Castelos, mouras, reis, princesas e pastores. Animais que falam, milagres inesperados e feitos que escapam à razão. O património imaterial português está repleto de lendas que, passadas de geração em geração, ainda hoje povoam o imaginário coletivo.
Algumas terão, talvez, um fundo de verdade; outras são fruto da imaginação ou de episódios que o tempo transformou em fábulas. Mas todas partilham algo em comum: ajudam-nos a compreender como olhávamos o mundo e como o transmitimos aos outros.
Apresentamos oito dessas lendas — histórias que dizem tanto de quem as contou como de quem ainda hoje as ouve.
A lagoa das Sete Cidades: amor que não se toca

Nos Açores, a Lagoa das Sete Cidades está ligada a uma lenda de amor impossível. Uma princesa de olhos azuis apaixonou-se por um humilde pastor de olhos verdes.
O pai, um rei severo, proibiu o romance. No último encontro, os amantes choraram tanto que as suas lágrimas deram origem a duas lagoas: uma azul, outra verde. Para sempre separadas, para sempre lado a lado.
A bezerra de Monsanto: resistência e astúcia

Durante um cerco romano, a aldeia de Monsanto resistia à fome. Restava apenas uma bezerra, que o chefe local engordou propositadamente para enganar o inimigo.
Ao oferecê-la aos romanos, fê-los crer que havia abundância de víveres. Convencidos de que não valia a pena esperar, abandonaram o cerco. Ainda hoje, esta engenhosa vitória é celebrada com o lançamento de cântaros do alto da torre.
O galo de Barcelos: justiça divina

Um peregrino galego foi injustamente acusado de roubo em Barcelos. Prestes a ser enforcado, garantiu a sua inocência, afirmando que um galo assado cantaria no momento da sua execução. Incrivelmente, assim aconteceu.
O juiz correu a tempo e salvou o homem, que anos mais tarde voltou para erguer um monumento em sinal de gratidão.
O milagre das rosas: fé e compaixão

A rainha Santa Isabel, conhecida pela sua generosidade, levava pão aos pobres, mesmo contra a vontade do rei D. Dinis. Um dia, surpreendida pelo marido, escondeu o pão no regaço e disse que levava rosas.
Milagrosamente, ao abrir o manto, o pão tinha-se transformado em flores. A lenda consolidou a fama de santidade da rainha, ainda hoje venerada.
As amendoeiras em flor: neve no Algarve

Uma princesa do Norte, casada com um rei muçulmano do Sul, sentia saudades da neve da sua terra natal. Para a alegrar, o rei plantou milhares de amendoeiras.
Quando floresceram, os campos cobriram-se de branco, como se nevasse. A felicidade voltou ao rosto da princesa — e o Algarve ganhou um novo símbolo.
A torre da princesa: entre o sol e a traição

No castelo de Bragança, uma jovem foi prometida contra a sua vontade. Fiel a um amor ausente, resistiu. O tio, senhor da fortaleza, tentou enganá-la disfarçado de fantasma, mas foi desmascarado por um inesperado raio de sol que entrou por outra porta.
A princesa nunca casou. Viveu recolhida na torre, que passou a ter dois nomes simbólicos: Porta do Sol e Porta da Traição.
A fundação de Estremoz: justiça e renascimento

Após um conflito grave em Castelo Branco, os culpados foram punidos com severidade. Algumas famílias fugiram e acabaram por fundar nova povoação junto a um tremoceiro.
Deram-lhe o nome de Estremoz e pediram ao rei um foral e brasão com as imagens do tremoceiro e das estrelas que os guiavam. A cidade cresceu, nascida de uma segunda oportunidade.
A fundação de Lisboa: o grito de Ulisses

Reza a lenda que Lisboa foi fundada por Ulisses, herói da Odisseia. Ao chegar a uma terra dominada por uma rainha-serpente, sedutora e poderosa, fingiu render-se aos seus encantos para ganhar tempo.
Ao partir, gritou do alto de um monte que ali fundaria a cidade mais bela do mundo. Diz-se que os braços da rainha formaram as sete colinas que hoje definem Lisboa.










