”, “radar” – todos exemplos clássicos de capicuas.
Mas de onde vem afinal esta palavra tão específica, e porque é que se tornou a nossa forma de designar estes casos de simetria?
Hoje recuamos no tempo para descobrir a origem da palavra “capicua”, o percurso que fez até entrar no português e como se compara com os termos usados noutras línguas. O que parece apenas uma curiosidade revela-se, afinal, uma pequena viagem linguística entre culturas.
De “cap i cua” a capicua
A palavra “capicua” tem origem no catalão cap i cua, que significa literalmente “cabeça e cauda”. A expressão era usada para descrever números com o mesmo início e fim – ou seja, simétricos.
Com o tempo, essa construção entrou noutras línguas românicas, incluindo o português, e sofreu alterações fonéticas até chegar à forma que usamos hoje.
“Capicua” manteve a ideia original: designar algo que começa e termina da mesma forma – seja um número, uma palavra ou até uma frase.
Muito mais do que números
Embora seja mais comum falar de números capicua, o conceito rapidamente se expandiu a palavras e frases. Quando dizemos que “osso” ou “arara” são capicuas, referimo-nos ao mesmo princípio de simetria.
Esta extensão do uso da palavra mostra como o conceito ultrapassou o mundo da matemática e se tornou também uma ferramenta de jogo linguístico, explorada em poesia, publicidade e até na cultura popular.
Como se diz “capicua” noutras línguas?
Nem todas as línguas adoptaram o mesmo caminho. Enquanto o português ficou com o termo de origem catalã, muitas outras línguas preferiram uma palavra de raiz grega:
- Inglês: palindrome, do grego palíndromos (que corre para trás)
- Francês: palindrome
- Espanhol: capicúa ou palíndromo
- Italiano: capicua ou palindromo
O português destaca-se por usar preferencialmente “capicua” — uma escolha que preserva a herança ibérica e reflecte o contacto antigo entre as línguas da Península.
E hoje, como usamos “capicua”?
A palavra “capicua” aparece sobretudo em contextos informais ou lúdicos – como quem repara que a matrícula de um carro é um número capicua ou que o nome de alguém forma uma palavra simétrica.
Também se usam expressões como “palavra capicua” ou “frase capicua”, embora os termos “palíndromo” ou “simetria” possam ser usados em registos mais técnicos.
Independentemente do contexto, o termo desperta sempre uma certa curiosidade. Talvez porque nos lembra que, por vezes, até as palavras mais simples escondem histórias e formas inesperadas.
Capicua: mais do que uma palavra, uma viagem na língua
Ao descobrir a origem de “capicua”, vemos como a língua portuguesa está cheia de influências e cruzamentos que nos ligam a outras culturas e tempos.
Este é apenas um exemplo – mas um que mostra bem como até uma pequena palavra pode ter um percurso curioso, cheio de voltas e reviravoltas… ou melhor, simetrias.










