A Madeira não é apenas um destino de paisagens dramáticas e natureza luxuriante. É também terra de histórias que se contaram ao ouvido, geração após geração — algumas com raízes no imaginário popular, outras com contornos de mistério por resolver.
Conheça cinco lendas que, verdadeiras ou não, ajudam a compreender a alma deste arquipélago.
1. Arguim: a ilha encantada e o regresso de D. Sebastião
Reza a lenda que no dia em que a Madeira emergiu do oceano, outra ilha — Arguim — submergiu. É lá que se diz ter vivido D. Sebastião, desaparecido em Alcácer-Quibir, em castelos de ouro e marfim, adormecido entre ninfas, à espera do dia em que voltaria para recuperar a sua espada cravada no cabo do Garajau e restaurar a independência de Portugal.
Navegadores contam ter visto essa ilha surgir subitamente, com praias de ouro e encostas cobertas de pedras preciosas. Outros falam de cidades submersas onde habitantes recebiam sacos de mantimentos lançados ao mar, como se vivessem num outro plano do tempo. A profecia diz que, quando Arguim regressar, a Madeira desaparecerá nas águas — e D. Sebastião voltará.
2. A história trágica de Machim e Ana de Arfert
Antes da chegada oficial dos portugueses à Madeira, a lenda conta que um casal de amantes ingleses, Roberto Machim e Ana de Arfert, fugiu do destino de um casamento forçado e acabou por naufragar junto à ilha. Refugiaram-se na enseada que hoje é Machico, mas Ana, doente e debilitada, não resistiu. Machim morreu dias depois, de tristeza.
Os sobreviventes foram capturados por mouros, e um deles acabaria por contar a história aos portugueses. Quando chegaram à ilha, encontraram a cruz erguida por Machim junto à sepultura da amada — e ali fundaram a primeira capela da Madeira.
3. A lágrima de Nossa Senhora que criou a ilha
Na noite de São Silvestre, diz-se que a Virgem Maria, debruçada sobre o mar, chorava a destruição da Atlântida. As suas lágrimas, transformadas em pérolas, caíram sobre o oceano. Uma delas deu origem à ilha da Madeira — a “Pérola do Atlântico”.
Durante muitos anos, acreditava-se que, nas doze badaladas da última noite do ano, surgia uma luz no céu e um perfume encantador pairava no ar. Hoje, essa visão foi substituída pelos fogos de artifício do Fim de Ano madeirense — talvez a forma moderna de preservar a memória dessa lenda.
4. Nossa Senhora do Monte: uma aparição infantil
No Terreiro da Luta, perto do Monte, uma menina relatou aos pais que brincava com uma pastorinha desconhecida que lhe dava merenda. Ao investigarem, encontraram sobre uma pedra uma pequena imagem de Maria, e a criança garantiu que era “a menina” com quem brincava.
A imagem foi levada para a capela da Encarnação, dando origem à devoção a Nossa Senhora do Monte, padroeira da cidade do Funchal.
5. Henrique Alemão: o rei perdido da Polónia?
Entre os mistérios mais curiosos da Madeira está o de Henrique Alemão, um cavaleiro respeitado na ilha durante o século XV. Segundo rumores, tratava-se de Ladislau III, rei da Polónia e da Hungria, desaparecido na Batalha de Varna.
Reconhecido por frades polacos e tratado com honras reais, Henrique acabaria por morrer tragicamente ao largo do Cabo Girão. A tradição diz que os retratos do casal fundador da igreja de Santa Maria Madalena, onde está sepultado, são na verdade imagens de Ladislau e da sua esposa madeirense. A dúvida permanece até hoje.
Lendas como estas ajudam a contar a história da Madeira de forma inesperada. Entre a fé, o fantástico e o inexplicável, revelam um lado mais íntimo e enraizado da identidade insular. Verdade ou ficção? Talvez nunca se saiba — mas continuam a fazer parte da memória coletiva da ilha.










