Há um lugar nos arredores de Tomar onde a pedra desenha o horizonte. O Aqueduto dos Pegões surge de forma quase inesperada no meio da paisagem, atravessando vales, contornando colinas e ligando séculos de história à vista desafogada da natureza.
Foi pensado para servir o Convento de Cristo — esse marco maior do património português — e acabou por se tornar, por mérito próprio, numa das obras mais marcantes da região.
Começou a ser construído no final do século XVI, por ordem de Filipe I, com o traço do arquiteto italiano Filipe Terzi.
O objetivo era claro: garantir o abastecimento de água ao convento, então casa da Ordem de Cristo e centro de poder e influência.
O resultado é uma estrutura com cerca de seis quilómetros de extensão, que parte das nascentes dos Pegões até ao coração do convento. A maior parte do percurso é subterrânea, mas são os dois quilómetros em arcaria que fazem parar quem passa.
Ao todo, são 180 arcos — alguns simples, outros sobrepostos — que se elevam até aos 30 metros de altura, desenhando um cenário tão fotogénico quanto inesperado.
O ponto mais imponente fica na zona dos chamados Pegões Altos. Aqui, é possível caminhar ao longo da conduta — com os devidos cuidados — ou seguir pela base dos arcos, enquanto se observa a envolvência.
O silêncio só é interrompido pelos passos e pelo som dos pássaros que habitam a zona. Não há gradeamentos nem estruturas modernas a cortar a vista: apenas pedra, céu e paisagem.
Ao longo do trajecto, surgem pequenos detalhes que denunciam o cuidado com que a obra foi pensada: as casas das mães-d’água, que protegem as nascentes; as pontes que cruzam estradas e cursos de água; e, já dentro do convento, os tanques que recebiam a água.
Tudo encaixa com um sentido de permanência e utilidade, mesmo depois de ter deixado de cumprir a sua função no século XIX.
O Aqueduto dos Pegões é, hoje, um dos segredos mais bem guardados de Tomar. Fica a poucos minutos do centro da cidade e pode ser explorado a pé, sem pressa.
É daqueles passeios em que o tempo abranda — entre o passado que se adivinha nas pedras e a serenidade que a paisagem proporciona.
Um pedaço de história que se atravessa com os olhos postos no horizonte.










