Há palavras que usamos tantas vezes que já nem pensamos de onde vêm. “Inferno” é uma delas. Serve para descrever o trânsito, uma discussão, um verão escaldante ou, claro, um lugar de castigo eterno.
Mas o que poucos sabem é que a origem desta palavra diz muito sobre a história da língua – e das ideias que moldaram o mundo ocidental.
Muito antes do fogo e do pecado
A palavra “inferno” tem origem no latim infernum, que significava apenas “o que está por baixo”. No início, não havia demónios nem sofrimento eterno.
Era um termo prático: usava-se para falar de espaços subterrâneos – como cavernas ou túneis -, sem qualquer carga moral ou religiosa.
Foi com a chegada do cristianismo que infernum ganhou um novo sentido. O vocabulário romano foi adaptado para descrever conceitos da nova religião, e o “mundo de baixo” passou a representar o destino das almas condenadas.
A palavra ganhou um peso espiritual – e, com ele, toda uma nova dimensão simbólica.
Dante e a construção do imaginário
A ideia do inferno como um espaço de sofrimento organizado — com círculos, castigos e regras – foi fortemente influenciada pela Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Escrita no século XIV, a obra popularizou uma visão vívida e aterradora do inferno, que ecoa até hoje na cultura ocidental.
Em Portugal e noutras línguas europeias, esta representação literária consolidou-se: o “inferno” deixou de ser apenas uma palavra e passou a ser um lugar na imaginação colectiva.
Do religioso ao quotidiano
Com o tempo, o uso da palavra “inferno” alargou-se e tornou-se parte do discurso do dia a dia.
Ainda que mantenha o seu significado teológico, é comum usá-la de forma figurativa: um trânsito infernal, uma tarde infernal, uma casa que parece o inferno.
Estas expressões mostram como a palavra evoluiu com a sociedade – e como continua a ser útil para descrever o desconforto, o excesso ou o caos.
Um espelho do pensamento humano
Estudar a origem de palavras como “inferno” é mais do que um exercício académico: é uma forma de compreender como os nossos antepassados pensavam, sentiam e se expressavam.
Cada termo guarda camadas de história, ideologia e visão do mundo.
A língua é um reflexo da cultura – e ao seguirmos a pista de uma palavra, acabamos por descobrir os caminhos da própria humanidade.










