A história de Lisboa enquanto capital de Portugal não começou com um decreto nem com uma cerimónia solene.
Na verdade, Lisboa nunca foi formalmente declarada capital do país – e, no entanto, há mais de sete séculos que desempenha esse papel. Foi uma escolha que resultou da força das circunstâncias, da geografia e da história.
Antes de Lisboa, Portugal teve outras cidades no centro do poder. Guimarães foi a primeira sede do condado portucalense e Coimbra tornou-se capital quando D. Afonso Henriques se proclamou rei, em 1139.
A importância de Coimbra manteve-se durante mais de um século, como cidade régia e centro espiritual do jovem reino.
A conquista que mudou o rumo do reino
Lisboa era, desde o século VIII, uma cidade muçulmana próspera, chamada Lixbuna. Em 1147, durante a Reconquista cristã, D. Afonso Henriques cercou a cidade com o auxílio de cruzados europeus que rumavam à Terra Santa.
A conquista marcou um ponto de viragem: Lisboa tornou-se uma das maiores e mais importantes cidades do reino.
A sua posição geográfica – na foz do Tejo, com ligação direta ao Atlântico – transformou-a rapidamente num centro de comércio e num porto estratégico.
O seu crescimento económico e demográfico foi tal que, em 1255, D. Afonso III decidiu instalar ali a corte. Foi assim, sem qualquer documento formal, que Lisboa passou a ser capital do reino.
Centro do império e palco de mudanças
Lisboa viria a assumir, nos séculos seguintes, um papel determinante na expansão marítima portuguesa. A cidade foi ponto de partida de navegadores e sede das principais decisões do império.
Tornou-se cosmopolita, comercial, multicultural e também política: era ali que se realizavam cortes, se traçavam mapas e se decidia o rumo do país.
A sua história, no entanto, não foi feita apenas de glórias. O terramoto de 1755, seguido de um maremoto e de incêndios, destruiu grande parte da cidade e causou milhares de mortes.
A reconstrução liderada pelo Marquês de Pombal marcou uma nova fase: nasceu uma Lisboa mais moderna, com traçado ortogonal e preocupações urbanísticas inéditas.
Mais tarde, em 1807, a cidade foi invadida pelas tropas de Napoleão. A corte fugiu para o Brasil, que passou temporariamente a ser a sede do império português.
Lisboa ficou ocupada, saqueada, mas não vencida. Com o regresso da monarquia e, mais tarde, com a proclamação da República em 1910, a cidade continuou a ser o centro político do país.
Lisboa no século XX e XXI
Lisboa acompanhou as grandes transformações políticas do século XX, incluindo a Revolução dos Cravos, em 1974, que pôs fim à ditadura e trouxe a democracia.
Desde então, a capital modernizou-se, abriu-se ao mundo e tornou-se um importante centro cultural e turístico.
Hoje, Lisboa é uma cidade que vive da sua história, mas que olha para o futuro. É palco de eventos internacionais, centro da inovação tecnológica, e ponto de encontro de culturas.
Uma capital que nunca precisou de um decreto para ser reconhecida como tal – porque o tempo e a realidade trataram disso.










Massacre de 1506, autos de Fé, dois dos vários horrores que marcam séculos da História da capital e que convém não esquecer.