No sopé da Serra da Estrela, Folgosinho impõe-se com discrição. Não tem o peso institucional de outras aldeias históricas, mas guarda em si um património cultural, natural e simbólico que a torna num dos lugares mais marcantes da região.
Entre fontes de pedra, ruínas de castros e tradições orais, esta aldeia do concelho de Gouveia continua a resistir ao tempo — e ao esquecimento.
A sua história funde-se com o mito. Para muitos habitantes, foi aqui que nasceu Viriato, o líder lusitano que enfrentou o domínio romano. E reza ainda a tradição que D. Afonso Henriques terá passado por Folgosinho, guiado por uma misteriosa donzela, atraído pela pureza da água local.
São narrativas difíceis de confirmar, mas que alimentam o imaginário colectivo e ajudam a explicar o vínculo da população à sua terra.
A lenda tem, no entanto, raízes tangíveis. O castelo, reerguido no século XX sobre vestígios de uma fortificação medieval, ocupa o que terá sido um antigo castro lusitano.
Da torre, vê-se uma vasta extensão de serra, pontuada por rebanhos e aldeias dispersas — um território que continua a ser vivido em ritmo lento, longe da pressão urbana.
Folgosinho preserva uma identidade marcada pelo isolamento e pela resiliência. A arquitetura em granito, os rebanhos que ainda pastam nas encostas, as fontes decoradas com azulejos e versos populares — tudo aqui remete para um tempo em que a sobrevivência dependia da ligação à terra e à comunidade.
Nas ruas estreitas, sucedem-se pormenores que escapam à pressa dos visitantes: pelourinhos, igrejas, currais, fornos e pequenas hortas. E mesmo que a modernidade vá, lentamente, deixando a sua marca, o essencial mantém-se.
Folgosinho é também ponto de partida para explorar a serra em várias direcções. A cerca de 20 minutos, Linhares da Beira convida a outra paragem demorada, com o seu castelo medieval e ruas empedradas viradas para o vale do Mondego.
Mais adiante, Videmonte e Sabugueiro mantêm viva a herança serrana, com a arquitectura típica e uma ligação estreita à pastorícia.
Entre Folgosinho e Videmonte, o Baloiço do Faraó tornou-se recentemente uma nova paragem obrigatória. A estrutura, colocada num miradouro natural, proporciona uma vista panorâmica impressionante e um cenário fotogénico junto a uma formação rochosa com forma que lembra a cabeça de um faraó.
É um sinal dos tempos: a natureza e a tradição a entrarem no radar turístico pelas redes sociais.
Mas Folgosinho não vive só de paisagens e lendas. A gastronomia é um dos seus trunfos mais consistentes. Os pratos tradicionais, como o cabrito assado, a feijoada de javali ou o arroz de cabidela, mantêm-se enraizados na cultura local, muitas vezes servidos em casas familiares ou pequenas tasquinhas.
O queijo da Serra da Estrela, o requeijão com doce de abóbora ou o arroz-doce completam a experiência sensorial.
É neste equilíbrio entre memória, autenticidade e resistência que Folgosinho se distingue. A aldeia não se transformou num postal artificial nem se rendeu ao turismo em massa. Continua a ser um lugar vivido por quem lá mora, mas também por quem a visita com tempo e curiosidade.
Num país que se debate com o despovoamento do interior, Folgosinho lembra que há territórios onde a história ainda se escreve — não em monumentos, mas na persistência do quotidiano. E é aí que reside o seu verdadeiro valor.










