A meio caminho entre o isolamento geográfico e o esquecimento institucional, o Castelo de Algoso continua de pé.
No topo de um rochedo abrupto, com vista para os rios Angueira e Maçãs, esta fortaleza medieval permanece como um dos mais impressionantes testemunhos da arquitetura militar de Trás-os-Montes — e também um dos menos visitados.
Com quase 700 metros de altitude, o castelo domina a paisagem envolvente de forma quase natural, como se fosse extensão da própria rocha. Mas não se trata apenas de um miradouro privilegiado.
Durante séculos, foi peça central na defesa das fronteiras do reino de Portugal, vigiando os avanços do Reino de Leão e integrando um sistema de comunicação visual entre fortalezas transmontanas.
A origem remonta ao século XII. Terá sido mandado erguer por D. Mendo Rufino, um dos primeiros aliados de D. Afonso Henriques. Pouco tempo depois, D. Sancho I reforçaria a aposta na fortaleza, reconhecendo o seu potencial estratégico.
Com o passar dos anos, o castelo passou para a posse da Ordem dos Hospitalários, e mais tarde da Ordem de Malta, adquirindo não apenas função militar, mas também administrativa — era aqui que se recolhiam os impostos de vastas zonas do nordeste transmontano.
Em dias de céu limpo, era possível ver a partir de Algoso os castelos de Bragança, Miranda do Douro, Mogadouro, Penas Roias e Vinhais.
Esta rede de fortalezas formava um sistema rudimentar, mas eficaz, de alerta precoce. Quando a segurança do reino dependia da velocidade da informação, cada torre contava.
Com a pacificação das fronteiras, o castelo perdeu relevância. O poder administrativo deslocou-se para Vimioso e, já no século XVIII, a fortaleza encontrava-se abandonada. O tempo encarregou-se do resto. O que ficou foi a ruína — e as lendas.
Uma delas fala de uma praga de formigas que devastou a aldeia, forçando a população a descer para o vale. Outra, mais plausível, culpa a escassez de água no topo da falésia. Fosse qual fosse a causa, a verdade é que Algoso foi perdendo população e centralidade.
Hoje, o castelo é um lugar de silêncio e vistas amplas. Visitar Algoso é redescobrir um Trás-os-Montes ainda intacto, onde as marcas do passado permanecem visíveis, mas discretas.
A ponte romana próxima, o pelourinho, as igrejas e capelas da aldeia, tudo parece suspenso num tempo que já não é o nosso — mas que ainda não se perdeu.
A viagem não termina aqui. A poucos quilómetros, Vimioso convida a explorar mais da região. Miranda do Douro surge como alternativa para quem quer mergulhar na cultura mirandesa e no Douro Internacional.
A sul, Mogadouro guarda o Castelo de Penas Roias, outro vestígio de uma época em que a defesa do território era uma prioridade absoluta.
E se a visita coincidir com a floração das amendoeiras, já em Alfândega da Fé, a paisagem transforma-se: colinas áridas vestem-se de branco e rosa, num espectáculo efémero que atrai cada vez mais curiosos.
Em Algoso, contudo, não há pressa. O ritmo continua a ser ditado pela paisagem e pela memória. Para muitos, é apenas mais um castelo entre tantos.
Para quem o visita, é um mergulho inesperado num tempo em que a pedra e a estratégia se confundiam — e em que a defesa de um país passava por lugares como este.










