A história desta aldeia no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo mancha a justiça portuguesa e não pode ser esquecida de forma alguma. Assim, em memória daqueles que faleceram a defender a sua terra e em memória daqueles que não tinham voz e foram injustiçados, contamos-lhe aqui a história do massacre do Colmeal.
A 8 de julho de 1957, por volta das 10 da manhã, um destacamento da Guarda Nacional Republicana, composto por 25 praças e 3 oficiais (ou seja, um militar para cada 2 habitantes), fortemente armado com metralhadoras e preparados para o pior cenário, irromperam pela aldeia.
Em poucas horas, expulsaram as 14 famílias de cerca de 60 aldeões e camponeses pobres que ali viviam, os descendentes de gerações e gerações de lavradores e pastores que, desde tempos longínquos, aí nasceram, viveram, trabalharam e morreram. Os habitantes foram completamente apanhados de surpresa e não tinham armas para se defenderem, mesmo que o quisessem fazer.
Portanto, nada impediu as autoridades de rebentar as portas das casas e levar os parcos haveres desta gente simples, que na sua maioria se refugiou nos montes e aldeias em redor. Mesmo assim, os populares não aceitaram esta injustiça, e a GNR viu-se obrigada a intervir para expulsar os resistentes a 10 de julho do mesmo ano.
Dizem os populares que houve casas queimadas e que se registaram mesmo alguns mortos. Esta foi a primeira vez que tal sucedeu em Portugal: uma população a ser expulsa coletivamente de uma localidade.
Hoje, restam algumas casas, que se encontram abandonadas, e a velha igreja quinhentista, onde diversas gerações se batizaram, casarem e enterraram. Tudo graças a uma mais que discutível e injusta decisão judicial, apenas possível sob o autoritarismo do regime fascista e pela impunidade de uma elite local, que transformou o Colmeal numa aldeia fantasma.
Toda a povoação desapareceu e a maioria dos habitantes fugiu e refugiou-se nas aldeias vizinhas, mas a memória do acontecimento perdurou no tempo e traz-nos uma importante lição.
Mas afinal, porque é que isto aconteceu? Os factos remontam a antes dos anos 40 do século XX, quando um novo “feitor” anunciava que a aldeia já não era foro, mas que devia pagar renda na mesma.
Assim, todos passaram a andar endividados, porque o feitor subarrendatário não pagava a renda há 4 anos àquela que era, de acordo com a escritura de 1912, a nova e legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte.
Ora, as colheitas não davam para comer, quanto mais para pagar ao arrendatário! Além disso, existiam inúmeros impostos, que muito pesavam aos habitantes.
A construção da tramoia começa em meados dos anos 50 do século XX, altura em que Rosa Cunha e Silva, a nova herdeira das terras onde se situava a aldeia, moveu um processo judicial contra toda aquela comunidade, sob o pretexto de que os habitantes do Colmeal (e ao contrário do que até então haviam feito) se recusavam a pagar os foros e rendas devidos pelos trabalhos agrícolas que aí se desenvolviam.
Portanto, o mandato de despejo foi rapidamente e em força posto em prática pela GNR, levando à saída forçada dos habitantes das suas casas, quase sem tempo para reunir os seus poucos haveres.
Muitos tentaram resistir contra a injustiça de lhes quererem roubar a sua aldeia, as suas terras, a sua casa, a sua família, e, no fundo, a sua vida, e acabaram por pagar por isso, tendo sido assassinados e esquecidos pelo poder instalado em Portugal.
Que a sua memória seja um alerta para a impunidade do poder absoluto, sem ter de dar provas ou satisfações a ninguém, e para o que isso pode significar para o povo.
Quando se vive às ordens de um DITADOR, como regime daquele tempo ……… as Leis impostas por essa ditadura, jamais serão esquecidas, embora com muito RANCOR. Tantas e tantas mortas à de um elitista chamado por S…… um governo em curso.