O Minho é um local que nos deu diversos símbolos nacionais, por entre danças e cantares do vira, lenços minhotos, galos de Barcelos, caldo verde, ou até no uso popular do cavaquinho. Mas um pequeno objeto em forma de coração chegou ainda mais longe, e é hoje usado um pouco por todo o mundo, sob a forma de colar ou brinco: o coração de Viana.
Convém frisar que, apesar de ter Viana no nome, este não é um exclusivo desta cidade, nem sequer deste distrito. O uso do coração é, numa visão mais ampla, uma tradição minhota, seja do Baixo ou do Alto Minho. O seu fabrico encontra-se hoje ligado a algumas poucas oficinas artesanais, quase todas em Póvoa de Lanhoso ou Gondomar.
Outro “erro” comum associado ao coração de Viana é o seu propósito inicial: este não é um símbolo de amor, mas sim um símbolo de culto e dedicação ao Sagrado Coração de Jesus. Ao que parece, terá sido a rainha D. Maria I a primeira a mandar executar um coração em ouro, grata pela bênção de lhe ter concedido um filho varão.
É claro que esta é apenas uma de muitas versões explicativas, até porque conhecer a origem de tal símbolo é difícil. Há alusões ao Coração de Jesus desde o século VI, mas foi em finais do século XVII que a devoção se tornou oficial, com diversos santos e santas católicas a promovê-la.
Eventualmente, esta devoção poderá ter-se fundido com um costume arcaico das gentes minhotas, o vestir de ouro, que tem fundação em anos remotos, provavelmente pré-cristãos.
Há quem atribua a sua origem aos cultos solares celtas, ou galaico-castrejos, e há quem fale dos fenícios como pais de tal costume. O que é certo é que o uso do coração se enraizou na cultura do noroeste português por via religiosa, fazendo paralelismo com o coração flamejante do imaginário do Sagrado Coração de Jesus, até porque as pinturas e ilustrações em que este se encontra mostram o coração visível do lado de fora e centrado a meio do peito, como se usa o Coração de Viana.
A combinação entre forma (o coração) e a matéria (o ouro) ajudou a transformar a imagem do Coração de Viana num ex-libris da ourivesaria nacional. Hoje em dia, os exemplares em chapa e trabalhados com fios de filigrana são os modelos mais procurados, mas existem também versões feitas de outros materiais, como a prata, ou versões mais orientadas para o marketing turístico, onde se usa matérias-primas mais típicas do sul do país, como a cortiça.
Seja como for, a maioria dos exemplares é adornada com motivos vegetalistas e florais, sendo frequente a parte de cima do coração representar o fogo ou, em alternativa, transformar-se num segundo coração, mais pequeno.
A grande peculiaridade do Coração de Viana é a complexidade do seu interior, onde existem curvas e contracurvas, dando-lhe uma beleza contemporânea e algo festiva, o que não é muito comum, especialmente quando o comparamos a outras tradições nacionais, que são geralmente mais taciturnas.
O que é certo é que o desenho do Coração de Viana conquista cada vez mais apreciadores, tanto dentro como fora do país. E, para além das internacionalizações, o seu desenho, moderno e suave, tornou-se um verdadeiro padrão para o mundo da estética folclórica nacional, servindo de inspiração para os mais diversos artistas, e até de símbolo para os mais diversos eventos, como foi o caso do Euro 2004.
Num mundo cada vez mais apressado e global, usar filigrana portuguesa, do qual o Coração de Viana é um dos seus máximos expoentes, é prestar uma homenagem ao nosso passado, às nossas tradições e à nossa cultura. E para além disso, é sempre um presente original e repleto de bom gosto, que combina com qualquer roupa e é adequado para cada ocasião.