Com raízes romanas e mais de dois mil anos de história, Braga é uma das cidades mais antigas de Portugal.
Conhecida por ser um importante centro religioso e cultural, guarda nas suas ruas não só vestígios de um passado imponente, mas também um conjunto de lendas e tradições que continuam a marcar a identidade da cidade.
Algumas nasceram da fé, outras da imaginação popular — todas revelam traços da alma bracarense.
“És de Braga?”: a expressão que ficou para a história
É uma das perguntas mais ouvidas quando alguém se esquece de fechar a porta. A expressão “És de Braga?” tem, afinal, origens antigas.
No século XVI, o arcebispo D. Diogo de Sousa mandou abrir uma nova entrada na muralha — a Porta Nova — sem instalar qualquer portão. Era sinal de que os tempos de guerra tinham passado e a cidade se expandia para além das suas antigas fronteiras.
Outra explicação, mais poética, aponta para o espírito de vizinhança da região: diz-se que, em tempos, as portas ficavam abertas para que os vizinhos pudessem entrar livremente, sem necessidade de bater. Um sinal de confiança e proximidade que, em algumas aldeias minhotas, ainda resiste ao tempo.
O milagre de São Geraldo e os frutos em pleno Inverno
A 5 de dezembro, a cidade celebra o Dia de São Geraldo, padroeiro de Braga. A capela onde repousam os seus restos mortais é ornamentada com frutos, numa tradição invulgar e carregada de simbolismo.
A origem remonta a uma lenda: em pleno Inverno, doente e com febre, São Geraldo pediu fruta. Os seus acompanhantes, incrédulos, garantiram que era impossível — as árvores estavam nuas e o frio era intenso.
Mesmo assim, o arcebispo insistiu. Milagrosamente, os ramos despidos encheram-se de frutos. Desde então, todos os anos, este gesto é recordado com altares cobertos de cores e sabores.
São Longuinho: o santo dos corações generosos
No Santuário do Bom Jesus do Monte, há uma estátua que atrai sobretudo as jovens solteiras: a de São Longuinho. A tradição manda dar voltas à imagem e pedir ao santo que ajude a encontrar o amor.
Segundo a lenda, Longuinho era um lavrador abastado que se apaixonou por Rosinha. Mas ela amava outro homem, Artur. Reconhecendo a sinceridade daquele amor, Longuinho abdicou e ofereceu-se para ser padrinho do casamento. O seu gesto altruísta transformou-o em símbolo de generosidade e verdadeiro amor.
Aparições e sinais divinos no Monte do Bom Jesus
O Bom Jesus do Monte, para além da sua imponência arquitetónica, é também palco de duas histórias misteriosas que reforçaram a devoção local.
A primeira fala da “Cruz Celeste”, surgida no céu após a vitória portuguesa na Batalha do Salado, no século XIV. Como sinal de agradecimento, o povo ergueu uma cruz e uma ermida no topo do monte.
A segunda, já no contexto da Restauração da Independência, em 1640, fala de um cálice radioso que terá aparecido como sinal de proteção divina. Hoje, esse cálice está representado discretamente nos Escadórios dos Cinco Sentidos — basta olhar com atenção.
Braga não é feita apenas de pedra antiga ou de igrejas monumentais. É também uma cidade onde o imaginário popular se entranha na rotina, onde as tradições se mantêm vivas, e onde o passado continua a ser contado, geração após geração.
E talvez seja essa mistura de história e lenda que torna Braga tão singular: um lugar onde a realidade e o mito caminham lado a lado.










