Há bairros que pedem um mapa. Alfama não é um deles. Aqui, a graça está em deixar-se levar pelas ruas estreitas, pelos cheiros a grelhados, pelas vozes que ecoam das janelas e pelo som do fado que escapa por portas entreabertas.
Alfama é o bairro mais antigo de Lisboa e também um dos mais cativantes. Sobreviveu ao grande terramoto de 1755 e mantém muito da traça medieval: ruelas labirínticas, escadinhas improváveis e pátios escondidos que pedem um olhar atento.
A cada esquina, uma surpresa — uma janela florida, um miradouro inesperado ou um gato preguiçoso ao sol.
O nome vem do árabe al-hamma, que significa “fontes quentes”. E ainda hoje Alfama tem algo de íntimo e acolhedor, como se fosse uma pequena aldeia dentro da cidade. É um bairro onde se conversa da janela, onde se conhece o vizinho do lado e onde o quotidiano se mistura com a história.
Entre o fado, o castelo e as sardinhas
Por estas ruas caminha-se devagar. E ainda bem. É o ritmo ideal para escutar o fado que sai das casas típicas — umas mais turísticas, outras ainda frequentadas por quem ali nasceu.
No mês de junho, Alfama transforma-se: há manjericos, bandeirinhas, marchas e sardinhas a pingar no pão. As festas de Santo António são aqui levadas a sério e o bairro veste-se de cor e cheiro.
Mas há também monumentos que vale a pena revisitar: o Castelo de São Jorge, no alto da colina, com vista para Lisboa e o Tejo; e a Sé, imponente, com quase nove séculos de história entre pedras românicas e claustros góticos.
Cultura em cada esquina
Se quiser saber mais sobre a alma deste bairro, há dois locais obrigatórios. O primeiro é o Museu do Fado, que conta a história da canção lisboeta com guitarras, cartazes, vozes e imagens.
O segundo é o Panteão Nacional, que homenageia figuras da cultura e da política portuguesa e impressiona pela grandiosidade da cúpula e pela vista lá do alto.
Outro ponto de paragem é a Casa dos Bicos, com fachada revestida a pedra talhada em bico, onde hoje funciona a Fundação José Saramago. Pode-se visitar a exposição permanente sobre o escritor e espreitar a livraria no piso térreo.
E se for dia de Feira da Ladra (terça ou sábado), passe pelo Campo de Santa Clara. Entre discos antigos, livros, roupas e quinquilharias, é fácil encontrar algo inesperado. Ou, no mínimo, absorver o ambiente de feira popular que ainda persiste.
O bairro visto de cima
Não saia de Alfama sem parar nos miradouros de Santa Luzia ou Portas do Sol. Os dois oferecem vistas generosas sobre o casario, o rio e os telhados alaranjados. Com sorte, haverá uma esplanada livre para um café ou uma bebida fresca ao pôr do sol.
Alfama é assim: não precisa de pressa, nem de grandes planos. Basta seguir o instinto, entrar por um beco, subir uma escadaria, ouvir uma voz ou seguir um cheiro. O resto vem por acréscimo.










